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MOVIMENTO

É hora de sacudir a poeira do movimento estudantil

Por: Izabella Lourença*, de Belo Horizonte, MG

Eu cheguei na universidade em 2011 e vi o Movimento Estudantil como quem vê uma casa abandonada há muito tempo. Ouvia falar que essa casa era radiante, abrigava muitos jovens indignados a fim de organizar a luta pelos direitos. Às vezes eu achava um panfleto velho que sobreviveu e pensava: “Nossa, queria ter vivido nessa ocupação da reitoria”. Mas, o que eu via eram só lembranças. Ouvindo a tosse daqueles que lutaram até se cansarem, eu respirava a poeira do Movimento Estudantil.

Me juntei a algumas pessoas e tentei limpar a casa. Perdi as contas de quantas atividades eu organizei para que as pessoas se sentissem acolhidas na casa do Movimento Estudantil. Mas, infelizmente, poucos estudantes ainda a viam como uma forma de organizar indignação. Tentei, tentei… E estou há alguns anos tentando. Confesso que cheguei a pensar que era melhor sair da casa porque o sol estava brilhando mais forte lá fora.

Hoje, quando olhei para o lado, vi que tinham chegado novas pessoas, que já podemos respirar ares de luta e sacudir a poeira do Movimento Estudantil. Vi quase mil escolas ocupadas e os estudantes do Ensino Médio dando aula sobre como não vão engolir uma reforma autoritária combinada com o congelamento do investimento na educação.

Hoje, quando olhei para o lado, vi mais de trinta universidades ocupadas e muitos jovens buscando uma forma de se fazer ouvir. De repente, vi que estava construindo uma ocupação na minha universidade e que as assembleias de curso começaram a reunir muitos estudantes. Eu vi que ao meu redor tinha muita gente com disposição de organizar a luta, ir para cima do governo e parar o país contra a retirada dos direitos.

Demorei a entender e até fiquei emocionada quando vi que o Movimento Estudantil está voltando a ser perigoso e que as pessoas estão voltando a confiar em suas próprias forças para mudar o país. Se você ainda não viu isso na sua escola ou universidade, quero te fazer um convite. Olhe para o lado com mais atenção, escute o que dizem as pessoas na sala de aula, na fila do bandejão, ou no ônibus. Ainda existe brasa para a gente acender a fogueira.

Se o DCE da sua universidade, ou o DA do seu curso não quiser arrumar a casa para organizar os estudantes, monte um grupo e organize. Tantos retrocessos na educação tentam apagar qualquer faísca de construção de um conhecimento crítico que se transforme em ação. Mas, o tiro está saindo pela culatra. A lembrança está se transformando em confiança. Precisamos unificar as escolas e universidades em um movimento só contra os retrocessos na educação.

O Movimento Estudantil está saindo dos livros e voltando a fazer história. O movimento que já foi protagonista na derrubada da ditadura, que foi parte ativa na derrubada de um presidente e que conseguiu barrar reformas que atacavam diretos, como a Reforma Universitária do FHC, está voltando a entrar na cena da política brasileira. Se entrarmos com toda nossa força, podemos barrar os retrocessos e interferir na dinâmica que segue o Brasil.

*estudante ocupante da UFMG

Foto: Reprodução Facebook