Entre os ministros indicados para compor o novo governo a partir de 1º janeiro de 2019, está Ernesto Araújo. Diplomata de carreira, Araújo foi escolhido para ser ministro das Relações Exteriores, cargo que já foi ocupado por figuras ilustres da nossa República, como Rio Branco, Otávio Mangabeira e Osvaldo Aranha. Eleitor de Bolsonaro, o novo ministro se destaca por suas ideias, digamos, curiosas. Em seu blog, o futuro chefe do Itamaraty se apresenta dizendo querer “ajudar o Brasil e o mundo” a se libertarem da ideologia globalista”. De acordo com o diplomata, “Globalismo é a globalização econômica que passou a ser pilotada pelo marxismo cultural” (sic), algo que, para ele, é “um sistema anti-humano e anti-cristão”.
Nosso futuro ministro das Relações Exteriores, a pessoa encarregada de tratar com chefes políticos de outros países, é alguém que afirma que o globalismo é “uma ideologia anti-cristã” e como a fé em Cristo significa lutar contra essa ideologia cujo “objetivo último é romper a conexão entre Deus e o homem, tornado o homem escravo e Deus irrelevante”, seu projeto implica em “abrir-se para a presença de Deus na política e na história”.
O texto acima sugeriria que o novo titular do Ministério das Relações Exteriores (MRE) estaria mais próximo de uma eventual pasta criada para Relações Celestiais, mas não é o caso, ao menos por enquanto. Admirador de Trump, a quem atribui a salvaguarda dos valores Ocidentais frente ao malévolo globalismo, o novo Cavaleiro Templário se arvora de erudito, mas não faz mais do que esgrimir platitudes próximas ao que diz o astrólogo Olavo de Carvalho, tão ao gosto do novo governo.
A propósito de sua cruzada em nome da Civilização Cristã Ocidental, trasladada em nacionalismo anticomunista típica da extrema-direita do século XXI, Ernesto Araújo publicou um longo texto de exaltação a Trump nos Cadernos de política exterior, uma publicação vinculada ao MRE. No texto, Araújo observa que ao defender o Ocidente do comunismo, os EUA acreditaram que o trabalho estava feito e que seria o fim da história, mas “nada acabou”, pois a partir dos anos 1990 “foi-se vendo que o niilismo (alimentado pelo marxismo cultural) tinha‑se substituído ao inimigo comunista” e que, “o comunismo soviético era apenas uma entre tantas máscaras desse niilismo” que, segundo ele, precede a Lenin, Stálin, Marx e Nietzsche, poios vem “dos philosophes ateus anticristãos que prepararam a revolução francesa”.
Anacronismos e disparates à parte, estamos próximos de deslanchar uma nova e catastrófica cruzada contra os infiéis. E para quem se indignou com as desastradas declarações que levaram ao rompimento com os médicos cubanos, deve prestar atenção a China, nosso principal parceiro comercial, governando por um partido comunista e com religião predominantemente budista. Com um ministro desses, nem Jesus na causa.
* Artigo publicado originalmente no jornal A Tarde, de Salvador, BA
FOTO: Valter Campanato/Agência Brasil
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