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BRASIL

Conheça quem está por trás das ideias de Bolsonaro

Por: Gibran Jordão, do Rio de Janeiro/RJ

Sem Lula disputando a eleição presidencial, é Jair Bolsonaro, do PSL, que vem liderando as pesquisas de intenção de votos. Há uma parte desse eleitorado que está simpático a campanha de Bolsonaro porque está indignada com a atual situação do país. Com boas intenções, mas com falta de perspectiva e descrença na política, esse eleitorado começa a olhar para Bolsonaro porque quer ver diminuir o desemprego. Estão preocupados com a violência das grandes cidades e querem um país com uma economia que dê oportunidades para a maioria do povo viver com dignidade. Mas será mesmo que todo mundo que simpatiza com a candidatura de Bolsonaro conhece e compreende o seu projeto político?

Erram aqueles que dizem que Bolsonaro é “burro e não sabe de nada”, “ele não tem projeto”, “vai cair nas pesquisas em breve”. Tratar Bolsonaro e seu simpatizantes somente com piadas não vai elevar o debate ao nível que precisamos para entender suas ideias. Embora muitos eleitores de Bolsonaro estejam cegos pelo fanatismo político, há muita gente aberta ao debate, que não tem certeza que vá mesmo votar em Bolsonaro.

É preciso mostrar que o projeto político de Bolsonaro não atende aos interesses da maioria do povo trabalhador brasileiro. Pelo contrário, é um projeto que tem nome e endereço, que ganha conexão internacional e que está a serviço dos interesses do mercado de capitais e dos setores da ultra direita mundial. É a aliança do liberalismo econômico com o conservadorismo no comportamento social e costumes.

Esse artigo tem o objetivo de ajudar a acender uma luz para quem ainda está em dúvida em quem votar e para aqueles que simpatizam com o fenômeno Bolsonaro entenderem melhor o que significa o seu projeto político.

PILARES DO PROJETO BOLSONARO 2018
Não é possível entendermos o projeto político que está por trás da candidatura de Bolsonaro se não estudarmos com quem o mesmo está associado, quem são os seus parceiros, e o que andam defendendo publicamente para o Brasil. Há três nomes associados a campanha de Bolsonaro com diferentes funções, mas que convergem num mesmo projeto. A indicação do General Mourão para vice-presidente, de Paulo Guedes para ser o homem da economia e a assessoria de Steve Bannon, ex-estrategista de Trump, são relevantes para entendermos o que seria efetivamente um possível governo Bolsonaro. Vamos conhecê-los.



1 – Hamilton Mourão, general, candidato à vice-presidente da República

General Hamilton Mourão“O país herdou a indolência do índio e a malandragem do negro”
(primeira declaração pública após ser indicado como candidato a vice-presidente da República)

O general Antônio Hamilton Mourão comandou o maior efetivo militar do país, o comando Militar do Sul, que representa um quarto do efetivo brasileiro, reunindo Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O general golpista vem defendendo no último período a necessidade de uma intervenção militar no país e foi eleito recentemente presidente do Clube Militar.

O Clube Militar é uma instituição histórica e é composta por militares do Exército, Aeronáutica e Marinha. Teve uma participação ativa no golpe de 1964 e vem no último período tendo iniciativas ousadas com o objetivo de disputar para valer a política no país. Em outubro de 2017, a revista Sociedade Militar, seu principal órgão de imprensa, publicou uma matéria que antecipava a vitória de Mourão à Presidência do Clube Militar e o projeto político dos militares em participar ativamente da vida política do país:

“Apoiado pelo General Pimentel e com o prestígio que possui, acredita-se que dificilmente Mourão deixará de vencer as eleições para a presidência do Clube. É provável que sua candidatura até desestimule a formação de outras chapas… Diante do crescimento da crise política em nosso país, sob a batuta de MOURÃO o Clube Militar tende a ser mais ousado ainda do que tem sido e – como já propusera um dos candidatos em 2014 – é provável que chegue até a citar seus candidatos preferidos para ocupar cadeiras na Câmara Federal e no Senado e, quem sabe, para a Presidência da República.”

Hamilton Mourão vem ativamente organizando e reunindo com militares em todo o país para disputar as casas legislativas. Querem formar grandes bancadas militares tanto nas assembleias estaduais como no Congresso Nacional.

Em almoço na Câmara de Indústria e Comércio de Caxias do Sul, no dia 06 de agosto, após já estar oficialmente candidato a vice-presidente da República, Mourão atribuiu a dificuldade do Brasil se desenvolver à herança cultural do Brasil, que estaria prejudicado porque “herdamos a indolência (preguiça, desleixo) do índio e a malandragem (possível falta de caráter) do negro”. Nessa mesma reunião defendeu a privatização da Petrobrás…

São declarações categóricas, que expressam o racismo e o preconceito aos povos originários. Como representante das Forças Armadas de um país, nota-se o contraditório desprezo pelo fortalecimento da soberania nacional e desinteresse para defender a indústria nacional frente as grandes potências mundiais.

