Dia 19 de maio, um domingo comum, no bairro do Guamá (que tem “reforço” da Força Nacional), dezenas de pessoas se divertindo no Wanda’s bar e recepções, e, às 16h, homens encapuzados entraram e executaram 11 pessoas, a maioria com tiros direto na cabeça, sem nenhuma chance de defesa, sendo cinco mulheres e seis homens. Além desses, uma pessoa está hospitalizada. Mais pessoas não foram executadas porque conseguiram se esconder e pular um muro de seis metros. A última chacina que se tem notícia aconteceu em janeiro deste ano.
Imediatamente, o Tenente-Coronel da PM, Jorge Wilson de Araújo, se apressou em dizer na entrevista que o bar servia de fachada para o consumo e tráfico de drogas, e em seguida, o governador Helder Barbalho (MDB) fez um vídeo dizendo que é o caso seria “uma tentativa de impedir o governo do Estado de continuar atuando”. Como se o povo do Pará estivesse vendo alguma política pública consequente de combate à violência, somente a presença de 257 homens da Força Nacional nos bairros considerados “área vermelha”, o que não impediu a ação dos executores. Ambas as declarações, precipitadamente, tentaram caracterizar a chacina como resultado do tráfico de drogas, como se as pessoas que estavam no bar fossem aqueles que atentam contra “as famílias de bem”.
Não foi a primeira chacina, infelizmente não será a última. A periferia chora e sangra há muito tempo pelas bandas das terras da Cabanagem. Não podemos naturalizar, por isso, aconteceu uma reunião nesse dia 20, no próprio bairro do Guamá, com cerca de cem pessoas e entidades de direitos humanos, para organizar o levante da periferia contra a violência, e um ato foi confirmado para o dia 26 (domingo) denominado “Guamá pela Paz”. A população de Belém, os partidos políticos, seus parlamentares e os diversos movimentos sociais têm a tarefa de se solidarizar e estar presentes no ato, ajudando a cobrar uma investigação séria por parte do Governo do Estado e da Prefeitura, como colocou a nota da executiva municipal e estadual do PSOL, “um enfrentamento sério às organizações criminosas ligadas ao narcotráfico e aos grupos de extermínio formado inclusive por agentes públicos, como apontou a CPI das milícias da Assembleia Legislativa do Estado do Pará”. A referida reunião foi emocionante e o sentimento que predominou foi de transformar o luto em luta. Todas e todos sabem que a realidade diária nas periferias está explodindo com tanta violência. Diariamente, jovens, na sua grande maioria negros, são assassinados, como disse uma moradora na reunião: “são os filhos dos trabalhadores que estão morrendo”. Basta!
O governador do estado e o secretário de segurança pública não podem esconder que há milícias atuando livremente no Pará, como bem mostrou o resultado da CPI (instalada após outra chacina ocorrida em 2014). Aqui um trecho do documento: “grupos de milícias atuam plenamente no Estado, com a participação da PM, sendo que pelo menos 3 deles coexistem na região metropolitana de Belém, financiados por empresas, comércio ilegal, e tráfico de drogas. Os milicianos são respeitados na corporação, seja por suas destrezas ou pelo valor que apresentaram em combate”. É levando esse elemento da realidade (ainda atual) em consideração que se pode traçar políticas de combate à violência no Estado, que não passam por mais força, como se tem comprovado com a presença da Força Nacional. E o prefeito de Belém, o que disse? Não disse! A capital está desgovernada, vivemos uma verdadeira guerra urbana, que tanto do lado dos policiais (só este ano 19 PMs assassinados, 40% do total de 2018), quanto da população geral, são jovens, negros, moradores das periferias, filhos da classe trabalhadora que está morrendo. São os nossos. São vidas que o luto pouco sensibiliza. Parem de nos matar! Toda solidariedade às famílias. Que a periferia se levante.Todas e todos ao ato dia 26.
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