Todos os dados disponíveis demonstram que o país caminha para trás, com o governo acelerando a marcha-ré rumo à barbárie. Jair Bolsonaro parece determinado em aprofundar a destruição em todas as dimensões possíveis: econômica, social, democrática, ambiental e cultural.
Em nove meses, é difícil contar a quantidade de ações destrutivas do atual governo. Sua utilidade, para a classe dominante, está justamente na capacidade de aplicar um programa brutal contra o povo trabalhador e oprimido, em favor da lucratividade dos grandes capitalistas nacionais e estrangeiros.
Para a extrema direita bolsonarista, porém, não basta impor mais sofrimento, miséria e desigualdade por meio da política econômica antipovo e das contrarreformas. O objetivo é estabelecer um novo regime político. Quer dizer, uma ordem em que a violência sistemática dirigida aos mais oprimidos, a supressão das liberdades democráticas e o desmantelamento das organizações de luta social, sindical, ambiental e cultural estejam asseguradas.
Conferindo suporte a Bolsonaro, estão Donald Trump, grandes empresários e banqueiros, donos de igrejas neopentecostais e redes de televisão, setores dos aparelhos policiais vinculados às milícias, além de pecuaristas, madeireiros e garimpeiros interessados na devastação das florestas.
Apesar do desgaste crescente, o presidente neofascista ainda tem uma base de apoio social expressiva, em torno de 30% da população segundo as últimas pesquisas de opinião. A aprovação de Bolsonaro cresce entre os mais ricos, brancos, homens e mais velhos
Por outro lado, vem subindo os índices de rejeição, que já superam a parcela que considera a gestão ótima ou boa. A desaprovação do governo é maior entre os mais pobres, negros, mulheres, mais jovens e no nordeste. Ou seja, entre os mais explorados e oprimidos, o repúdio a Bolsonaro cresce.
Perante um governo cuja missão é a destruição das condições de vida do povo e da democracia, não há outra estratégia senão derrubá-lo mediante a luta de massas. Porém, nesse momento, as condições para queda de Bolsonaro pela força das ruas não estão dadas.
A tarefa imediata é, precisamente, construir essas condições, acumulando força de organização e mobilização social, fazendo a disputa de consciência de amplos segmentos da população, acompanhando a experiência prática da classe trabalhadora com esse governo e construindo uma nova alternativa à esquerda.
Em nossa opinião, a revolta popular que está em curso no Equador mostra o caminho estratégico: a rebelião nas ruas contra um governo que não hesita em massacrar seu próprio povo.
As eleições municipais do ano que vem serão um momento muito importante da luta política contra a extrema direita. Mas cometem um erro aqueles, como a maioria da direção do PT e do PCdoB, que deixam de lado a prioridade das lutas concretas, visando unicamente o resultados das urnas. O caminho para derrotar Bolsonaro e seu projeto neofascista passa necessariamente por ganhar a maioria nas ruas, mudando a correlação de forças na sociedade que deu base ao triunfo da extrema direita nas eleições de 2018.
Para alcançar esse objetivo, a construção da mais ampla unidade para lutar é decisiva. Não temos tempo a perder. É preciso somar forças, juntando todos os setores e organizações que se apõem ao projeto bolsonarista em torno de uma agenda comum de mobilização.
Nesse momento, algumas bandeiras se destacam: a defesa da soberania nacional, contra as privatizações; a luta contra a destruição da educação pública e da pesquisa universitária; a mobilização por emprego, salário e direitos; a defesa intransigente das liberdades democráticas ameaçadas — Lula livre; Justiça para Marielle e Anderson; a luta contra o genocídio do povo negro e pobre pelas mãos dos aparelhos policiais; a mobilização em defesa do meio ambiente, do patrimônio natural e da cultura nacional.
Ao lado da construção da luta unificada, ganha importância a apresentação de um programa de transformação social e democrática anticapitalista, que só poderá ser executado por um governo de esquerda sem alianças com os partidos de direita, demais partidos burgueses e as representações da classe dominante. Esse governo, pelo qual devemos lutar, deve se basear na força das ruas, organizando e mobilizando a maioria do povo em defesa de reformas estruturais.
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