Por: Matheus Gomes, colunista do Esquerda Online
Essa foto é muito bizarra: um soldado da Secretaria Nacional de Segurança Pública, vinculada ao Ministério da Justiça de Temer, apontando uma metralhadora na cabeça de trabalhadoras e trabalhadores durante um protesto na Praça da Matriz, voando sob um helicóptero administrado pela Brigada Militar, mas que na realidade deveria servir ao Sistema Único de Saúde.
É um absurdo! Sartori e Cezar Schirmer, o secretário de segurança pública com o know-how de quem era o prefeito de Santa Maria durante a tragédia da Boate Kiss, integrados com o governo federal, utilizaram por toda a semana táticas de guerra contra o movimento social.
Foram as Forças Armadas dos EUA que começaram a posicionar snipers em helicópteros durante a Guerra do Vietnã, pois a mobilidade e a visão ampla ajudavam a combater os guerrilheiros que se misturavam ao verde da floresta.
Além disso, lançaram bombas de gás lacrimogêneo vencidas, que podem gerar problemas graves no sistema respiratório e digestivo ao serem inaladas, e também atiraram balas de borracha acima da cintura, contrariando o “protocolo”. Fora os P2 que circulavam pela praça o tempo inteiro.
É revoltante ver que a forma como se entrelaçam os órgãos públicos para a repressão política é totalmente oposta da maneira como eles se relacionam para a prestação de serviços básicos à população. Quem mora na periferia sabe a falta que faz uma verdadeira rede de saúde pública, integrada com a assistência social e a educação. Mas constituir uma trama entre as polícias estaduais e federais, incluindo a Força de Segurança Nacional, é sempre fácil se o objetivo é a criminalização da pobreza e dos movimentos sociais.
Falemos a verdade: para eles, segurança pública é igual a repressão. Entre 2005 e 2014, o Rio Grande do Sul triplicou os gastos com a Secretaria de Segurança Pública, mas os homicídios aumentaram 68,6%. Na Região Metropolitana, os assassinatos cresceram assustadores 46,9% somente entre a população negra, segundo o Mapa da Violência.
Esse helicóptero custou R$ 26 milhões aos cofres do estado, comprado num lote junto com outra aeronave. Na época, houve questionamento de médicos que diziam não ser essa a principal necessidade do SUS. Hoje, me parece que a história deu razão para eles. Esse valor poderia construir no mínimo uma dezena de unidades básicas de saúde com 630 m² de área construída cada. Teria sido melhor do que investir numa máquina de guerra.
Os mesmos verde-amarelos e peemedebistas que gritam por “menos Estado” bradariam indignados se a máxima fosse aplicada sob as forças de repressão. A maioria esmagadora dos deputados se comprovou nessa semana como um corpo unitário que legisla por interesses empresariais e é protegido pela repressão do Estado, ou seja, com dinheiro do povo trabalhador e não dos empresários que lucram bilhões anualmente com as isenções fiscais. Schirmer disse que foi tudo “em defesa da democracia”, já Marlon Santos foi mais direto e pediu pra “baixar a borracha e pronto”. É que na democracia dos Palácios Blindados nós não temos vez, o Estado é todo deles.
Essa foto escancara que os governos declararam guerra contra os direitos sociais e farão de tudo para implementar suas medidas. Estamos num longo inverno, mas se “essa Terra tem dono” como dizia Sepé Tiaraju, a hora deles vai chegar e a nossa tempestade será grande. Saibamos que o momento é difícil, mas continuemos resistindo e nos organizando. A Praça da Matriz essa semana comprovou que luta perdida é a que não se luta. Transformemos nossa raiva em organização. Sigamos!
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