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Ocupa tudo contra a casa grande golpista: negr@s resistem

Por: Martina Gomes, de Porto Alegre, RS

“Vidas Negras importam!”, ecoa o grito de Norte a Sul das Américas. A crise econômica mundial iniciada em 2007 e 2008 nos EUA continua sem perspectivas de fim e chegou com toda força ao Brasil. A necessidade de recompor a taxa de lucro da burguesia tem como consequência direta o aumento da exploração e o ataque a direitos dos trabalhadores. Neste caso, o plano para a população negra, com a aplicação dos planos de ajuste fiscal são ainda mais perversos, e incluem um rebaixamento de direitos e de acesso a investimentos sociais.

Ajuste na ‘carne mais barata’
Nos primeiros meses de 2015, com a narrativa da necessidade de ajuste para superar a crise econômica, a então presidente Dilma iniciou duros cortes nas áreas sociais e nos programas de benefícios que atingiram em especial as parcelas mais dependentes, como as mulheres negras. O aumento para ter o direito ao benefício do seguro-desemprego, de seis meses para um ano e meio, fez com que todos que vivem de setores de alta rotatividade, tais como a terceirização e o telemarketing, fossem duramente afetados na sua condição salarial.

As mobilizações reacionárias, brancas e de classe média alta que começaram em março de 2015 eram mobilizações da casa grande. Os negros e negras não se identificaram com os atos que queriam a diminuição de direitos. O processo de ascensão da burguesia, que culminou com a consumação do impeachment de Dilma Rousseff (PT) em setembro de 2016, abriu uma conjuntura de ataques brutais a direitos históricos dos trabalhadores, na qual nos encontramos hoje. O PT ,ao governar em colaboração de classes com a burguesia, abriu as portas para um governo ainda mais entreguista e que ataca ainda mais os direitos dos trabalhadores.

Neste cenário, o governo golpista de Temer, já em seus primeiros seis meses, vem demonstrando que pretende governar integralmente para os donos da Casa Grande e seus aliados da burguesia internacional. Nos últimos meses, os índices de desemprego aumentaram vertiginosamente, já são 12 milhões de desempregados (11,8%), segundo dados do IBGE e o trimestre de junho, julho, agosto de 2016 aumentou em 5,1% o número de desempregados em comparação aos três meses anteriores .Isto já representa a maior série histórica de aumento dos índices de desemprego.

O plano do governo Temer é aplicar um plano de ajuste fiscal para impedir o aumento dos investimentos em áreas como educação e saúde públicas pelos próximos 20 anos, esse é o significado da PEC 55 (antiga PEC241). A aprovação, pela via judicial, com auxílio do STF, das mudanças nas terceirizações é mais um passo em direção à redução dos direitos trabalhistas e da qualidade dos serviços de atendimento à população. O governo golpista tem entre os seus projetos fazer, ainda, as reformas da Previdência e Trabalhista.

As conquistas da população negra, tais como a política de cotas e ações afirmativas, também tornam-se alvo de tentativas de modificações, foi assim na UFRGS e é assim nas universidades em processo de debate, tais como a UNICAMP.

O plano da burguesia brasileira é atingir diretamente direitos históricos da classe trabalhadora. Atingindo em cheio e com mais força os oprimidos, particularmente, o povo negro.

A bala que não é de borracha
Amarildo foi um grito na multidão, um pedreiro da favela carioca que em junho de 2013 foi assassinado pela PM do Rio de Janeiro e é símbolo de um enfrentamento que os negros e negras vivem desde a saída das senzalas e ida para as favelas. Não existe proteção quando se é o tipo suspeito, ou quando se tem poucas alternativas para sobreviver. Djavan, Rodrigo, Claúdia e tantos e tantas outras mortos direta, ou indiretamente pelo braço do Estado.

De acordo com as estatísticas, enquanto no período compreendido entre 2003 e 2014, o número de homicídios por arma de fogo dentre a população branca diminuiu 26,1%, entre a população negra aumentou 46,9%. Enquanto no ano de 2003 morriam, proporcionalmente, 71,7% mais negros do que brancos, em 2014 esse número saltou para 158,9%, ou seja, morrem 2,6 mais negros do que brancos no país.

Como ocupávamos e construíamos quilombos : somos a linha de frente da resistência
O fato de Temer e seus senhores aumentarem a força da chibata nos projetos que nos retiram direitos e, com isso, haver o crescimento da polarização social, faz com que surja movimentos de extrema direita como o MBL (Movimento Brasil Livre), que exigem medidas mais austeras, machistas, lgbtfóbicas e racistas para se contrapor à linha de frente dos setores que vêm construindo sua identidade e reconhecendo sua força.

Todo espaço conquistado pelos negros e negras, com acesso a maior escolaridade e outros aspectos hoje é o germe de contradição para os que querem fazer com que voltemos à situação de semi-escravidão. Viramos semente. No Brasil e no mundo assistimos atentos e somos parte dos negros e negras que estão na linha de frente das mobilizações contra a aplicação desses ajustes.

A partir da política de ações afirmativas em muitas universidades, avançamos em nossa identidade. A partir da desigualdade salarial de cerca de 59% dos negros em relação aos brancos, rechaçamos a cordialidade do mito da democracia racial e lutamos pela igualdade. Os quilombolas que há décadas lutam pela titulação de terras ocupam contra o retrocesso e pela busca pelo direito ao que é seu. A periferia não aceita mais com normalidade a morte de seus filhos e as mulheres negras se organizam para buscar o direito de existir das futuras gerações.

A juventude das escolas públicas, dos institutos federais e das universidades é também negra, mulher e uma parte significativa LGBT e, por isso, ocupa levantando o seu black no front de batalha. É Mc Carol, Sofia, Karol Conka que cantam a luta do nosso povo, na linguagem de uma geração, “gíria não, dialeto”.

A luta é desigual, pois enfrentamos um governo que pretende aplicar o plano clássico da burguesia e necessita retirar direitos conquistados pela população negra na última década. Além disso, sofremos de uma importante fragmentação no movimento negro. Infelizmente, uma parcela aderiu diretamente ao Estado e abandou a batalha de libertação social. Outra parcela divide-se em um grande arsenal de perspectivas que não necessariamente fortalecem a luta coletiva e levam a saídas individuais.

Nos quilombos nos organizamos para resistir, nossa história se faz necessariamente de forma coletiva para destruir este sistema que cada vez mais necessita nos tirar o direito à vida para existir.

Ocupar e resistir! Contra o Golpe da Casa Grande! Nenhum direito a menos!

Foto: Mídia Ninja