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MOVIMENTO

Trabalhadores da CSN: De braços cruzados, bolsos vazios e punhos cerrados!

Michelangelo Torres, de Volta Redonda, RJ
Reprodução

Assembleia exige reintegração de demitidos

Conforme o próprio presidente da CSN, Benjamin Steinbruch, em 2021 a empresa apresentou o melhor desempenho econômico de sua história, com lucro e retorno aos investidores. Em contrapartida, a Participação nos Lucros e Resultados (PLR) tem diminuído anualmente e não há reposição salarial aos trabalhadores da siderúrgica. Parte significativa dos trabalhadores depende de uma base salarial em torno de R$ 1.900 mensais. Daí a rebelião no chão de fábrica iniciada nos últimos meses na Companhia Siderúrgica Nacional de Volta Redonda, a maior da América Latina.

A rebelião e a “greve” na CSN

Desde março, trabalhadores realizam protestos e mobilizações por reajuste salarial com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). O curioso é que a mesma reivindicação tem mobilizado outras categorias no país, como metalúrgicos, professores e servidores públicos. A pauta econômica parece ser um impulsionador importante de lutas sociais do trabalho neste ano de 2022, diante do amplo processo inflacionário sob o governo Bolsonaro.

Eles exigem 30% de reajuste, que corresponde a reposição da inflação e aumento real. A empresa começou oferecendo 8,1%, para quem recebe até R$ 3.000, e 5%, para quem recebe acima desse valor.

O movimento se iniciou na área de manutenção de andaimes (que puxou outros setores) a partir de uma explosão de base, por fora de qualquer direção sindical. Uma verdadeira explosão de ira operária em função do achatamento salarial. Com esta pauta, outras reivindicações foram sendo incorporadas à luta (como o retorno do turno de 6 horas, plano de saúde nacional, reintegração de todos os demitidos, fim do banco de horas, vale alimentação incorporado ao salário, PLR de 10%, etc).

Em 8 de abril, o Sindicato dos Metalúrgicos (alinhado aos interesses políticos da CSN) apresentou a proposta patronal em regime de votação, com voto secreto. O resultado foi arrepiante: 39 votos favoráveis e 6.040 votos contrários a proposta, e apenas 3 votos nulos. Os ânimos apelavam pela deflagração de greve. Na segunda votação do acordo coletivo, em 19 de abril, a recusa foi taxativa: a esmagadora maioria pelo Não (250 votos pelo sim; 6.569 pelo não; 01 branco; 06 nulos, totalizando 6.866 votantes).

As punições patronais não tardaram. Para desmoralizar o movimento, quase toda a comissão de trabalhadores que reivindicava participar das negociações de acordo coletivo deste ano foi demitida pela empresa (a maioria não era sindicalizada). No total, mais de 200 operários foram demitidos, gerando profunda indignação. Contudo, em cumprimento com determinação da 2ª Vara do Trabalho de Volta Redonda, a CSN foi obrigada no dia 05 de maio a reintegrar ao seu quadro de pessoal nove metalúrgicos demitidos sem justa causa. A ordem judicial foi entregue à empresa por um oficial de justiça. Ainda não sabemos se a empresa irá recorrer.

 

Conforme relatos da Oposição, não há neste momento uma “greve” propriamente dita, mas um processo de protestos com assembleias no local de trabalho e operações paredistas pontuais. A produção da siderúrgica nunca foi interrompida propriamente, vale dizer. O próprio sindicato não deflagrou greve da categoria. Mas a mobilização é contagiante, ainda que com contradições.

Ocorre que, diante de uma mobilização coletiva, é necessário nos atentarmos para ao menos três elementos: a) qual a composição social/política da base e da vanguarda do movimento? B) quem são as lideranças/direções? C) qual o programa se reivindica (quais as palavras de ordem)?

Entre a peãozada, há um peso significativo de jovens (sem tradição sindical) e neopentecostais (que inclusive utilizam consignas religiosas em meio às mobilizações). Mas, curiosamente, uma das principais consignas é “não à sindicatos” e “não à partidos”. Nas eleições de 2018, se dependesse de Volta Redonda, vale dizer, Bolsonaro teria sido eleito em 1º turno, com 55,22% dos votos (contra 18,22% de Haddad, segundo colocado), tendo cerca de 65% de votos no segundo turno, acima da média nacional[1]. Ou seja, a ampla maioria da população da cidade votou em Bolsonaro. A presença de igrejas neopentecostais também é significativa, inclusive dentro das fábricas. A desconsideração desses elementos, o que dá complexidade ao quadro, como vem fazendo algumas organizações externas que entendem equivocadamente que se trata de uma greve operária padrão, não ajuda a compreender a dificuldade de atuação política no movimento.

A Oposição Metalúrgica estava unificada até recentemente, quando houve um racha entre, de um lado, os militantes que compõem a Oposição Metalúrgica do Sul Fluminense (CSP-Conlutas/CTB) – fundamentalmente PSTU/PCdoB; e de outro, apoiadores de setores do PSOL, PCB, PT, PCO, UP – isto é, sem predomínio de alguma central sindical. Com a dificuldade da oposição em intervir na direção do movimento, somado ao fato de a direção da entidade sindical (Força Sindical) estar alheia à luta dos trabalhadores, ao contrário, atua alinhada às forças patronais, o movimento caminha com enormes dificuldades e contradições. Forças políticas organizadas estão em atuação. Mas a singularidade do movimento paredista em Volta Redonda está no fato de que tem sido um processo organizado por um movimento de base independente, sem articulação com a direção sindical. A Oposição Sindical busca intervir, localizar-se e apoiar o movimento, mas não o dirige.

Próximos passos

As negociações do acordo coletivo com a empresa ainda permanecem em aberto. A data-base dos metalúrgicos foi dia 30 de abril. Como não houve acordo, a CSN prorrogou o acordo anterior até o próximo dia 31 de maio. Até lá, novas rodadas de negociações devem ocorrer. A apreensão é que a direção sindical realize alguma manobra a favor da empresa durante as votações. 

O desafio daqui em diante é: quais serão os desdobramentos para o movimento? Serão capazes de se criar comissões de fábrica ou organismos de mobilização mais permanentes? Os operários permanecerão em luta ou aceitarão a próxima proposta de acordo coletivo da empresa, sob manobras de votação? Quais serão os desdobramentos dos dois setores que compõem a Oposição? Os trabalhadores fortalecerão uma chapa independente para as próximas eleições sindicais? O que restará deste movimento? São indagações que aguardaremos ansiosos após o desdobramento da luta. Até lá, os trabalhadores da CSN merecem toda a nossa solidariedade!

A luta dos trabalhadores da CSN merece todo apoio do movimento sindical classista brasileiro. Essa é uma luta que representa a de todos trabalhadores no país. O simbolismo no Sul Fluminense é enorme, entusiasma a memória daqueles que viveram a geração dos anos 1980. Nesta sexta, 06, um ato nacional será realizado em São Paulo, na sede da empresa, em solidariedade, com representações de trabalhadores de Volta Redonda, Porto Itaguaí e Congonhas.

A entidade sindical vivenciará no final de julho um novo processo eleitoral para votar em uma nova direção sindical para o próximo período. É muito importante que a direção do sindicato seja recuperada por uma chapa classista e de luta. A despeito das contradições do movimento, estes trabalhadores de punhos cerrados merecem nosso respeito!

*Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, membro da Direção Nacional do SINASEFE e militante da Resistência/Psol.

NOTAS

[1] Fonte: Gazeta do Povo. Resultados para Presidente no Rio de Janeiro em Volta Redonda (RJ).

 

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