Na terça-feira, dia 20, a Ford anunciou o fechamento de sua planta em São Bernardo do Campo e sua saída do mercado de caminhões e encerramento da produção do New Fiesta. São mais de quatro mil trabalhadores diretos e terceirizados na planta, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC). Segundo dados do DIEESE, o impacto pode chegar a até 24 mil empregos. Isso porque a decisão que a diretoria da Ford tomou sem discutir com ninguém afeta toda uma cadeia produtiva que não encontrará em outras fábricas compradores para o que produzem.
É uma situação grave numa região que já perdeu 40 mil postos de trabalho na indústria de transformação entre 2015 e 2016 e 80 mil entre 2011 e 2017. Havia uma expectativa de que, a partir de 2017, teria início uma reversão no quadro, com a criação de pouco mais de 1500 empregos formais na indústria nesse ano. No entanto, o anúncio da Ford vem mostrar que a recuperação econômica produzida pelas reformas de Temer e apoiadas por Bolsonaro – reformas que saíram tão caro para os trabalhadores – é muito mais frágil do que boa parte dos economistas gostaria de acreditar.
As demissões atingem trabalhadores que deram longos anos e sua saúde ao trabalho na fábrica. Atingem as famílias e alastram-se por toda a região. Agora Orlando Morando (PSDB), prefeito de São Bernardo do Campo, e o governador João Dória (PSDB) criticaram a decisão e afirmaram que buscarão revertê-la, mas na verdade não são a favor dos trabalhadores, pois apoiaram a reforma trabalhista e agora apoiam a da previdência.
Nos últimos tempos, temos ouvido também que os trabalhadores precisam aceitar perder direitos para manter os empregos. É o discurso que está por trás da “carteira verde-amarela” de Paulo Guedes, Ministro da Economia de Bolsonaro e é o que foi aplicado há poucos dias pela GM de São José dos Campos (sobre esse assunto, leia mais aqui). No entanto, se mesmo com a temerosa reforma trabalhista e a possibilidade de terceirização irrestrita a situação econômica segue se deteriorando, a única alternativa que temos no momento é confiarmos em nossas próprias forças e construir a unidade dos metalúrgicos em todo o país e do conjunto dos trabalhadores na região do ABC paulista para cercar de solidariedade os trabalhadores da Ford e o SMABC.
O que ocorreu não é uma fatalidade, a Ford deixou de investir na plana de SBC há anos e a foi deixando definhar, apesar da pressão dos trabalhadores e da população em contrário.
Os trabalhadores da Ford já decretaram greve contra as demissões. Resistiremos ao lado dos trabalhadores porque a montadora não tem o direito de tratar como descartáveis aqueles que, com seu trabalho, lhe deram incontáveis lucros desde sua implantação, sejam as operárias e operários, seja a população da cidade que teve que se adaptar e adequar a décadas de funcionamento de uma planta industrial como essa, com todos os impactos sociais e ambientais decorrentes.
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