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BRASIL

 A cruzada anticorrupção foi  ilusão: 200 dias de Governo Bolsonaro e da mais velha política na República

Juan Michel Montezuma, de Salvador, BA
Marcelo Camargo/Agência Brasil

Jair Bolsonaro, na transmissão de posse

A trajetória política de Jair Messias Bolsonaro (PSL) para o Palácio do Planalto é peculiar na história política do Brasil atual não apenas porque a sua campanha para o cargo de presidente começou cinco anos antes da eleição presidencial, ou porque as redes sociais foram originalmente utilizadas como palco principal palco para sua escalada política quixotesca, mais também em via de sua bandeira mais caricata, moralista e contraditória para um parlamentar com vinte e oito anos de carreira política: a luta anticorrupção. Bolsonaro, não por mérito próprio, conseguiu capturar o movimento de insatisfação popular  com a classe política profissional, apresentando-se como herói contra crise social política que o país vem enfrentando faz mais de cinco anos, prometendo para a sociedade civil o fim do “Toma lá dá cá” dos últimos governos. O “toma lá dá cá”, em sua expressão mais simples, trata-se da dinâmica política de conciliações e concessões, sejam elas de tendência reformista ou reacionária, que vêm definindo os rumos das frágeis instituições políticas no, ainda mais frágil, sistema político vigente da tímida democracia brasileira . Seja nos governos petistas ou golpista de Michel Temer, o “toma lá dá cá” foi o eixo, moralmente questionável, que garantiu a precária estabilidade política da qual os governantes necessitaram para fazer a República caminhar, seja para a direita, para esquerda ou “centro” (direita). Governar o Brasil na história política do séc. XXI, e com certeza antes disso também,  foi, acima de tudo, fazer concessões e conciliações.

Entretanto, o Capitão venceu as eleições. Com a força da insatisfação popular com a classe política profissional, Bolsonaro inflou o seu discurso discurso cruzadista, de substrato nitidamente fascista, fazendo da vitória eleitoral, na perspectiva de seus eleitorado fiel na classe média e iludido na classe popular, o início do confronto final entre os cidadãos de bem e os políticos corruptos. De fato, muitos setores das classes populares, especialmente aqueles que são reféns do fundamentalismo religioso e têm as suas ações políticas tuteladas por ricos pastores, foram enganados pela corja do capitão, acreditaram que entravam numa “Nova Era”. Bolsonaro chegou ao poder no início do ano e o sistema político tradicional ficou em suspense, expectativas foram criadas na sociedade civil, como começaria a cruzada contra a corrupção do Capitão contra o sistema político decadente da república brasileira?

Bom, passaram-se 200 dias de governo e  ao que tudo indica, a cruzada bolsonarista ainda não começou, nem começará e se o Capitão planeja levar as suas outras bandeiras (desmonte do Sistema Público de Ensino Superior, proteção dos interesses norte americanos no Brasil,  proteção dos interesses do patronato brasileiro e etc.) terá de trair o seu fiel “cidadão de bem” e sua iludida luta moralista contra a corrupção por meio de uma figura do Messias. Isso acontece, pois o programa político bolsonarista é essencialmente reacionário, está mergulhado no mais profundo conservadorismo, nos preconceitos mais elitistas, ou seja sudestinos, da sociedade brasileira. O Governo Bolsonaro tem por base um compromisso muito simples: o uso do aparelho estatal para o ataque sistemático aos direitos dos mais pobres, a fim de garantir a manutenção dos privilégios dos mais ricos, assim como promover a ampliação dos interesses dessas elites sob a sociedade civil em momentos de crise social. Sem dúvidas, a anticorrupção no bolsonarismo é uma ilusão, afinal o atual presidente tem como missão a luta pela continuidade da desigualdade na sociedade brasileira, procurando ratificá-la através do velho  aparelho estatal que tanto criticou em campanha.

É por essa razão que Jair Bolsonaro, Capitão da corja  fascista e de milhões de iludidos, pode até ter prometido parar a Reforma da Previdência, entre outros contos de faroleiro trambiqueiro que dariam tônica da sua cruzada contra a maioria classe política tradicional, porém ao assumir o poder não ofereceu nenhuma resistência a este assalto contra o futuro do povo brasileiro. Risivelmente, o único obstáculo oferecido  por Bolsonaro contra a Reforma da Previdência foi a sua monumental incompetência política ao não promovê-la com a velocidade desejada pelo alto escalão do empresariado e os grandes blocos da imprensa liberal. 200 dias de governo passaram e a longa lista de absurdos protagonizados pelo inepto presidente do Brasil provam apenas que o atual governo é mais nova, e escrachada, faceta da velha dedicação do político tradicional, tal como o capitão parlamentar com 28 anos de carreira,  em atender os desejos da única classe que realmente representa: os altos escalões do patronato brasileiro. Bolsonaro representa, com uma rara eficiência militar para o seu caso, o que há de mais velho na política do Brasil.

Não foi, e nem será, em seu governo que a “Nova Era” na política brasileira chegará.

* Juan Michel Montezuma é graduando em História na Universidade Federal Da Bahia e um dos coordenadores do Projeto Social Cidadão Pensante.

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Governo Bolsonaro