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BRASIL

Ricardo Velez Rodrigues no MEC: mais um capítulo na disputa entre a bancada evangélica e os liberais no governo Bolsonaro

Por: Vinícius Prado, do Paraná

Bolsonaro anunciou, via twitter, na noite do último dia 22, a indicação do professor colombiano Ricardo Velez Rodrigues para comandar o Ministério da Educação. Esta indicação representa uma vitória da bancada evangélica e dos setores mais atrasados da base de apoio a Bolsonaro, que barraram indicações como Mozart Ramos, do Instituto Ayrton Senna, que era bancado por setores liberais.

Bolsonaro vem, há alguns anos, desde que iniciou sua corrida à Presidência da República, buscando construir um discurso que, como ele mesmo já definiu, é “conservador nos costumes, e liberal na economia”. Trata-se, porém, da junção de duas concepções ideológicas que, em alguns momentos, vão inevitavelmente se chocar.

Correntes do liberalismo clássico, ou até mesmo o neoliberalismo, prezam pela defesa das liberdades individuais, por isso é comum vermos setores liberais defendendo pautas como descriminalização das drogas, direitos da comunidade LGBTI, direitos das mulheres, defesa das liberdades democráticas e dos direitos humanos de uma forma geral.

O conservadorismo nos costumes, por sua vez, se sustenta justamente em atacar direitos das minorias, liberdades individuais e os direitos humanos. Aliás foi baseado neste discurso, com apoio massivo de igrejas neopentecostais, que Bolsonaro angariou boa parte de seu eleitorado.

E é nesse sentido que se construiu a reação à primeira indicação da ala conservadora da base do governo Bolsonaro em relação à possível indicação de Mozart Ramos para o Ministério da Educação. Ramos é um homem do mercado, liberal e agradaria em cheio os tubarões do ensino privado, além de ser diretor do Instituto Ayrton Senna, o que traria também um pouco do prestígio popular que a ONG que leva o nome do ex-piloto de fórmula 1 tem para seu governo.

Mozart, porém, não teria nenhum compromisso com pautas conservadoras, como a menina dos olhos da bancada evangélica, o projeto “Escola Sem Partido”, e o combate à “Ideologia de Gênero”, pautas que são caras à ala mais conservadora da base do Bolsonaro, pois foram centrais no discurso de campanha de ódio contra a esquerda, e que agora precisam avançar para não perderem credibilidade diante de suas bases eleitorais.

Diante disto, a bancada evangélica emplacou a indicação de Ricardo Velez Rodrigues, professor colombiano, graduado em Filosofia e Teologia e mestre em Filosofia, opositor do Enem e defensor do “Escola sem Partido”, atualmente professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião da UFJF.

Nessa queda de braço, a ala liberal tende a ter maior tendência a ceder, pois, em certa medida, as pautas conservadoras, em alguns casos, mesmo os que beiram ao absurdo, podem cumprir um excelente papel de cortina de fumaça frente à opinião pública, enquanto a opinião pública e a mídia centra sua cobertura em absurdos propostos por gente como o novo ministro da educação, que já propôs que escolas comemorem o golpe de 64, ou ainda que escolas tenham conselho de ética para fiscalizar desvios morais de professores. Os liberais centram-se no que é realmente importante para eles, a pauta econômica, com as reformas e ataques aos direitos da classe trabalhadora. Sem contar que precisam dos votos dos conservadores no Congresso para avançar nestas pautas.

Resta saber até quando a ala liberal cederá para os conservadores em troca de construir uma cortina de fumaça e garantir votos no Congresso. Até que ponto esse embate entre interesses divergentes se manterá equilibrado? E quando não houver equilíbrio, terá o governo “jogo de cintura” para contornar, ou isso impactará em perda de apoio no Congresso? Aguardemos as cenas dos próximos capítulos desse embate que deve perdurar por tanto tempo quanto Bolsonaro permanecer no governo.

*Vinícius Prado é historiador e mestre em educação, atua como trabalhador da educação na rede pública estadual do Paraná e é membro do Conselho Estadual da APP-Sindicato. Membro da Executiva Estadual da CSP-Conlutas PR e da Executiva Estadual do PSOL Paraná.

 

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