Para expressar em uma palavra, 2017 foi um ano intenso. Em que pese a continuidade da recuperação da economia mundial, o que afeta a conjuntura, ainda não há perspectivas de um novo ciclo de crescimento – nem mesmo ao estilo do boom das commodities dos anos 2000.
Por Editoria Internacional
Marcado pela continuidade da ofensiva reacionária no mundo, começando pela posse de Trump e suas medidas, pela continuidade da situação dramática dos milhões de refugiados na Síria e no Iêmen, pelo papel crescentemente bonapartista de muitos governos como os de Erdogan na Turquia; pelo aumento das tensões geopolíticas, com o Oriente Médio e a península coreana como pontos mais altos; com a afirmação oficial pelo Congresso do Partido Comunista da China do papel do país como potência mundial ascendente sob a liderança cada vez mais centralizadora de Xi Jinping; pela sequência de ataques aos direitos dos trabalhadores e da juventude, com leis que parecem copiadas umas das outras, como as contrarreformas trabalhistas, previdenciárias e privatizantes; pelo avanço das correntes de extrema-direita pelo mundo, embora este avanço tenha sido mediado pela melhora relativa da situação econômica.
Mas também com a resistência das massas em muitos lados que mostra os limites que esta ofensiva reacionária está encontrando, como na Argentina, Venezuela, França e Honduras. Como nos protestos em todo o mundo árabe e muçulmano pelo reconhecimento por Trump de Jerusalém como capital de Israel. Com novos picos da questão nacional como canalização da insatisfação social nos mais variados lugares, como a Catalunha e o Curdistão. Com um novo pico nas lutas das mulheres, com lugar muito destacado para o massivo 8 de março nos EUA e a marcha mundial das mulheres no mesmo mês. Com a luta ativa contra a extrema-direita, o racismo e a islamofobia nos EUA e na Europa.
E o ano parece que teima em terminar com as manifestações contra o indulto ao monstro Fujimori no Peru e as imagens de Ahed Tamimi, a menina palestina que foi presa de forma indefinida por enfrentar com um tapa a um soldado da ocupação israelense.
Relembre os principais acontecimentos no mundo em 2017
Trump assume a presidência dos EUA prometendo grandes mudanças na política nacional e externa americanas. O Esquerda Online deu extensa cobertura aos seus planos e medidas, começando pela posse no dia 20 de janeiro.
Uma rara cena: reunificação familiar de refugiados sírios que conseguiram furar o cerco cada vez mais implacável que o governo Trump impôs aos refugiados de países em que os muçulmanos são maioria. Aeroporto de Chicago, dia 07 de fevereiro.
Imagem: Joshua Lott/Gettyimages
Batalha para expulsar o autodenominado Estado Islâmico em Mosul massacra civis, dia 04 de março.
Imagem: Goran Tomasevic/Reuters
Oito de Março: Um dia sem mulheres. Seguindo uma convocação internacional, milhões de mulheres tomaram as ruas e realizaram greves. Ocorreram cerca 673 marchas em 81 países. Nos EUA e na Argentina as manifestações foram gigantescas.
Imagem: Francis Malasig/EFE
As eleições na Holanda deram a vitória à direita e fortaleceram a extrema-direita de Gert Wilders que se tornou o segundo maior partido do país; dia 15 de março.
Gigantesca marcha das mulheres contra Trump em centenas de cidades dos EUA. Washington; dia 22 de março.
27 de março: Início da Greve Geral na Guiana Francesa com a participação dos sindicatos, coletivos e associações comunitárias e políticas. Ocorreram bloqueios de estradas, paralisações do funcionalismo, entre outras manifestações. No dia 21 de abril, o governo francês fechou um acordo no qual prometia maior investimento em infraestrutura e em políticas sociais na região.
No dia 29 de março, a primeira-ministra da Inglaterra, Theresa May, invocou o artigo 50 concretizando a saída do Reino Unido da União Europeia. No dia 8 de dezembro, o Reino Unido e a União Euriopeia anunciaram um acordo para concretizar o processo de retirada do país do bloco.
Imagem: Mike Kemp/ Getty Images
31 de março: O parlamento paraguaio aprovou emenda constitucional que permite a reeleição de presidentes que estejam no poder ou tenham exercido o poder. Manifestantes contrários ocuparam o parlamento e atearam fogo em uma ala da casa.
02 de abril: Vitória do candidato governista Lenin Moreno nas eleições presidenciais do Equador. Em setembro, Moreno rompeu a aliança política com o ex-presidente Rafael Correa.
