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MUNDO

Abaixo os imperialismos! Combatamos as guerras e a remilitarização capitalista

A inaceitável invasão do regime de Putin contra a Ucrânia voltou a trazer a guerra à Europa e desatou uma série de tendências presentes no capitalismo. Esta resolução pretende nos dotar de um marco de análise e de ação básico, da forma mas concisa possível, recolhendo uma série de posições produzidas pelos debates em curso dentro de nossa organização.

Anticapitalistas (Estado epanhol)

1.- A invasão do regime de Putin contra a Ucrânia é uma invasão imperialista, na qual uma potência regional estruturada em torno de um regime oligárquico, nacionalista reacionário e ultra conservador trata de manter sua esfera de influência por meio da guerra, estabelecendo em seus entornos governos afins, por meio do exercício de um poder duro. Nos posicionamos de forma inequívoca contra essa invasão e nos solidarizamos com o povo ucraniano.

2.- Nessa guerra convivem pelo menos 3 fatores que se entrecruzam, conformando um marco extremamente complexo e cheio de dificuldades. Por um lado, a invasão imperialista russa impulsionada pelo regime de Putin. Por outro, uma guerra civil em una zona da Ucrânia que já dura 8 anos, gerada por uma burguesia ucraniana portadora de um projeto etno-nacionalista, incapaz de oferecer um projeto plurinacional, e estimulada pelo intervencionismo russo. Ambos setores são corresponsáveis pelo fracasso dos acordos de Minsk. Por outro lado, um conflito interimperialista entre blocos: Estados Unidos, com a cumplicidade da UE, trata de converter o legítimo direito do povo ucraniano a resistir em uma guerra “proxy” (indireta, por meio de outros países) para o enfraquecimento da Rússia, mas apontando para a China, com a intenção de reforçar seu papel hegemônico no capitalismo global. Os envios de armamento militar e as sanções contra a Rússia não são demonstrações de solidariedade com o povo ucraniano, e sim estão enquadradas nessa estratégia.

3.- É óbvio que o regime de Putin não conseguiu seus objetivos imediatos nessa guerra: a Ucrânia resistiu à invasão, apoiada em parte pelo apoio militar e financeiro das potências ocidentais, mas sustentada pela vontade da maioria do povo. A guerra se estanca, se torna crônica e dá demonstrações de que vai se prolongar. Nenhuma das partes parece ser capaz de dar uma saída ao conflito.

4.- Nossa posição neste conflito se baseia em três princípios socialistas fundamentais: a independência de classe com relação aos governos capitalistas, a solidariedade internacionalista e o direito à auto-determinação dos povos. Nesse sentido, assistimos com preocupação os efeitos da guerra tanto na Ucrânia como na Rússia, e alertamos ao fato de que a prolongação da guerra aprofunda as tendências mais reacionárias sobre o terreno, assim como o perigo de uma escalada nuclear e a extensão do conflito. O governo de Putin reprimiu com força os setores anti-guerra na Rússia e promove um nacionalismo reacionário e neo-czarista exacerbado, que procura coesionar o país em torno de sua camarilha oligárquica, com o objetivo de enquadrar a população diante da crise bélica. O governo de Zelensky ilegaliza a oposição e fomenta os laços da burguesia ucraniana com os Estados Unidos, enquanto persegue um modelo de nacionalismo ucraniano anti plurinacional. Em ambos países a extrema direita foi normalizada e aproveita a dinâmica da guerra para se fortalecer.

5.- Não há dúvidas de que ambos regimes são adversários da classe trabalhadora, das mulheres, das dissidências sexuais e de qualquer projeto socialista. Um movimento emancipador internacionalista deve lutar por uma solução que recupere o horizonte de outro tipo de relações entre os povos, ou seja, que coloque no centro relações solidárias e fraternas entre o povo russo e ucraniano, acabando com a opressão grã-russa sobre a Ucrânia e o intervencionismo dos Estados Unidos e da OTAN na região.

6.- Nesse sentido, somos conscientes de que há uma série de problemas contraditórios. Reconhecer o direito do povo ucraniano a resistir à invasão não pode supor de nenhuma forma avalizar o projeto etno-nacionalista excludente de sua direção política, ignorar os laços do governo de Zelensky com os Estados Unidos, ou fazer vista grossa diante do auge da extrema direita. A mesma coisa com relação à Rússia: opor-se ao expansionismo da OTAN implica também rejeitar o regime ultradireitista de Putin e suas pretensões de reconstruir sua zona de influência ao redor de uma ordem imperial, que ajuda a esmagar revoluções na Síria e revoltas operárias no Cazaquistão, enquanto impõe uma política anti-operária e anti-movimentos LGBTI e feministas no interior do país. Nesse sentido, uma tarefa fundamental do socialismo internacional é reforçar os setores de esquerda na Ucrânia e na Rússia. Essa é a mehor forma de evitar uma derivação ainda mais reacionária e de gerar alguma esperança frente ao futuro. Nossa campanha de solidariedade, modesta mas necessária, aportou fundos para ambos setores.

