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MOVIMENTO

Sede da Caixa tem ato contra presidente e em acolhimento às mulheres vítimas de assédio sexual

da redação
Scarlett Rocha

Nesta quarta-feira, 29, às 12h30, o Sindicato dos Bancários do Distrito Federal promoveu um ato público em defesa e acolhimento das vítimas de assédio sexual na Caixa Econômica Federal e a demissão do presidente Pedro Guimarães, próximo de Bolsonaro e denunciado por várias funcionárias do banco. O ato foi convocado de forma relâmpago e realizado em frente ao prédio Matriz 1 da Caixa, onde funcionam as salas da Presidência e de diretorias, ou seja, onde grande parte dos casos de assédio ocorreram.

Segundo a denúncia revelada pelo portal Metrópoles, o presidente, indicado por Paulo Guedes e próximo a Bolsonaro, assediou diversas mulheres, usando da posição que ocupava. Na convocação, o sindicato anunciou um ato por “um basta na cultura do desrespeito, intolerância, objetificação e violência contra as mulheres”.

O protesto contou com o apoio de coletivos feministas, como a Marcha Mundial de Mulheres e a Resistência Feminista, de parlamentares como Fernanda Melchionna e Sâmia Bonfim, do PSOL, e Erika Kokay, do PT. Além de trabalhadoras de diversas categorias, como uma delegação de mulheres do Sinasefe e a presidente do Sindserviços, que representa as trabalhadoras terceirizadas do banco, ainda mais expostas ao assédio.

O ato foi encerrado com uma intervenção – Todas as mulheres se perfilaram para uma foto, com os punhos erguidos e uma faixa cobrindo a boca, onde estava escrito “Assediadas”. A enfermeira Karine Afonseca, da Resistência Feminista e do coletivo Mulheres de Todas as Lutas, participou do ato: “A cada semana é a gente tendo que lidar com uma denúncia de assédio, de estupro, de violência física.. Por isso viemos aqui, para acolher as mulheres e denunciar os agressores, para que sejam punidos”

O gesto simbólico ocorreu em frente ao stand onde, na parte da manhã, Pedro Guimarães havia participado de um evento, discursando sobre “ética” e “família”. A deputada Erika Kokay (PT-DF) comentou a ida de Pedro ao banco mesmo após as denúncias. “É muito cinismo deste que acha que as funcionárias lhe pertencem, que as pessoas lhe pertencem, que a empresa lhe pertence. É um terrorismo o que ocorreu nesta empresa. Um terrorismo que atinge os corpos das mulheres”, denunciou.

Pedro Guimarães só renunciou ao cargo por volta das 18h, enviando uma carta à Bolsonaro. Ele começou o dia recusando-se a deixar a presidência e a presença no evento foi vista como uma tentativa de permanecer no cargo. Rachel de Araújo Weber, funcionária da Caixa no Rio Grande do Sul e diretora da Fenae (Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal), também denunciou Pedro e o fato de que muitas trabalhadoras, grande parte terceirizadas, tiveram que ir até o evento aplaudi-lo. “Essas mulheres com certeza não queriam ter ido lá bater palma. Foi uma violência também o que fizeram com essas pessoas, que tiveram que ir lá prestigiar um canalha desses”, destacou.

 A manifestação contou com poucas falas de trabalhadoras do banco, revelando um clima de apreensão. Mas outras tomaram o microfone. Jaira, empregada aposentada da Caixa, trabalhou com algumas das vítimas de assédio do presidente e fez questão de estar no ato. “Todas merecem ser respeitadas. Eu quero prestar solidariedade principalmente para todas que conseguiram dar o seu grito e vencer essa humilhação e o constrangimento que tiveram de passar”. Ela se dirigiu também aos homens, inclusive aos que fizeram “vista grossa” para o que ocorreu, para que não mais se calassem.

Troca de comando 

Enquanto o ato era realizado, a imprensa já apontava que o banco seria presidido por uma mulher, Daniella Marques, também indicada por Paulo Guedes. Para Rachel, da Fenae, a mudança precisa ser muito maior. “Nós temos ai uma possibilidade de mudança no alto escalão da Caixa, por conta desses crimes cometidos. Mas a gente acredita que essa gestão está falida há muito tempo. Há muito tempo que desvirtua o papel da Caixa. Há muito tempo que impera uma gestão de medo e de silêncio”, afirmou. Segundo pesquisa da Fenae, seis em cada dez funcionários e funcionárias da Caixa sofreram assédio moral ou sexual.

A deputada Sâmia Bonfim (SP), líder do PSOL, em sua fala, exigiu a saída do presidente da Caixa, mas apontou a necessidade da luta em defesa do banco e contra o machismo. “Contem com o nosso apoio para retirar Pedro Guimarães do comando, mas mais do que isso, para tomar o comando de fato por aquelas e por aqueles que constroem de fato a Caixa. As mulheres brasileiras estão em um levante imparável de denúncia do machismo, do assédio e nós não vamos sossegar enquanto o maior machista de todos eles, que está a frente da Presidência da República, também não saia do poder… Nós vamos derrotá-lo neste ano!”, concluiu, aos gritos de Fora Bolsonaro!

 

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