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EDITORIAL

Revolta popular no Equador não recua, mesmo com brutal repressão

Editorial de 11 de outubro de 2019
Reprodução

“Las manos de la protesta”, obra do artista plástica equatoriano Oswaldo Guayasamin

“Lágrimas de ira temos, mas aprendemos com nossas mães e pais
que aos mortos da luta os honramos nos multiplicando”.

Lema dos indígenas equatorianos

 

Quarta-feira, 09 de outubro de 2019. Guardemos essa data para que os povos latino-americanos jamais esqueçam do que foi capaz o Sr. Lenín Moreno, presidente do Equador, para continuar sendo um fiel serviçal da corrupta burguesia equatoriana, do imperialismo norte-americano e do FMI.

Enquanto clamava cinicamente, via a grande imprensa, por diálogo, Lenín autorizou o Ministro da Defesa a desencadear, com base nos decretos de Estado de exceção e de toque de recolher, uma repressão brutal contra as nacionalidades indígenas, trabalhadores, jovens, anciãos, mulheres e crianças.

A selvagem Polícia Nacional equatoriana não poupou nem mesmo os acampamentos indígenas, que já haviam se deslocados para os parques públicos e recebidos, para acolhimento e descanso, pelas Universidades Católica, Politécnica, Salesiana e Central de Quito.

As forças policiais invadiram ilegalmente as universidades na noite do dia 09 para o dia 10, pisoteando a autonomia das instituições e atacando fisicamente, de forma vil e covarde, as pessoas que se encontram no seu interior, sem distinguir crianças e mulheres.

Nestes sete dias de “Paro Nacional”, Moreno, escondido em instalações militares em Guayaquil, autorizou força total da polícia, que fez uso de milhares de bombas de gás, cavalaria, cães treinados, atropelamento de motos e cassetetes.

O saldo da repressão, até este momento, é chocante: 7 mortos, dos quais um recém-nascido; 95 ferimentos graves; 83 desaparecidos, dos quais 47 menores; mais de 800 detidos, a maioria deles em instalações policiais e militares; 57 jornalistas espancados pela polícia; 13 jornalistas presos; 9 meios de comunicação sob intervenção; 26 políticos presos; e detenção arbitrária de 14 cidadãos venezuelanos que não participaram das marchas.

Além de cuidar dos feridos, buscar localizar os desaparecidos e as crianças perdidas, e celebrar a memória dos que tombaram, a Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador (CONAIE) realizou uma enorme assembleia popular unificada na quinta-feira,10, reforçando a necessidade de unificação e solidariedade de todas organizações sociais e nações indígenas, com o propósito de serem um só punho “até que o FMI saia do Equador”. O movimento indígena, os sindicatos e os movimentos sociais do país exigem, entre outras demandas, a anulação do pacote econômico neoliberal instituído pelo governo em acordo com o FMI.

A CONAIE conclamou a continuidade e a multiplicação da luta, assim como a sustentação dos bloqueios de estradas e das ocupações de governos locais e edifícios públicos, garantindo, para isso, assembleias populares em todas as comunidades e alianças com todos os setores do povo.

Perante a insurreição do povo equatoriano, que toma o destino do país em suas próprias mãos, acreditamos que é um dever de todas lutadoras e lutadores do Brasil e da América Latina, bem como das organizações e partidos de esquerda, dos sindicatos e movimentos sociais, cercar de solidariedade essa luta revolucionária.

A vitória dessa revolta popular representará um triunfo dos explorados e oprimidos de todo continente e uma dura derrota para os governos de direita e extrema-direita da região alinhados aos Estados Unidos, como Jair Bolsonaro, que aplicam a mesma política econômica antipovo e reprimem com a mesma violência as lutas sociais e democráticas.

Esses governos submissos a Trump, como não poderia ser diferente, correram em apoio ao governo equatoriano, condenando as manifestações populares. Eles sabem que, se Lenín Moreno cair pela força da luta popular nas ruas, amanhã poderão ter o mesmo destino.

Viva a luta do povo equatoriano!

Fora Lenín Moreno, Fora FMI!

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