6 de abril: Os Estados Unidos realizam um ataque massivo com 59 mísseis Tomahawk contra a base área de Shayrat na Síria. O ataque foi uma resposta a um suposto ataque químico pelo presidente Sírio Bachar Al-Assad. A eficiência do ataque foi considerada baixa por especialistas.
Imagem: Pentágono
A tragédia dos refugiados continuou. Migrantes na costa da Líbia; 14 de abril.
Imagem: Darrin Zammit Lupi/Reuters
16 de abril: Vitória do “Sim” no referendo turco amplia os poderes do presidente conservador Recep Erdogan caminhando para um regime cada vez mais bonapartista. A vitória foi bastante apertada, 51% contra 49%.
29 de abril: Marcha do Povo pelo Clima levou às ruas centenas de milhares de pessoas em 25 países, em defesa de justiça climática, contra o aquecimento global e outras consequências ecológicas da economia capitalista. O epicentro dos protestos foi nos EUA, onde houve protestos em mais de 370 cidades.
07 de maio: Em eleições bastante concorridas, o candidato neoliberal Emmanuel Macron venceu a candidata da extrema-direita Marine Le Pen no segundo turno na França. Nas eleições legislativas de junho, Macron obteve ampla maioria, numa eleição marcada por um alto nível de abstenção: mais de 57% dos eleitores não votaram.
Imagem: Jean-François Monier/AFP
Após visita de Trump em 20 de maio, Arábia Saudita lança bloqueio contra o Emirado do Qatar, causando a maior crise entre os países que formam o Conselho de Cooperação do Golfo.
01 de junho: Trump anuncia a retirada dos EUA do Acordo de Paris que previa a redução da emissão de CO².
Imagem: The New York Times/Chappatte
Milhares se manifestam em Rabat, capital do Marrocos, pela libertação dos presos da região do Riff, que protestam contra a monarquia de Mohammed VI; 11 de junho.
08 de junho: Eleições britânicas dão vitória apertada para Teresa May, com uma surpreendente votação do líder trabalhista Jeremy Corbyn. Imagem do discurso de Corbyn no Glastonbury Festival, em 26 de julho.
Ocorreu em Hamburgo, Alemanha, entre os dias 6 e 8 de julho, a reunião do G20. As manifestações foram massivas contra a cúpula de presidentes, reunindo mais de 70 mil no último dia. Houveram diversos enfrentamentos.
Imagem: Leon Neal/Getty Imagens
Palestinos enfrentam as tropas de ocupação em Jerusalém Oriental em protesto contra a imposição de revista individual dos que desejavam rezar na mesquita de Al-Aqsa; 21 de julho.
Manifestação contra o assassinato indiscriminado de milhares de pessoas desde a posse do presidente Duterte, nas Filipinas; 21 de julho.
O chavismo ganha as eleições para a Assembleia Nacional Constituinte na Venezuela, em 30 de julho.
05 de agosto: O Mercosul suspende a Venezuela do bloco econômico, demonstrando a submissão política do governo Temer e de Macri na Argentina às políticas imperialistas.
Imagem: Alan Santos/Revista Veja
12 de agosto: Em resposta a um encontro da extrema-direita, militantes antifascistas protestaram na cidade de Charlottesville nos EUA. Uma militante antifascista, Heather Heyer foi atropelada e morta por um militante da extrema direita que deixou também várias pessoas feridas.
Imagem: Joshua Roberts / Reuters
12 de setembro: Primeira manifestação contra a Reforma Trabalhista de Emannuel Macron na França reuniu mais de 400 mil pessoas em todo país. Um ciclo de manifestações foi desencadeado contra a reforma, incluindo uma greve geral do funcionalismo público em 10 de outubro. Apesar dos protestos, a reforma foi aprovada.
A temporada dos furacões causa um recorde de destruição sobre o Caribe no mês de setembro, reforçando o debate sobre os efeitos calamitosos das mudanças climáticas. Porto Rico foi particularmente devastado pelos furacões Irma e Maria, somando-se aos estragos causados pela crise da dívida que levou a um programa de austeridade sem precedentes na ilha-colônia americana.
Imagem: Jose Romero/NASA/GOES Project/AFP
Mãe carrega bebê morto na limpeza étnica que expulsou mais de um milhão de etnia Rohyngia em Myanmar, 14/09, nas costas de Bangladesh.
Imagem: Mohammad Ponir Hossair/Reuters
Eleições na Alemanha registram queda do apoio a Angela Merkel, afundamento do Partido Social Democrata e entrada dos neonazistas pela primeira vez no Bundestag desde a Segunda Guerra Mundial; 24 de setembro.
