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MUNDO

Segundo turno no Equador polarizado entre o correísmo e o candidato dos ricos

David Cavalcante, da Redação

Neste 15 de outubro, haverá uma importante batalha eleitoral no Equador entre Luisa González, candidata pelo partido Revolução Cidadã cujo maior expoente é o ex-Presidente, Rafael Correa, e seu oponente, Daniel Noboa, um jovem de 35 anos, filho de uma das famílias megaempresárias bananeiras mais ricas daquele país. 

Um conturbado segundo turno que seguramente foi garantido pelos impactos emotivos espetaculares, gerados depois do assassinato de Fernando Villavicencio, em 9 de agosto, um dos candidatos da direita e principais apoiadores do governo do banqueiro Guillermo Lasso

Fernando bradava em suas denúncias permanentes e recorrentes ataques à Rafael Correa e seus aliados, com o apoio da grande mídia empresarial, num estilo lavajatista antipartidário, mas foi vítima do crime organizado, um dos seus alvos prediletos de promessas carcerárias. 

Tal instrumentalização do denuncismo anticorrupção associada à estratégica da lawfare, que é a manipulação dos sistemas legais e processuais como arma política para perseguição das lideranças de esquerda, como ocorreu com Lula no Brasil, está se convertendo em uma das armas midiáticas preferidas dos partidos da extrema-direita na América Latina com o objetivo de canalizar as frustrações e medos das grandes massas populares mais desorganizadas politicamente e principalmente das classes médias.

A grande mídia e as redes sociais inundaram insinuações implícitas e explícitas de fake news com supostas relações de Correa com o assassinato. A vitória de Luisa Gonzalez era indicada para o 1o turno na maioria das pesquisas numa curva ascendente de reta final e com mais de 10 pontos de diferença dos segundos colocados que estavam empatados entre dois diferentes candidatos da direita. 

Os impactos do assassinato 11 dias antes do primeiro turno e a suja campanha em associar o correísmo ao fato, desmontou todas as previsões. Por um lado, prejudicou Luisa em pelo menos 5 pontos, que mesmo assim ganhou em primeiro lugar com 34% dos votos válidos, mas também desbancou o candidato da extrema-direita e das empresas de segurança, Jan Topic, que indicava crescimento após o fato violento. Mas o maior beneficiário foi o então desconhecido, Daniel Noboa, que patinava com 3% a 4% na maioria das pesquisas e passou em 2o lugar com 23% dos votos válidos. 

Por outro lado, nas eleições legislativas do parlamento unicameral, Revolução Cidadã confirmou ser o maior e mais enraizado partido nacional, elegendo 48 (39,72%) das 137 cadeiras da Assembleia Nacional. Em segundo lugar, ficou justamento o frágil partido, Movimento Construir, que apoiou Villavicencio e foi substituído pelo seu vice, com 28 (20,39%) cadeiras e que tinha somente 1 deputado, antes do pleito. 

Presidente da CONAIE declara apoio à Luisa e chama a derrotar a direita

Nesse pleito tumultuado e nadando contra a maré anticorreísta, uma boa notícia precisa ser destacada para a esquerda: Leonidas Iza, Presidente da Conaie e principal liderança indígena do país atualmente, chamou a derrotar a direita em uma declaração em 10 de outubro na página da Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador, defendendo o voto em Luísa

Tal posicionamento pode ser decisivo, visto que é uma ruptura com a postura sectária de uma parte das lideranças indígenas e do partido de maioria indígena, Pachakutik, que chamou o voto nulo nas eleições presidenciais anteriores que resultaram na infeliz vitória do atual Presidente e custou muito caro ao país com o ajuste neoliberal e aos movimentos sociais que foram duramente reprimidos e perderam lideranças produto da violenta repressão policial. Além da derrota e crise política de Pachakutik que reduziu sua representação parlamentar de 27 para 4 cadeiras, resultado da relação de uma parte do partido com o atual governo. 

As atuais pesquisas indicam um empate técnico entre Luisa e Noboa. Noboa representa não somente a permanência da direita no poder, mas um retrocesso em entregar o país nas mãos da família magnata dos segmentos empresariais mais atrasados que marcam a história econômica e social do país com superexploração e opressão cujos interesses maiores são manter o padrão neoliberal de Lasso reforçando as estruturas do país como exportador semicolonial de commodities.

Luisa representa, além da derrota da direita, uma renovação por ser uma candidata mulher vinculada às pautas sociais, demandas populares e das mulheres.