Um governo que se apoia nessas ideias não atenderia aos interesses da maioria da população brasileira, pois a maioria tem na sua conformação a mistura cultural de negros e índios. Essas duas etnias tiveram comunidades, tribos, famílias e vidas inteiras destruídas para construir o país que temos hoje. E são insultados, humilhados pelas palavras do candidato a vice-presidente da chapa que lidera as pesquisas. As pobres famílias beneficiárias da política de cotas podem esperar o que de um governo Bolsonaro/Mourão?

Em relação a venda da Petrobrás, este jamais foi o desejo da maioria do povo brasileiro. Se há um desejo nacional para que o nosso país não seja uma colônia das grandes potências, se queremos ter orgulho de nossa soberania e se ter um futuro independente economicamente, vender o patrimônio público nunca foi a saída. Toda a produção de petróleo brasileiro sob o comando de multinacionais é colocar o país de joelhos na disputa mundial por recursos energéticos, que são estratégicos para a economia de qualquer país. Ver um militar de alta patente defender a venda do patrimônio de uma nação é ver um covarde de farda. Essa não pode ser a nossa história e não pode ser o nosso futuro!

O povo brasileiro não pode ver com bons olhos um governo e o Congresso Nacional com tanta influência dos militares. Essa página traumática já foi virada em nossa história. Não queremos a volta da censura, da violência contra as manifestações, do sufocamento das liberdades democráticas e da política sendo influenciada pelos canhões das forças armadas. Se você dá importância real a palavra liberdade, é melhor começar a trabalhar para não eleger a chapa Bolsonaro/Mourão. Já são milhões de assassinatos e mortes por conflitos violentos entre forças armadas e a população no país. Essa política autoritária vai gerar mais conflitos sociais, não gera confiança econômica no país, não vai contribuir para gerar empregos e desenvolvimento e vai aprofundar a tensão social. Queremos pão e paz, e não fome e guerra!



2 – Paulo Guedes, economista, o homem de Bolsonaro responsável pela economia

Paulo Guedes“Se eu tivesse que fazer uma única mudança seria a reforma da Previdência, porque o déficit sobe de R$ 50 bilhões para R$ 80 bilhões num ano, para R$ 130 bilhões no outro, é uma bola de neve que vai explodir o Brasil inteiro.”

(Paulo Guedes, Folha de São Paulo, 2017)

Paulo Guedes não é só um simples economista, é um banqueiro que atua no mercado de capitais, colunista da revista Época e do jornal O Globo. Fundador do Banco Pactual, sócio do grupo Bozano, ambos investigados pela Justiça federal por corrupção e pela própria operação Lava Jato. É um defensor entusismado da reforma da Previdência, da retirada de direitos dos trabalhadores através da reforma trabalhista e da privatização geral de todas as estatais que existem no país. Não há nenhum exagero nessas informações, em uma simples pesquisa pode-se facilmente constatar o conteúdo de suas ideias. Em resumo, nenhuma novidade do que já existe no Brasil.

A defesa dessas ideias é coerente com o seu pensamento ultra liberal, formado na Universidade de Chicago (centro mundial de elaborações das ideias liberais). As ideias liberais levadas até as últimas consequências, como quer Paulo Guedes, vão destruir direitos sociais, restringirão o acesso ao ensino público e gratuito, vai acabar com as cotas nas universidades, vai fazer desaparecer todo o programa que ainda resta de proteção social dos mais pobres, vai privatizar o SUS e entregar a saúde pública nas mãos do mercado e dar continuidade ao congelamento dos investimentos sociais feito por Temer. Afinal, é um entusiasta da aprovação da Emenda Constitucional 95, que proíbe investimentos na saúde, educação e assistência por vinte anos. O resultado é mais crise social, desemprego e violência.

Assim, é possível que os especuladores, banqueiros e agentes do sistema financeiro terão como ganhar ainda mais dinheiro. Não há preocupação com o ser humano no programa econômico defendido por Paulo Guedes, a única preocupação é com os lucros e dividendos que pode se extrair da economia brasileira, até porque ele é um banqueiro, esse é o seu currículo, essa é a sua história de vida: ficar rico com especulação no mercado de capitais.

O Brasil viveu a era das privatizações com FHC, o país quebrou, gerou milhões de desempregados e a dívida pública não diminuiu, só aumentou. A receita de Paulo Guedes não passou na prova da história nem aqui e nenhum lugar do mundo, pois até os EUA, que é um exemplo de país com ideias liberais, em todas as suas recorrentes crises, recorreu ao estado, que teve que intervir. Se você quer dar um voto que tire o país da crise econômica, não será votando em Bolsonaro e em suas bravatas que iremos sair dessa. Pense no futuro de sua família e de seus filhos.

