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A família Bolsonaro, a nova direita brasileira e seu discurso LGBTfóbico

Por: Gabriel Santos, de Maceió, AL
Reprodução

No dia 28 de agosto, o candidato Jair Bolsonaro (PSL), durante uma entrevista ao Jornal Nacional, mostrou o livro infantojuvenil “Aparelho Sexual e Cia”, afirmando, de forma mentirosa, que o mesmo era distribuído pelo MEC nas escolas. Bolsonaro buscou ligar o livro, que aborda sexualidade, puberdade e mudanças corporais nos adolescentes ao inexistente “kit gay”.

O capitão reformado do Exército realiza um discurso de que ele foi responsável por barrar um suposto “kit gay” feito pelo MEC, que ensinaria práticas homossexuais para crianças. Esse discurso, da existência do suposto material, foi feito também por diversos grupos de direita, em especial pelo MBL. Dessa forma, o “kit gay” foi demonizado por apoiadores de Bolsonaro e pela direita, tornando-se uma das fake news mais conhecidas dos últimos tempos.

A verdade é que tal “kit gay” nunca existiu. O que existiu na realidade, foi um kit anti-homofobia, vetado pela então presidente Dilma Rousseff (PT) em troca de alianças com setores mais conservadores e religiosos do Congresso Nacional. O material vetado por Dilma seria distribuído pelo Ministério da Educação em redes públicas de ensino, tendo como destinatários professores do ensino médio de escolas que apresentassem discriminação a estudantes por conta de sua orientação sexual.

O kit continha três vídeos que tratavam de temas como transexualidade, bissexualidade e homossexualidade, que seriam exibidos para alunos de 14 anos em diante, e foram considerados adequados pela Unesco (órgão da ONU que trata sobre educação). Na época a entidade afirmou que: “O material do projeto Escola sem Homofobia está adequado às faixas etárias e de desenvolvimento afetivo-cognitivo a que se destina”.

Aqueles que dizem que o material feito para combater a evasão escolar de estudantes lgbts e o preconceito que estes sofrem nas salas de aula é um kit que ensina e incentiva a homossexualidade ou estão desinformados ou agem de completa má fé e fazem isso por conta de seu próprio sentimento de lgbtfobia. Este último caso é o de Jair Bolsonaro.

Destilando ódio aos LGBTs

Bolsonaro acumula um histórico de declarações contra LGBT´s. Em 2011, numa entrevista a revista Playboy, o deputado afirmou: “Seria incapaz de amar um filho homossexual. Não vou dar uma de hipócrita aqui: prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí.”

Em outra entrevista, dessa vez para a TV Câmara, no ano anterior, Bolsonaro disse: “Se o filho começa a ficar assim, meio gayzinho, [ele] leva um couro e muda o comportamento dele.”

Em 2012, durante uma sessão na Câmara dos Deputados, o discurso de Bolsonaro foi direcionado ao também deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ): “O comandante Jean Wyllys abandonou a tropa de homossexuais. E a tropa de homossexuais, agora, está batendo em retirada do campo de batalha. São heterofóbicos. Quando veem um macho na frente eles ficam doidos. (…) Homossexualismo… direito… vai queimar tua rosquinha onde tu bem entender, porra!”

Na década anterior, em 2002, quando foi entrevistado pela Folha de S. Paulo, Bolsonaro falou: “Não vou combater nem discriminar, mas, se eu vir dois homens se beijando na rua, vou bater”.

Mentiras sobre pedofilia

Um aspecto importante no discurso LGBTfóbico de Bolsonaro e de seus seguidores, assim como da nova direita do Brasil, é que busca associar a homossexualidade a pedofilia.

Foi de extremo conhecimento do público em geral o caso do Queermuseu, que se tornou uma amostra emblemática dá tática promovida pela turma do MBL e demais reacionários. Sobre a acusação de que a exposição de arte promovia a pedofilia, foi feito uma imensa campanha contrária a mesma em diversas cidades, gerando um grande tumulto em torno do tema.

O apresentador de TV e péssimo humorista Danilo Gentili é outro que vez ou outra compartilha ataques diretos a comunidade LGBT, chegando a compartilhar no twitter uma notícia falsa do site conservador Dayle Caller, que buscava fazer ligações entre pedófilos e a comunidade LGBT. O site que Gentili compartilhou é um conhecido propagador das chamadas fake news, e famoso por defender o governo Trump e atacar a esquerda, utilizando para isso notícias falsas.

No judiciário brasileiro, o procurador Guilherme Shelb ficou famoso ao gravar um vídeo afirmando que a pedofilia era um instrumento da revolução bolivariana, e que no Guia Escolar de 2011 do governo Dilma, estava implícito o princípio da pedofilia.

Um dos três filhotes de Jair Bolsonaro com cargo na política, Carlos, que é vereador no Rio de Janeiro pelo Partido Social Cristão (PSC), utiliza constantemente as redes sociais para atacar a militância de esquerda e as pautas dos setores oprimidos, em especial os LGBT´s. Carlos postou em seu twitter durante o mês de julho um cartaz falso, que afirmava que grupos LGBT estariam defendendo a pedofilia. O twitter com a imagem falsa teve mais de 1.700 curtidas e 600 compartilhamentos, sendo seguido de outros post no qual o vereador carioca faz associação entre LGBT´s e pedofilia.

No pôster, a sigla LGBT teve um P acrescentado, se tornando LGBTP. A letra P seria de pedossexual, na descrição de Carlos Bolsonaro “adulto que faz sexo com criança”.

Não resta dúvida de que o cartaz postado pelo filhote de Bolsonaro seja falso, inclusive ele já foi desmascarado por diversos sites de verificação de notícias como sendo algo inventado e fictício. O site Snopes, ao apurar a veracidade do material que circulava nas redes sociais, afirmou: “Esse não é um panfleto verdadeiro de um grupo LGBT, e não existe nenhum grupo LGBT que tolere a pedofilia, e muito menos algum que tenha anunciado que a letra “P” seria adicionada à sigla como forma de demonstrar apoio à pedofilia”. A conclusão do site foi que o material é falso e surgiu em (https://archive.is/ZtCIP) (alt-right), que funcionava para criar notícias e materiais falsos na internet para combater grupos e ideias de esquerda.

Ao compartilhar o post falso, feito com o objetivo de incitar o ódio contra a população LGBT, ao associar este setor a defesa da pedofilia, Carlos Bolsonaro, um político eleito, está disseminando para centenas de milhares de pessoas a desinformação e o ódio. Carlos Bolsonaro, seus irmãos, seu pai e outros membros dessa direita reacionária, conservadora e proto-fascista, acabam sendo cúmplices da violência e do assassinatos de LGBT´s que ocorrem diariamente no Brasil.

O ódio e o preconceito, utilizados como política por parte da família Bolsonaro, precisa ser combatido. O discurso de ódio criminoso que estes e aqueles que fazem parte da nova direita reproduzem por trás de um véu da liberdade de opinião e do conservadorismo no costume precisa ser denunciado. Combater Bolsonaro e as ideias conservadoras é urgente e necessário. É a vida das LGBT´s que estão em jogo.

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