7.- Dito isso, somos conscientes da atual relação de forças e propomos um plano de luta baseado em uma mobilização popular em escala global, para frear uma guerra desastrosa, com as seguintes palavras de ordem:

  • Retirada imediata das tropas russas da Ucrânia.
  • Assegurar a livre determinação do povo ucraniano, defendendo sua neutralidade e não alinhamento a qualquer dos imperialismos.
  • Direito de auto-determinação para o Donbass, sob a supervisão de países não alinhados no conflito.
  • Cancelamento da dívida externa da Ucrânia.
  • Desmilitarização e desnuclearização das fronteiras. Fim do envio de armas por parte dos países imperialistas.

8.- Essa guerra mostrou toda a hipocrisia racista e colonial do capitalismo ocidental. A UE acolhe refugiadas ucranianas enquanto fecha suas fronteiras à população de outros países. Os Estados Unidos e a UE armam a Ucrânia, mas se negam a apoiar a resistência do povo do Sahara ou da Palestina. Nos solidarizamos plenamente com as pessoas refugiadas por culpa dessa guerra e estendemos nossa solidariedade a todos os povos que sofrem a guerra e a opressão, exigindo do governo de nosso estado que leve a cabo uma política consequente.

9.- A guerra terá efeitos brutais em escala global. Por uma parte, as potências imperialistas tratarão de reordenar o mundo através deste conflito. Os Estados Unidos subordinaram a Europa a sua política e procura subjugá-la economicamente, por meio dos hidrocarburetos, exportando assim seu processo inflacionário. Por outro lado, assistimos a uma preocupante escalada remilitarizadora que se concretiza na expansão da OTAN (por exemplo, na Suécia e na Finlândia), em um drástico aumento do gasto militar e em uma aceleração do desenvolvimento das “forças destrutivas” que ameaçam a vida no planeta, aprofundando assim a dimensão ecológica da crise.Também gerará uma crise de fornecimentos básicos em boa parte do mundo, que especialmente os países mais empobrecidos sofrerão.

10.- É uma questão política central, neste período, lutar contra essa remilitarização da Europa, contra a drenagem de recursos sociais que isso significa e contra as políticas neo-imperialistas e racistas de nossos governos. Nesse sentido, e como conclusão final: se os blocos capitalistas se preparam para a guerra, a classe trabalhadora deve se preparar para a luta contra a classe dominante. Devemos convencer pacientemente a classe trabalhadora de que vale a pena combater o militarismo, já que nesta época de crise ele estará associado a uma forte deterioração, via inflação, das condições de vida de amplos setores da sociedade. Nossa tarefa é contribuir para ligar ambas questões, construindo um movimento anti-militarista e contra a crise, o mais amplo possível.

11.- Nesse sentido, o governo de coalizão espanhol assumiu sem reservas a agenda remilitarizadora da OTAN e anunciou fortes incrementos no gasto militar. Tanto o PSOE quanto os setores que compoem atualmente Unidas Podemos assumiram, na prática, essa agenda que procura reforçar os vínculos do Estado Espanhol como bloco da OTAN, como se refletiu não apenas na politica em relação à guerra da Ucrânia, como também na política vergonhoza levada a cabo sobre o Sahara, ou apoiando a expansão da aliança atlântica. O aumento do gasto militar e a subordinação à política imperialista vão de mãos dadas, e, em que pese a retórica verde e social, a maioria dos partidos da esquerda parlamentar (UP, Bildu, Mas País, ERC) assume e valida essa política, apoiando os orçamentos, fazendo parte do governo ou, em outros casos, sustentando-o. Opor-se à remilitarização imperialista no Estado Espanhol se concretiza na oposição a essa política de rearmamento levada a cabo a partir do governo, que drena recursos públicos, que é completamente oposta a qualquer política ecologista e que se prepara para o conflito entre blocos em escala global, exigindo dos partidos de esquerda que rompam, na prática, com essa política, mas construindo uma posição independente e um movimento contra a guerra e as políticas que esta pressupõe.