O governo de FHC fez uma reforma da Previdência nos anos 1990, assim como Lula também fez em 2003, ambas as reformas tiraram direitos dos trabalhadores, fortaleceram o mercado da previdência privada e não reduziram a dívida pública, que hoje passa dos R$ 3 trilhões. Temer tentou de todas as formas aprovar uma nova reforma da Previdência e não conseguiu, os trabalhadores foram à luta porque sabem que a reforma da Previdência só vai fazer o povo brasileiro trabalhar até morrer. Porque essa mesma fórmula funcionaria num eventual governo Bolsonaro? É evidente que a Previdência social não é a vilã das contas públicas, é um direito social que não deve ser revogado. Paulo Guedes só está tentando enganar o eleitor, a verdade é que ele está defendendo sua classe e os interesses do sistema financeiro. Afinal, ele é um banqueiro, só é rico porque vive do mercado de capitais, especulando na bolsa de valores. Porque ele não propõe taxar as grandes fortunas, os lucros e dividendos do sistema financeiro?


3 – Steven Bannon, ex-estrategista de Donald Trump, é apoiador de Bolsonaro

Steven Bannon“O que vem é o populismo de direita.
Isso governará”
(em entrevista ao jornal The Daily Beast)

O filho de Bolsonaro esteve com Bannon essa semana na cidade de Nova York, e postou nas redes sociais a seguinte declaração:
“Conheci hj Steve Banoon, estrategista da campanha d Trump @realDonaldTrump .Conversamos e concluímos ter a mesma visão de mundo. Ele afirmou ser entusiasta da campanha d Bolsonaro e certamente estamos em contato p somar forças, principalmente contra marxismo cultural.”

Bannon foi uma dos quadros políticos que dirigiu a campanha de Trump, sob elogios de ex-líderes da Ku Klux Klan e críticas de setores da própria direita republicana por ser radical demais. Depois foi convocado para trabalhar na Casa Branca. Antes de se envolver na campanha de Trump, era responsável por um site de notícias chamado Breitbart News. Segundo a ONG Southern Poverty Law Center, que monitora crimes de ódio dos EUA, Bannon é principal responsável pela transformação do Breitbart News numa “máquina de propaganda racista e nacionalista branca”.

Essa conexão com aliados do presidente dos EUA, Donald Trump, não é uma coincidência qualquer. Há um projeto internacional coerente com as ideias que estamos criticando nesse texto. Como Bolsonaro tem um projeto entreguista, autoritário e que quer levar o país na marra para o caminho da recolonização. Nada mais justo que se aliar com o estrategista de Donald Trump, pois enquanto o governo americano protege os interesses de seu próprio país, Bolsonaro faz o movimento contrário, entrega toda a nossa riqueza para o império, com a ajuda de seus próprios assessores.

O ex-estrategista de Trump, que criou a expressão: “América em primeiro lugar”, só poderia ajudar a eleger um presidente no Brasil que estivesse a serviço dos interesses dos poderosos dos EUA e não dos interesses do povo brasileiro. Nesse marco, não é possível acreditar que Bolsonaro é uma alternativa que leve o Brasil a um dia se tornar uma grande potência, capaz de atuar no mercado mundial com soberania. Bolsonaro é um atalho para transformar o Brasil numa colônia dos EUA, no qual sejamos humilhados todos os dias para atender os interesses da economia norte americana que está preocupada com as disputas que precisa travar com Rússia e China pela hegemonia do mercado mundial.

 

Um convite à reflexão
Antes que você diga que esse texto é de um petista incorrigível. Quero contrariar o padrão, nunca fui petista, ajudei a dirigir greves contra governos do PT, embora defenda que Lula tem o direito de disputar a presidência da república, não votarei em nenhum candidato do PT nessa eleição. Mas acho que todo mundo que está preocupado com a situação que está o país precisa abrir o diálogo com tod@s, inclusive com quem está pensando em votar na ultra direita. E uma boa iniciativa é demonstrar que Bolsonaro é uma farsa midiática.

Seja esperto(a), não deixe se seduzir por um discurso que não aguenta uma breve análise dos fatos. Está mais do que provado que Bolsonaro não é diferente de tudo que está aí, que os seus parceiros carregam ideias que não são novas, que já foram testadas e não passaram na prova da história.

O Brasil não vai mudar pra melhor com um governo que quer privatizar o patrimônio público, destruir direitos sociais, que quer você trabalhando até morrer com a reforma da Previdência, que quer resolver o problema da violência com mais violência e que vai fortalecer a campanha contra as mulheres, negras/negros e a comunidade LGBT.

Pense nos seus amig@s, nos seus filh@s e na sua família, veja a história do nosso país, abrace a ideia de um país com diversidade e sem preconceito, reflita sobre a importância de termos um país com menos guerra social e mais empregos, com menos murro na mesa e mais ideias, com mais oportunidades para os mais pobres e mais obrigações para quem é rico. Se você é trabalhador ou pequeno empreendedor e sabe que até hoje os governos estão a serviço dos ricos e poderosos, por tudo que apresentamos ao longo desse texto, é possível perceber que com Bolsonaro não será diferente.

 

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