25 de setembro: Vitória do “Sim” no referendo pela independência do Curdistão com 92,73%. A participação foi de aproximadamente 70%. Após o referendo, o governo iraquiano pressionou o governo regional e o presidente regional, Massud Barzani, renunciou ao seu cargo em 29 de outubro.
Imagem: Hammed/AFP/Getty Images
Referendo na Catalunha em 1º de Outubro dá ampla vitória pela independência da região. A declaração de independência foi realizada de maneira unilateral (e suspensa no mesmo ato), porém o governo espanhol de Mariano Rajoy destitui o governo e convocou eleições regionais para dezembro.
Vários massacres foram perpetrados pelas forças repressivas na Colômbia após a assinatura do Acordo de Paz com as FARC e a entrega das armas do grupo guerrilheiro. Na imagem, o ocorrido na cidade de Nariño no dia 05 de outubro.
14 de outubro: Atentado com caminhão bomba na em Mogadíscio, capital da Somália, deixa mais de 300 mortos. É considerado o maior atentado da história do país.
Eleições legislativas na Áustria, levam direita nacionalista e extrema-direita ao governo; 15 de outubro.
22 de outubro: Vitória eleitoral da coligação governista do primeiro-ministro japonês Shinzo Abe. Ele antecipou as eleições que tiveram baixa participação (53%), porém obteve 313 das 465 cadeiras do parlamento, suficientes para obter a “super-maioria” para modificar a chamada “cláusula pacifista” da constituição.
Na Argentina, Macri ganha a primeira minoria nas eleições legislativas e a esquerda socialista consegue mais de 1 milhão e duzentos mil votos, por meio da Frente de Izquierda y de los Trabajadores (mais de 90% do total) e a Izquierda Al Frente; 24 de outubro.
05 de novembro: Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro da Arábia Saudita, a principal produtora de petróleo do mundo, realiza golpe palaciano. Presas cerca de 200 de pessoas, entre membros da família real e alguns dos homens mais ricos do país.
Deliberações do 18º Congresso do Partido Comunista da China, entre 8 e 14 de novembro, anunciam a nova política chinesa para se afirmar como grande potência e a centralização ainda maior do poder na liderança de Xi Jinping.
Imagem: Johannes Eisele/AFP/Getty Images
Fraude nas eleições em Honduras, 26 de novembro, gera levante popular, com mais de trinta mortos. Quase um mês depois, o candidato opositor, Salvador Nasralla, com receio do movimento, aceita o diálogo, lançado pelo governo, apoiado pela Organização dos Estados Americanos e pelos Estados Unidos.
Imagem: Task Force on the Americas
Tribunal Constitucional da Bolívia autoriza reeleição de Evo Morales pela terceira vez em 29 de novembro.
Imagem: Danilo Balderrama/Reuters
Manifestações em muitas cidades em todo o mundo contra a decisão de Trump de reconhecer Jerusalém como capital de Israel, avalizando a sua anexação. Imagem de milhares de pessoas protestando em Washington.
Extrema-direita europeia reúne-se em Praga em 15 de dezembro e procura unidade anti-islâmica e anti-imigração.
Direita ganha eleições no Chile em 17 de dezembro, mas a novidade foi a Frente Ampla, de esquerda, cuja candidata Beatriz Sánchez conseguiu 20,27%, ficando a 2% de ir para o segundo turno.
Cyril Ramaphosa, bilionário, ex-dirigente sindical, é eleito como presidente do Conselho Nacional Africano, da África do Sul em 18 de dezembro. Ele está diretamente implicado no Massacre de Marikana em que 34 mineiros de platina foram assassinados em 2012, é eleito como presidente do Conselho Nacional Africano, da África do Sul.
Manifestações massivas na Argentina contra a Reforma da Previdência. No dia 14, as manifestações haviam conseguido cancelar a votação no parlamento, no entanto, a reforma foi aprovada no dia 19 de dezembro.
21/12: Vitória dos independentistas nas eleições regionais da Catalunha, apesar de que o primeiro lugar ficou com Ciudadanos, 25% dos votos, força política contrária a independência.
Imagem: Jeff J Mitchell/Getty/Atlas
Depois de receber os votos decisivos contra seu impeachment por parte da ala liderada pelo filho de Fujimori, o presidente Pedro Pablo Kuczynski, do Peru, indulta no Natal o ex-ditador. A resposta popular foi imediata com grandes manifestações.
A última imagem do ano é a de Ahed-Tamimi(E), a corajosa adolescente palestina que representa a nova geração que luta contra a ocupação e dominação de seu povo por Israel. Pelo “crime” de dar um tapa no rosto de um soldado armado até os dentes no dia 22, ela segue presa de forma indefinida, sem acusação formal, prática comum na Cisjordânia.
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