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MUNDO

Os gastos militares da OTAN são uma guerra contra o clima

Miranda Stewart, com tradução de Paulo Duque, do Esquerda Online

No momento em que a redução de gases de efeito estufa é mais urgente do que nunca, um recente relatório deixa evidente que as metas de gastos militares da OTAN estão levando o mundo na direção oposta. O relatório “Climate Crossfire: How NATO’s 2% military spending targets contribute to climate breakdown” [Fogo cruzado do clima: como as metas de 2% em gastos militares da OTAN contribuem para o colapso climático] foi publicado em outubro por diversas organizações ambientais e de justiça social.

Os autores estimam que a emissão de carbono militar da OTAN subiu para 226 milhões de toneladas métricas de carbono equivalente (tCO2e) em 2023, comparado a 196 milhões de CO2e em 2021. A OTAN pede que todos os seus membros coloquem pelo menos 2% de seu PIB nacional em gastos militares e que 20% desses gastos militares sejam destinados a equipamentos. A meta de 2%, embora não seja obrigatória, tem como fundo uma pressão política crescente no contexto da crescente tensão interimperialista.

Os gastos globais aumentam

Os autores concluem que, ao invés desse total desperdício, a ação climática deveria ser imediatamente priorizada: “Um corte sem precedentes nas emissões nos próximos anos só acontecerá se todas as iniciativas políticas proeminentes e, especialmente, os esforços diplomáticos globais priorizarem um objetivo acima de tudo – trabalhar para transformar radical e equitativamente a economia dos combustíveis fósseis em uma economia renovável”.

As metas de gastos da OTAN colocam em perigo a justiça climática de diversas formas. Como o relatório discute, estão conduzindo a um aumento das emissões de carbono, enquanto provavelmente desviam fundos da mitigação e adaptação climáticas. Além disso, para além do foco do relatório, os crescentes orçamentos militares mundiais estão sendo rotineiramente usados para criar injustiças ambientais, tais como o deslocamento, o extrativismo, os riscos ambientais e a destruição ecológica imposta às comunidades marginalizadas.

As exigências pelo aumento nos gastos militares são motivadas pela escalada da chamada Nova Guerra Fria com o imperialismo chinês e por motivos lucrativos da indústrias armamentista. O total global de gastos militares já atingiu o recorde histórico de US$ 2,24 trilhões. Em comparação, os gastos com financiamento climático [gastos usados no apoio das mudanças climáticas] em 2021/2022 foi de aproximadamente US$ 1,3 trilhão. Só os gastos militares da OTAN foram de US$ 1,16 trilhão em 2021. Se todos os países-membros cumprirem a meta de 2% neste ano, [os gastos militares] seriam superiores a US$ 90 bilhões. Isso significa gastar de mais de 50% em alguns países.

Aumento das emissões

Não é de surpreender que os gastos militares da OTAN já sejam muito maiores que os de seus rivais da Guerra Fria. Foram US$ 2,327 trilhões em 2021 e 2022, em comparação com US$ 158 bilhões para o Collective Treaty Security Organization (CSTO, composto pela Rússia e aliados) e US$ 578 bilhões para a China. O relatório também prevê que os gastos militares de fora da OTAN provavelmente aumentarão como resposta à corrida armamentista que a OTAN está liderando. Isso aumentará ainda mais as emissões de gases de efeito estufa e a gravidade dos conflitos armados.

Os gastos militares e a emissão de gases de efeito estufa estão intimamente conectados. A produção e uso de equipamento militar, em particular, são as principais fontes de poluição. Como resultado, a norma da OTAN de que pelo menos 20% dos gastos militares devam ser com equipamentos ajuda a garantir os danos adicionais. Apesar de todas as tentativas das indústrias de arma de um discurso sustentável [greenwashing], não existe potencial realista para dissociar os gastos militares das emissões de gases de efeito estufa com os avanços tecnológicos. Se todos os membros [da OTAN] cumprissem as metas de 2% e 20%, isso levaria diretamente a um aumento de 50% nas emissões anuais de gases de efeito estufa, saindo de 196 milhões de tCO2e em 2021 para 295 milhões de tCO2e em 2028.

Refugiados climáticos

Os políticos capitalistas das potências imperialistas, independentemente do partido político, estão claramente dispostos a continuar a injustiça ambiental tanto à serviço como por meio dos gastos militares. A recém-aprovada Lei de Autorização de Defesa Nacional nos EUA inclui um dispositivo, proposto pelo Presidente Biden, que permite o Departamento de Defesa de participar na aplicação do tratamento desumano e muitas vezes, letal dado aos imigrantes na fronteira sul. As respostas militares à imigração por parte da OTAN e da União Europeia também tiveram consequências mortais no Mediterrâneo. Muitos dos imigrantes, em ambos os casos, são refugiados climáticos e povos indígenas deslocados. As pessoas são expulsas de suas casas pelas mesmas forças destrutivas da extração capitalista e da violência que depois as atacam por procurarem segurança.

A guerra permite a extração de combustíveis fósseis, além de exigi-la e incentivá-la. Desde 7 de outubro, seis empresas petrolíferas, incluindo a BP, firmaram um acordo com Israel para a exploração de petróleo ao longo da costa de Gaza. O genocídio está claramente permitindo o desenvolvimento da indústria de combustíveis fósseis, que, em um ciclo vicioso, pode vender esse petróleo para o uso de mais expropriações violentas dos povos indígenas.

Acabar com o capitalismo

Enquanto os membros da OTAN e outras nações gastam quantias cada vez maiores de dinheiro na indústria de armas para sustentar as intenções imperialistas dos EUA e de seus aliados, eles se recusam a priorizar a mudança climática, apesar de isso ser uma ameaça à própria humanidade. Nenhum membro da OTAN se comprometeu com a redução de 43% nas emissões que o International Panel on Climate Change (IPCC) concluiu ser necessária até 2023 para limitar o aquecimento em 1,5º.

Tudo isso é um indicativo da natureza brutal e destrutiva do sistema capitalista em que vivemos, em que a produção de armas para destruição da vida humana é priorizada ao invés da necessidade das pessoas ou do nosso ecossistema. Necessitamos tirar a indústria de armas das mãos dos capitalistas belicistas aproveitadores e usar tais recursos, incluindo as capacidades de sua força de trabalho, para decretar uma transição global para as energias renováveis e para outras medidas que podem amenizar a destruição causada ao nosso planeta. Não temos tempo a perder, precisamos de uma mudança socialista internacional agora.

Fonte: https://internationalsocialist.net/en/2024/02/new-cold-war
O artigo acima representa a opinião do autor e não necessariamente corresponde às opiniões do EOL. Somos um portal aberto às polêmicas e debates da esquerda socialista.