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MOVIMENTO

ENTREVISTA | Ocupação William Rosa: três anos de resistência e luta por moradia

Por: Nelson Junior, de Belo Horizonte, MG

No mês de outubro, a Ocupação William Rosa localizada no bairro Laguna, em Contagem, completa três anos de resistência ocupando um terreno da Ceasa e Governo Federal. O Portal Esquerda Online (EO) entrevistou uma das lideranças da Ocupação, o companheiro Lacerda Santos, que relatou um pouco do processo de apropriação do terreno pelos moradores, o cotidiano da ocupação e o futuro das 400 famílias que resistem no terreno nesse momento.

EO : Lacerda, conta um pouco pra gente sobre esses três anos da Ocupação William Rosa.

L: A ocupação William Rosa (WR) nasceu da necessidade de ampliar a luta pela moradia, que até então estava mesmo localizada em Belo Horizonte (BH), e a gente acreditou que era necessário expandir para a região metropolitana, até porque entendemos que a luta por moradia não poderia se dar somente a partir de Belo Horizonte. Então iniciamos esse processo de mobilização tanto em Contagem, Ribeirão das Neves e Belo Horizonte e no dia 12 de outubro de 2012 adentramos o terreno às margens da Avenida Severino Ballesteros Rodrigues, no bairro Laguna, de propriedade da Ceasa/Governo Federal. A princípio foi uma luta, que contou com uma grande quantidade de famílias. Entramos com 400 famílias, e no terceiro dia virou um ‘formigueiro humano’, chegando a cadastrar em torno de 3.400 famílias. De lá para cá, a luta foi muito intensa, com muitas idas e vindas, e como a saída para essa ocupação se deu a partir do Programa “Minha Casa, Minha Vida”, então houve um processo de esvaziamento.

EO: Quais as principais lutas e conquistas que a Ocupação tem feito?

L: Estamos negociando a luta para 400 famílias, que seria pelo “Minha Casa, Minha Vida”, que não avança. Devido à entrada desse governo mais conservador ainda, praticamente eliminou qualquer possibilidade do “Minha Casa, Minha Vida”, então a gente continua aí aguardando alguma perspectiva e nesse momento continuamos na resistência.

EO: Após três anos de uma ocupação que se mantém bastante viva, quais os principais desafios para os próximos anos?

L: A grande conquista é permanecer resistindo no terreno, buscando uma saída que garanta dignidade para as famílias.

EO: A Ocupação tem um calendário de lutas e atividades?

L: A ocupação está somando nas atividades da classe trabalhadora, então estamos participando desses atos contra a PEC 241, que retira direitos. Essa semana estamos indo a Brasília para participar de uma audiência pública. Estamos somando na luta das Ocupações do Izidoro,pois a gente acredita que o despejo de uma ocupação ataca a todos, então estamos juntos na luta incondicionalmente.

EO: Quais as atividades que a Ocupação desenvolve?

L: Realizamos um trabalho de resistência cultural junto com o Bombos de Iroko, um trabalho na questão da resistência do direito às mulheres, pois a gente percebe que na periferia as mulheres sofrem bastante, é feito um trabalho através do movimento e a resistência por si só já é uma grande trabalho.

EO: Lacerda, conta pra gente como fica a questão de serviços, como por exemplo, saúde e educação para os moradores do William Rosa. Como é o acesso a esses serviços?

L: Serviços de saúde e educação são precários, até mesmo pela questão de comprovação de endereço, então a gente é atendido no posto com muita dificuldade. A educação a gente sabe que é de má qualidade, oferecida para toda a classe trabalhadora, então, acabamos sendo parte disso. Quanto à questão do saneamento, continua sendo precário porque as famílias continuam morando improvisados em barracões de madeirite, há 3 anos. Na questão de estrutura a ocupação sofre bastante.

EO: A William Rosa faz parte de algum movimento nacional de luta por moradia?

L: A ocupação faz parte do movimento Luta Popular, que é um movimento de negros nacional que está mais estabelecido em São Paulo, Minas e no Maranhão. Também atua na questão da resistência cultural com o hip hop, mas o ‘carro-chefe’ continua sendo a a luta por moradia.

EO: Vocês viveram intensas resistências contra a desapropriação do terreno. Como os moradores enfrentam esse processo?

L: Os moradores enfrentam esse processo com participação, muita entrega, muita doação, acreditando que através da luta é possível conquistar o nosso direito.

EO: Como anda o processo de regularização da Ocupação? Ainda existem muitas ordens de despejos?

L: O processo de negociação anda emperrado porque a gente percebe que a questão de permanecer no terreno é um pouco difícil. Para isso, a gente acenou com a possibilidade de negociação que garanta moradia digna para as famílias. Então, o processo continua incerto e a gente resistindo dentro do terreno.

EO: Lacerda, de que forma os trabalhadores, a juventude e os demais movimentos sociais podem ajudar com a Ocupação?

L: A participação dos demais movimentos da juventude e dos trabalhadores são importantes, porque nós acreditamos que a luta por moradia é mais uma luta da classe trabalhadora. Então, todas as lutas são muito importantes. Aquela que é feita a partir do território, aquela que organiza a partir do chão da fábrica e aquelas que organizam a partir da juventude. Nós acreditamos que só com a união dessas lutas é possível darmos um salto de qualidade em busca de uma sociedade socialista.