A Greve Geral de 1917 foi o marco das lutas sociais por melhores condições de vida e trabalho no início do século XX no Brasil. Iniciada em julho daquele ano no Cotonifício Crespi, indústria têxtil do bairro operário da Moóca na capital paulista, alastrou-se rapidamente pelos demais bairros e adjacências, abarcando milhares de trabalhadores e trabalhadoras dos mais diversos setores laborais. Embora já tivessem existido outras greves anteriores, a Greve de 1917 possuiu características importantes que a fizeram ser o símbolo da luta e surgimento da consciência da classe operária, ganhando seu “papel basilar no movimento operário brasileiro” (TOLEDO, 2017). Ocorrida num momento de grave crise econômica e social no período da República Velha (1889-1930), somados ao contexto externo da Primeira Guerra Mundial (1914- 1918), à alta dos preços dos gêneros de primeira necessidade e às precárias condições de trabalho e de vida, a greve foi a resposta ao resultado do sufocamento da população. Esse “fórum de luta de classes” (TOLEDO, 2017) fez da Greve Geral de 1917 um dos maiores combates à exploração da classe trabalhadora. Espanhol, 21 anos, sapateiro de profissão e membro do Grupo Jovens Incansáveis de orientação anarquista. Esse era José Ineguez Martinez.
Martinez, como ficou conhecido, imigrou para o Brasil juntamente com sua família, onde se estabeleceram na Rua Caetano Pinto, na casa de número 91, no bairro operário do Brás. No dia 09 de julho de 1917 acontece um enfrentamento na porta Fábrica Mariângela, de propriedade do industrial Francisco Matarazzo. Operários e soldados da Força Pública entram em confronto, seguido de tiroteio: Martinez é ferido gravemente por uma bala de revólver. Atendido ali mesmo, na Rua Monsenhor Andrade no bairro do Brás, o jovem é encaminhado à Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
O Mártir da greve: o jovem Martinez
Espanhol, 21 anos, sapateiro de profissão e membro do Grupo Jovens Incansáveis de orientação anarquista. Esse era José Ineguez Martinez. Martinez, como ficou conhecido, imigrou para o Brasil juntamente com sua família, onde se estabeleceram na Rua Caetano Pinto, na casa de número 91, no bairro operário do Brás. No dia 09 de julho de 1917 acontece um enfrentamento na porta Fábrica Mariângela, de propriedade do industrial Francisco Matarazzo. Operários e soldados da Força Pública entram em confronto, seguido de tiroteio: Martinez é ferido gravemente por uma bala de revólver. Atendido ali mesmo, na Rua Monsenhor Andrade no bairro do Brás, o jovem é encaminhado à Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
A morte de Martinez
Na manhã do dia 10 de julho, às 09:30h, José Martinez, com ferimentos graves na região do tórax e abdômen, não resiste e falece. Logo após a divulgação de sua morte, operários e operárias se reúnem no Salão Almeida Garrett, na região central do bairro do Brás, para discutirem sobre o ocorrido. Nesse momento decidem divulgar boletins para convocação da massa trabalhadora a estarem presente no funeral de José Martinez. Na manhã fria e chuvosa de 12 de julho de 1917, uma quinta-feira, seu caixão está exposto na rua Caetano Pinto. Seu funeral reuniu, em média, dois mil grevistas. Às 09h, como combinado pelos organizadores, o séquito sai da Rua Caetano Pinto, atravessa a Av. Rangel Pestana, a Ladeira do Carmo, a Rua do Carmo, a Rua Benjamin Constant, o Largo da Sé e a Rua Quinze de Novembro. O cortejo do jovem sapateiro espanhol aglutina os grevistas e à medida em que ele vai passando, vai conquistando mais adeptos à greve. Enquanto o caixão vai se deslocando pelas ruas, portas de estabelecimentos vão se fechando e aqueles que ainda não tinham se decidido, entram nessa corrente de solidariedade e pesar e vão aderindo ao movimento grevista. Ao longo do caminho que o cortejo realizou, algumas paradas estratégicas foram realizadas para que oradores pudessem fazer seus discursos.
O caixão era colocado no chão e as palavras deordem e protestos eram proferidas. Por volta de 15h seu corpo é sepultado, na Quadra Geral 139, sepultura 172 do Cemitério do Araçá. Esse movimento tomou proporções inimagináveis, fechando todo o comércio dos bairros operários paulistas, bem como os serviços de bonde, energia, etc. A cidade, naquela semana de julho de 1917, parou completamente. A polícia paulista (Força Pública), juntamente com reforços vindos das bases militares do interior do Estado, sob orientações do governo de São Paulo, agiu com a máxima violência para tentar conter as manifestações e o alastramento da greve.
Os outros mortos da greve
Esses inúmeros enfrentamentos entre grevistas e soldados da cavalaria da Força Pública resultaram em inúmeras pessoas machucadas, inclusive pelo uso de armas de fogo. Os jornais da época, noticiavam, diariamente, esses confrontos divulgando dados do que ocorria pelas ruas de São Paulo. Essas ocorrências ocasionaram a morte de três pessoas (José Ineguez Martinez, de 21 anos, Eduarda Binda de 08 anos e Nicola Salerno de 28 anos), e que foram amplamente divulgadas pelos periódicos e discutidas nos trabalhos acadêmicos que versaram sobre a Greve Geral de 1917.
No entanto, os jornais continuavam denunciando mais confrontos com saldos de mortos muito além dos então conhecidos. As pessoas procuravam as sedes das redações para darem os nomes de operários que estavam desaparecidos há dias. Nas delegacias essas pessoas também eram procuradas, porém, as respostas por partes das autoridades sempre eram as mesmas: de que não havia ninguém com aqueles nomes reclamados. Listas de desaparecidos e de pessoas presas eram veiculadas, diuturnamente, nesses periódicos. Houve, inclusive, denúncias, no jornal da comunidade italiana “O Fanfulla”, de pessoas que presenciaram enterramentos no Cemitério do Araçá, na calada da noite, em valas comuns, cujos corpos eram levados por carros de bombeiros com o apoio da Força Pública. O mesmo jornal noticiou que na noite de 15 de julho tinham sido escavadas 210 valas na quadra 139, letra AO, do cemitério do Araçá, onde foram sepultados os cadáveres. Um esquadrão de cavalaria protegia as operações enquanto os carros da polícia iam e vinham.
Em relação ao aprofundamento do assunto, o escritor e pesquisador José Luiz Del Roio em seu livro “ A Greve de 1917: os trabalhadores entram em cena”, publicado em 2017 (ano em que foi lembrado o centenário da greve) aventou essa necessidade. Nesse trabalho, Del Roio aponta as tantas notícias dos periódicos que denunciaram as violências policiais e faz uma reflexão sobre as possíveis razões desses desaparecidos não terem sido reclamados por seus parentes. Uma das hipóteses levantadas é que muitos dos operários por serem estrangeiros (portugueses, italianos, espanhóis, etc), impossibilitou os familiares terem conhecimento dos fatos, para assim reclamarem seus parentes desaparecidos, uma vez que estavam fora do Brasil. Atualmente, a pesquisa de mestrado que está sendo desenvolvida no Programa de Ciências Sociais da PUC-SP, procurará elucidar que, para além das três mortes noticiadas e amplamente discutidas na historiografia, houve um número maior de mortos edesaparecidos do que os números oficiais indicam. Esse trabalho possibilitará trazer, mais do que verdade e memória: justiça e reparação.
MARTINEZ, EDUARDA BINDA, NICOLA SALERNO e tantos outros que morreram na Greve de 1917: PRESENTES!
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