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MUNDO

Começa o levante nacional, indígena e popular no Equador contra o neoliberalismo do banqueiro presidente

David Cavalcante*, de Recife.

Neste 13 de junho, teve início mais um levante indígena e popular no Equador. Este é primeiro levante de caráter nacional, territorial e por tempo indeterminado, desde que o banqueiro, Guillermo Lasso, ganhou as eleições presidenciais, derrotando o candidato de centro-esquerda, Andrés Arauz, em abril de 2021. Lasso1 ganhou o 2o turno2, ante a divisão das esquerdas3, prometendo mundos e fundos, mas somente deu continuidade ao aprofundamento do neoliberalismo do governo anterior, Lenin Moreno.

A Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador-CONAIE, maior organização que congrega a representação social e política da maioria das nacionalidades originárias do país, e outras organizações nacionais e regionais, como a FEINE, FENOCIN, FENABE e tantas outras organizações camponesas e de agricultores, professores, setores da saúde, movimentos feministas e ecologistas de 16 Províncias do país convocaram este denominado #ParoNacional.

O Paro, não é somente uma paralisação como sugere a tradução em português. É um método de luta popular, camponesa e indígena que equivale mais a uma greve geral, pois começa bloqueando as principais rodovias do país nas províncias, ocupando os centros urbanos dos municípios e por onde passa vai mobilizando sindicatos, organizações sociais e até governos locais, além dos coletivos com ações de solidariedade e protestos.

Historicamente a força do Paro é testada sempre ante a capacidade de marchar até a capital Quito com um volume de adesão, onde muitas vezes pressiona igualmente para ações de rua as organizações sindicais, estudantis gremiais e diretórios acadêmicos e federações de estudantes, além das centrais sindicais e os partidos políticos, igrejas progressistas e universidades, lideranças e personalidades da cultura.

Lembremos que no caso do épico levante de 21 Janeiro de 2000, aquele assumiu caráter insurrecional, chegando a dividir as Forças Armadas cuja média oficialidade passou para o lado da CONAIE, chegando não somente à deposição do Presidente Jamil Mahuad, mas instituindo um governo provisório, que foi entregue na sequência pelo então Coronel Lúcio Gutierrez ao Comando das Forças Armadas.

Governo do magnata Lasso agrava crise social

Equador como toda a América Latina, agravou muito sua condição social durante esses dois trágicos anos da pandemia4. Desemprego, aumento da pobreza e da exclusão social já eram marcas da história recente, mesmo ante uma gigantesca disposição de lutas e enfrentamentos das organizações indígenas e populares, como ficou demonstrado no último Paro de outubro de 201956 que teve como pauta principal a luta contra o aumento dos combustíveis e suas consequências inflacionárias.

Lasso, que conseguiu desbancar as velhas oligarquias do agronegócio das bananeiras e de Guayaquil, como principal porta-voz político dos capitalistas, banqueiros e classes médias abastadas, em oposição ao progressismo liderado por Rafael Correa, tem em seu histórico, ter sido vice-presidente da filial da Coca-cola, no seu país, ex-presidente executivo do Banco Guayaquil, cargo que ocupou até 2012. Mas recentemente ficou conhecido como magnata de offshores (empresas que sobrevivem em paraísos fiscais com recursos de origens duvidosas), deixando suas marcas em paraísos fiscais de Panamá, Ilhas Caimán e Delaware com participação em cerca de 49 empresas abertas com nomes de fantasia7, conforme revelou uma reportagem do jornal argentino Página 12.

Mesmo com a derrota eleitoral, chamado ao voto nulo e até apoio de setores a Guilherme Lasso, expulsões e crises que sofreu o partido Pachakutik e a CONAIE, esta última passou por uma renovação da Direção, na qual assumiu Leonidas Iza, que mantém uma linha de independência da organização e combatividade, ante as gigantescas necessidades que passam as populações indígenas e camponesas daquele país.

Os principais pontos de reivindicação da pauta do Paro Geral indefinido são, entre outros: o congelamento dos preços do óleo diesel e da gasolina e subsídios para setores mais vulneráveis; moratórias das dívidas perante os bancos; preços justos para os produtos do campo; política de emprego e direitos trabalhistas; contra a ampliação das fronteiras mineradoras extrativas predatórias; respeitos aos direitos ancestrais e culturais dos povos indígenas; contra a privatização e os tribunais internacionais; controle dos preços de primeira necessidade; orçamento urgente para saúde e educação; políticas públicas de segurança.

A pauta de reivindicações, motivo do Levante, mescla a defesa de políticas públicas que protejam os produtores bananeiros, arrozeiros, produtores de milho, floricultores, que são pequenos e médios camponeses, os direitos para efetivação do Estado plurinacional, além da defesa dos trabalhadores assalariados, transportistas e populações indígenas e afrodescendentes. E defesa da soberania nacional na bandeira contra as privatizações. O chamado é para uma unidade camponesa, indígena, popular, estudantil e dos trabalhadores e merece toda solidariedade dos movimentos sociais e das esquerdas do continente.

*David Cavalcante é cientista político e colaborador da editoria Mundo do Esquerda Online