Pular para o conteúdo
Colunas

Agora é Lula: os primeiros vinte dias do resto de nossas vidas

Fernando Frazão/Agência Brasil

Felipe Demier

Doutor em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e professor da Faculdade de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). É autor, entre outros livros, de “O Longo Bonapartismo Brasileiro: um ensaio de interpretação histórica (1930-1964)” (Mauad, 2013) e “Depois do Golpe: a dialética da democracia blindada no Brasil” (Mauad, 2017).

Faltam cerca de vinte dias para o primeiro turno das eleições gerais. Quanto à eleição presidencial, a esquerda se encontra em compasso de espera; não deveria. Eleger bancadas estaduais e federal de deputados socialistas é importante, mas a prioridade inquestionável deve ser derrotar Bolsonaro e, por conseguinte, eleger Lula – e, sendo possível, no primeiro turno.

Nestes vinte dias até o pleito, todos os esforços, absolutamente todos os esforços, devem estar voltados para retirar Bolsonaro do poder pelas urnas e, se for necessário, evitar seu golpe bonapartista nas ruas. As campanhas proporcionais da esquerda devem estar subordinadas à eleição de Lula, e não o contrário. É urgente que, para além e independente das candidaturas proporcionais, comitês populares para eleger Lula se proliferem nessa reta final. Materiais unificados de propaganda para Lula devem ser rodados à porfia. Se o movimento feminista assim considerar, um novo “Ele Não!” deve ser convocado. Não há tempo a perder, pois já o perdemos demais – e já perdemos demais.

Muito pouco adianta que candidatos proporcionais disputem entre si os votos do eleitorado de Lula na feira da Glória ou na Vila Madalena, sendo necessário e premente ganhar o voto para Lula daqueles que ainda não estão dispostos a fazê-lo. Só vivemos um quinto do século XXI, mas, por ora, derrotar Bolsonaro daqui a vinte dias é a tarefa do nosso século no Brasil. Dela depende o nosso futuro. Dela depende que exista futuro.

Caso o neofascismo siga no poder, de pouco valerá um punhado de deputados socialistas diante da atrocidade colimada por Bolsonaro para seu eventual próximo mandato. Se não derrotarmos o neofascismo genocida, o Brasil será um país de mortos, famintos, “cheio de árvores (cada vez menos) e gente dizendo adeus”.

Em um país mortificado, mandatos e gabinetes parlamentares de esquerda serão apenas um resto e, como disse um dramaturgo inglês de outrora, “o resto é silêncio”.

Marcado como:
eleições 2022 / lula