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BRASIL

Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, tem nova chacina

da redação
Reprodução

Pelo menos dez pessoas foram encontradas mortas na localidade da Palmeira, no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo. Os corpos foram resgatados pelos próprios moradores em uma área de mangue, desde a noite deste domingo, 21. Trata-se de uma nova chacina e, dramaticamente, no dia seguinte ao Dia da Consciência Negra.

A Polícia Militar assumiu a operação, e disse que “encontrou com um grupo de traficantes na mata”. A operação e as mortes não foram comunicadas à Delegacia de Homicídios, o que fez com que a Polícia Civil só chegasse ao local 15 horas após as mortes. A ação seria uma retaliação a morte de um policial militar, o sargento Leandro Rumbelsperger da Silva, atingido por traficantes na sexta-feira.

Segundo relatos de moradores, policiais entraram atirando e o número de mortes pode ser maior. Outras 15 pessoas estariam desaparecidas o que aproximaria a chacina da do Jacarezinho, neste ano, com 28 mortes.

Ao jornal Extra, um morador denunciou: ‘Resgatamos os corpos e não achamos nenhuma arma. Fizeram uma chacina’. A execução, que teria também sinais de tortura, atingiu traficantes e moradores, como jovens que estavam em bares e nas ruas do bairro. como o jovem Kauã Brener Gonçalves Miranda, de 17 anos, que estava com amigos. “Todo mundo gostava dele. Era um irmão bom. Não entendemos o que aconteceu. Minha mãe está a base de remédios com essa tragédia”, disse uma irmã. Ou o ajudante de pedreiro Rafael Menezes Alves, 26 anos. “Meu irmão era nascido e criado aqui. Ele era ajudante de pedreiro e estava na rua quando tudo aconteceu. Ele estava bebendo com os amigos quando os policiais arrastaram ele e fizeram isso”. Ao site Metropóles, moradores denunciaram corpos degolados e pessoas arrancadas de dentro de casa. Há fotos de pichações de uma milícia, feita na manhã de hoje, com a frase “obrigado pela recepção”

João Pedro

A chacina ocorreu na mesma região, no Complexo do Salgueiro, em que em novembro de 2017, oito pessoas foram mortas com 35 tiros de fuzil, durante uma operação envolvendo militares do Exército. Dois inquéritos foram abertos para apurar o caso, mas foram arquivados sem identificar os culpados. Em maio de 2020, o menino João Pedro Mattos, de 14, foi baleado quando brincava com amigos dentro de casa, durante uma operação conjunta das polícias Federal e Civil no Salgueiro.

A letalidade nas ações policiais tem aumentado no Leste Fluminense, de 2020 para cá, segundo o Instituto Fogo Cruzado. “A cada dois tiroteios no Leste Metropolitano, um tem mortos e/ou feridos. A média da Região Metropolitana é de um para quatro”. O 7º Batalhão da Polícia Militar, de São Gonçalo, concentrou o maior número de tiroteios em ações policiais e de mortes nessas circunstâncias em toda a Região Metropolitana. Foram 168 ações ou operações policiais com tiros este ano. Mais que o dobro do segundo colocado, o 12º BPM (76), que cobre dois outros municípios do Leste Metropolitano: Maricá e Niterói.

São Gonçalo é governada desde o início do ano por uma gestão apoiada e alinhada ao presidente Jair Bolsonaro. O prefeito, Capitão Nelson, é ex-policial e se elegeu prometendo enfrentar a ação dos criminosos no município. Nos dias que antecederam as eleições, circularam denúncias que associavam o passado do político a grupos de extermínio, com o carro da linguiça, que circula nos bairros. Nelson foi citado pela CPI das Milícias como líder de uma facção que agia no bairro Jardim Catarina.

A Defensoria Pública está no local prestando apoio às famílias, assim como a Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Vereadores de São Gonçalo e o mandato do vereador Professor Josemar, do PSOL.