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BRASIL

Oito momentos da fala do ex-presidente da Caixa na reunião ministerial

Necropolítica 8 x 1 Vida: filas e morbidez na CAIXA – o “e daí?” de Bolsonaro e Pedro Guimarães

Travessia Bancária
Reprodução

A reunião ministerial de 22/04 já foi bastante comentada, mas os trabalhadores da CAIXA não poderiam ficar calados diante da fala do presidente Pedro Guimarães (PG). Percebe-se o desprezo pela saúde e pela vida em oito tópicos:

1) No começo, Pedro Guimarães tem uma fala confusa sobre desonestidade de partidos adversários e da BAND, que não teve condição de levar adiante. Verdade ou não, a coisa acabou em pedido de desculpas da assessoria de imprensa da CAIXA. Logo em seguida fala que as pessoas que estão em home office estariam tranquilas e que a medida seria uma “frescurada”. Não é verdade. O trabalho remoto tem implicado no aumento de casos de stress, ansiedade e depressão, dos problemas de ergonomia por falta de mobiliário adequado para passar 6 a 8 horas sentado e no computador. Principalmente para as mulheres, ainda há a estafante combinação de trabalho doméstico, cuidados com os filhos e dedicação profissional. Por fim, a medida de distanciamento via trabalho remoto não é frescura. Isolamento social é a medida mais importante contra a pandemia. Menosprezar a medida é jogar a favor do vírus.
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2) PG, com palavrão, ataca o isolamento social, sob o argumento da liberdade de ir, vir, voltar e espalhar o vírus, citando um caso de detenção pela polícia. Daí fala que para garantir esse capricho individual “ia pegar minhas quinze armas (…) eu ia morrer.” –
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3) Enfim, algum dado importante: a CAIXA pagou 50 milhões de pessoas que precisavam do auxílio. Da pior forma possível, mas pagou. Não dá para “Deixar trinta, quarenta, cinquenta milhões de pessoas passarem fome. Então, é só o meu recado dizendo o seguinte: a Caixa é o banco de todos os brasileiros.” É esta mesma pessoa que sem estar “sob forte emoção” defende a venda fatiada da CAIXA. Note-se ainda que ele diz que R$ 600 por mês podem tirar todo mundo da fome. Não tira, mas é 3 vezes o que seus chefes defendiam dar. Mas vamos contar esta como ponto para a VIDA. VIDA 1 x 2 Necropolítica.

4) PG fala que 45 empregados foram infectados, sendo que dois vieram a falecer. Novo comentário infeliz, dizendo: “Dois fa … faleceram, um na verdade com setenta anos, que já tava aposentado e outro. A pessoa é .. . é … eu chorei mais do que a pessoa, a mãe [sic]. É, uma pessoa em trinta mil que estão o dia inteiro”.

De novo o discurso eugenista de que a vida dos jovens – que estão trabalhando no atendimento –  é mais importante do que a dos idosos – aposentados que não trabalham mais. Ou seja, para o capitalismo fascista só importa quem pode vender sua força de trabalho. Só importa o lucro, o resultado. E depois a diluição da vida nos números: “uma pessoa em trinta mil.” Mas se o negócio é números: destes 45 casos, quantas comunicações de acidente de trabalho (CAT’s) referentes a estas infecções por COVID foram abertos, presidente? …
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5) Por que a CAIXA não divulga os dados completos sobre adoecimento nas agências? No dia 23/05, já eram 5 funcionários falecidos. Não sabemos quantos terceirizados, lotéricos e empregados de lotéricas foram atingidos, mas tivemos a notícia de uma vigilante também falecida em SP. Segundo dados de sondagem da APCEF/SP (Associação dos Funcionários), mais de 80 agências de SP já fecharam pelo menos 1 vez para desinfecção. Algumas fecharam 3 vezes. A CAIXA deve esta informação, como forma de conscientizar a população a ir às agências somente em último caso.
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6) Aqui jogada de 2 pontos de PG: “Eu já falei pra minha esposa: se tiver qualquer coisa vou lo … tomar um litro de hidroc/orixisquina [assim na transcrição da PF], aquelas coisas todas. Então assim, eu acho que a gente tá, só o último ponto, num, numa questão de histeria coletiva.” Chamar a pandemia de histeria e ainda entrar na onda da cloroquina.
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7) Por que ninguém na reunião exige que BB e bancos privados ajudem no pagamento? É desesperador! E PG: “Então o que que a imprensa quer? Que você pague e dane-se [sic] os

funcionários da Caixa. Mas se morrer [sic] dois, Jornal Nacional. . .” 

O que nós funcionários queremos é que os outros bancos ajudem. Isso pode salvar centenas, milhares de vidas!
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8) Mais funcionários para atender ou mais vigilantes para reprimir do lado de fora das agências? PG responde: “Então, durante os … nos próximos noventa dias, os atendentes da Caixa Econômica Federal, é … os guardas, vão poder ir pra fora pra ajudar, ajudar a fila, né? Ou seja, porque tem uma fila, tem duzentas e cinquenta agências que tem quinhentas pessoas na fila e aí, com a ajuda do ministro Moro e da Polícia Federal, eles emitiram na portaria, então só pra finalizar quero agradecer, ministro, porque sem isso não conseguiria.” Ou seja, na visão do governo, de Sergio Moro e do presidente da CAIXA, o tumulto existe e é para ser reprimido. A demora produzida pela falta de funcionários para atender, a concentração do pagamento em uma única instituição financeira, nada disso tem a ver. E a brasileira tradição escravocrata sabe muito bem como se tratam os pobres. O negócio para eles é por mais vigilantes. Felizmente, os vigilantes estão desarmados e até agora têm ajudado a orientar as filas e dar informações, ainda que sem treinamento especial para isso. Nós funcionários pedimos contratações dos aprovados no último concurso.
Vida 1 x 8 Necropolítica.

Até quando esta política genocida?

A reunião dos ministros de Bolsonaro foi um verdadeiro show de horror. Assim como muitos outros ali presentes, PG mostra total despreparo para a função que exerce mas, pior do que isso, demonstra alinhamento total com a política negacionista, genocida e neofascista de Bolsonaro. Derrotar esse governo, mais do que nunca, é condição fundamental na luta dos trabalhadores por sua vida e seus direitos.

Funcionários da CAIXA pedem uma política pela VIDA:

#QueTodosBancosPaguemoAuxílio
#AuxílioEmergencialSemFilas
#ContrataçãoDeFuncionários
#MaisFuncionáriosParaAtender
#ReprimirNãoéPrecisoAtendimentoBoméPreciso

#CAIXA100%PÚBLICA!
#ForaBolsonaro!

 

 

NOTAS

1 – O conceito de necropolítica foi desenvolvido pelo filósofo camaronês ACHILE MBEMBE. Em linhas gerais, é a ideia de que o Estado desenvolve uma política de morte, materializada no uso ilegal da força, no extermínio seletivo e na guerra. A decadência do capitalismo, posta a nu durante a pandemia, aprofunda este tipo de política do estado, que foi traço essencial do nazifascismo e continua sendo a política imperialista nos países periféricos, bem como nas periferias pobres de todas as grandes metrópoles. Ver MBEMBE, Achile. Necropolítica: biopoder, soberania, estado de exceção, política da morte. São Paulo: N-1 Edições, 2018.