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MOVIMENTO

Ser jovem e não ser revolucionário é uma contradição genética!

Eu comecei a militância secundarista muito cedo, com 13 anos, quando comecei, juntamente com muitas meninas, a organizar a chapa do grêmio de minha escola quando estava no 8° ano, em 2021. Minha chapa venceu e me tornei copresidenta do Grêmio Marielle Franco na EMEF Dias Gomes, em Guaianazes, uma das regiões mais pobres do estado de São Paulo.

Nycolle Fernandes, de São Paulo (SP)

Com 14 anos, em 2022, ingressei no Afronte!, quando decidimos organizar em nosso grêmio causas polêmicas. O Grêmio Marielle Franco nasceu independentemente do governo municipal e apresentou pautas das juventudes e não apenas da escola. Esse foi um período essencial para minha formação política. Tudo que faço hoje é fruto do que aprendi como gremista. Essa geração de Guaianazes formada no Grêmio Marielle Franco foi formada por adolescentes de 13 a 15 anos, que lutava por absorventes nos banheiros da escola e por modificações na regra das roupas femininas da escola. Com o tempo conseguimos trazer rodas de conversa sobre LGBTQIAPN+, machismo e racismo, temas que eram silenciados para nós. Vimos a mudança da escola porque a gestão decidiu nos ouvir e apoiar nossas pautas. Em 2022 conseguimos construir o 1° Encontro de Grêmios Independentes de Guaianazes.

Quando saí do grêmio, no 9° ano, iniciei meu ensino médio na ETEC Carlos de Campos em 2023, onde atualmente curso no primeiro ano. Participei do 59° CONUNE onde aprendi o que realmente era disputa política e como tudo funcionava, foi um congresso que me deu uma formação fundamental para entender a luta estudantil, em especial a vida de militante secundarista.

Como secundaristas somos muitas vezes invisibilizados pelos universitários que tratam a causa do ensino fundamental e médio como menos importante. Escrevi um pouco do que eu e outros secundas fizeram em Guaianazes porque sei que os secundaristas precisam ser tratados com mais seriedade no movimento estudantil. Entramos com cara e coragem na luta, faltando na escola, chegando tarde dos atos e criando crises em casa por conta dos horários.

Infelizmente, a política para pessoas de periferia, como eu, acontece apenas nas eleições. Em tudo somos marginalizados. Somos excluídos da vida social e da vida política, inclusive pela esquerda. Tudo é mais difícil para quem nasce numa quebrada. Para ir a um ato estudantil que acontece na Avenida Paulista às 8h temos que acordar às 5h da manhã. Além da escola, se quisermos pensar em universidades, temos que estudar em cursinhos comunitários para melhorar nossa chance de ingresso na universidade e com isso vamos dormir de madrugada estudando para os vestibulares.

O sonho de um mundo socialista se inicia para nós quando perdemos contato com nossos pais pois, pois os mesmos saem cedo para trabalhar e chegam tarde sem conseguir, pelo menos, mínimo falar com seus filhos. Nós, jovens de periferia, aprendemos a viver a vida dos adultos muito cedo e isso geralmente não é bom.

Hoje entendo que o socialismo é um projeto a ser pensado e construído pelo proletariado, pelos povo oprimido de todo o mundo. Por isso meu desejo é lutar por um mundo socialista e fazer parte do planejamento e construção dessa sociedade. Porém, já percebi que não tenho formação teórica alguma, principalmente quando vejo os militantes mais velhos falando. No entanto, isso me dá mais vontade de estudar para melhor lutar.

Decidi ingressar na Resistência, corrente do PSOL, porque acredito que a luta socialista é teórica e prática. Tem que ter ação, diálogo e planejamento. Tive a sorte de conhecer dirigentes políticos trotskistas que me passaram leituras sobre a revolução Russa e a história de luta do povo brasileiro do passado e do presente.

Desde início do meu ingresso no Afronte! A militância da RESISTÊNCIA de Suzano teve muito cuidado comigo e não me jogou nas ações sem me dar um preparo. Fui para os atos e para as manifestações e de repente me vi falando em cima de caminhão de som com apenas 15 anos. Sei que politicamente abri um pequeno espaço de atuação e sei que isso foi graças a militância dos camaradas da RESISTÊNCIA. Hoje percebo que os estudantes secundaristas não costumam ocupar espaços de liderança nas entidades, inclusive essa é uma das pautas que já apontei desde o dia que ingressei na RESISTÊNCIA. Quero ajudar a levar consciência de classe para os jovens que, assim como, eu nasceram nas regiões mais pobres. Espero que os secundaristas da periferia possam ocupar lugares que foram destinados apenas para as elites.

Acho importante ressaltar aqui minha felicidade por entrar na Resistência. Quando a juventude marginalizada entra em um movimento revolucionário é porque vê um grande sonho de justiça no futuro.

Por isso tudo que convido a juventude periférica a conhecer a RESISTÊNCIA, o PSOL e o Afronte!

Vamos construir o socialismo!