Lula obteve 57,25 milhões de votos (48,43% do total de válidos), ficando próximo de uma vitória no primeiro turno. Mas Bolsonaro cresceu perigosamente na reta final. Com 51,07 milhões de votos (43,20% do total), obteve um desempenho consideravelmente acima do que previam as pesquisas. Com isso, haverá uma batalha duríssima no segundo turno. A disputa está em aberto: nada está ganho, nem perdido. A luta política das próximas quatro semanas decidirá o resultado.
Embora Lula tenha obtido uma vantagem de votos não desprezível, ela não confere automaticamente favoritismo ao ex-presidente no segundo turno. Isso porque Bolsonaro teve uma vitória política no domingo. Primeiro, porque conquistou um resultado superior às expectativas, reduzindo a distância para Lula. Segundo, porque, além de vencer no Sudeste (a região mais populosa do país), Sul e Centro-Oeste, aliados diretos de Bolsonaro foram eleitos ou passaram ao segundo turno como favoritos nos estados dessas regiões. Com isso, o bolsonarismo conduz uma ofensiva política nesse momento, que precisa ser revertida.
Se Lula, por um lado, demonstrou enorme força popular, alavancada pelos nordestinos, os trabalhadores mais pobres e os mais jovens; Bolsonaro, por outro, revelou que conserva uma base social gigante, coesa e mobilizada, que é majoritária no Centro-Sul do país.
As urnas mostraram, assim, um país politica e socialmente profundamente dividido, fraturado. Nessa polarização política extremada, as alternativas da chamada terceira-via desidrataram quase que completamente na reta final. Lula e Bolsonaro concentraram 94% dos votos válidos no primeiro turno, um recorde.
O grau acentuado de polarização nessa disputa aqui no Brasil está em sintonia com diversas outras eleições que ocorreram recentemente no mundo em que houve disputas bastante acirradas entre alternativas de extrema direita e de esquerda (ou de centro-esquerda). No Chile, Colômbia e Peru, por exemplo, a esquerda venceu por pequena margem em segundo turno.
Há evidências que sugerem que houve uma significativa migração de voto útil antipetista (sobretudo em São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul) saindo de Ciro e Tebet para Bolsonaro, o que teria impulsionado a votação do miliciano nos últimos dias. Além disso, há indícios de que Bolsonaro teve uma base de apoio mais engajada eleitoralmente no primeiro turno, sendo menos afetado pela alta taxa de abstenção, que foi de 20,95%, isto é, 32,7 milhões de pessoas não foram votar no domingo.
Com o resultado de domingo, uma intensa preocupação tomou conta das pessoas de esquerda. Há razão para esse sentimento. Afinal, não é impossível que Bolsonaro consiga virar o jogo, vencendo no segundo turno, o que teria consequências terríveis para o povo brasileiro e o conjunto da esquerda e dos movimentos sociais. O avanço do bolsonarismo na reta final, elegendo inclusive uma expressiva bancada de senadores e deputados de extrema direita, explica e justifica essa clima de apreensão.
Mas, se a batalha não está ganha de antemão, tampouco ela está perdida. Lula venceu o primeiro turno com uma diferença de 6,2 milhões de votos, o que é considerável. Além da vitória no Nordeste e no Norte do país, ganhou em Minas Gerais e nas regiões metropolitanas de São Paulo e de Porto Alegre. Em relação ao primeiro turno de 2018, Bolsonaro perdeu peso eleitoral no Centro-Sul do país, embora mantenha uma maioria nessa região. O PT e o PSOL aumentaram suas bancadas de deputados federais e estaduais. Boulos, do PSOL, foi o deputado federal mais votada de São Paulo. O PT elegeu três governadores no primeiro turno (Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí) e está em mais quatro disputas no segundo turno (São Paulo, Bahia, Sergipe e Santa Catarina).
Há motivo real para a preocupação com o perigo de uma virada de Bolsonaro. Mas não se pode cair num clima de desespero, porque nada está perdido. Agora é organizar todos os setores anti-Bolsonaro para a guerra do segundo turno. É momento de força, coragem e unidade. Tomando as ruas, apresentando as propostas para melhorar a vida do povo e denunciando todas as mazelas e perversidades de Bolsonaro, é possível vencer. Vamos avermelhar o país, sem medo. Vamos derrotar o fascismo! À luta!
Três linhas de ação para vencer
Em primeiro lugar, é necessário máxima mobilização nas ruas e nos locais de trabalho, estudo e de moradia, bem como nas redes sociais. A campanha precisa ganhar ampla visibilidade pública com os materiais de campanha. É preciso criar uma clima que anime e contagie setores de massa, que dê força e esperança ao povo. Fazer com que a campanha Lula seja mais vibrante e presente nas ruas será chave para reverter a ofensiva bolsonarista. É preciso criar uma onda que encoraje o uso de adesivos, de bandeiras, de roupas vermelhas, enfim, que produza uma contra-ofensiva política.
Os parlamentares eleitos (e também os que não foram), os movimentos sociais, os sindicatos, os partidos políticos, os coletivos, o movimento negro, feminista, LGBTQI, ambientalista, os ativistas de esquerda independentes, os anarquistas e autonomistas, enfim, todas e todas que sabem o perigo que representa uma eventual vitória de Bolsonaro, têm que entrar em campanha imediatamente, com carga máxima e de modo articulado, sempre que possível.
Nesse sentido, tem importância a organização coletiva da campanha nas ruas e nas redes, de modo a potencializar ao máximo o alcance da agitação política a favor de Lula. É preciso organizar e divulgar as panfletagens de rua, as mesinhas nas esquinas, a distribuição de adesivos, as visitas de casa em casa nos bairros, as conversas nas portas das fábricas e locais de trabalho e estudo, etc. A Frente Fora Bolsonaro pode ajudar na articulação de ações unificadas de campanha.
Devemos fazer uma campanha para fazer com quem votou em Lula vote de novo. Para quem votou em Ciro e Tebet (e nos demais candidatos), vote 13 dessa vez. Para quem não votou no 1o turno, vote dia 30 em Lula. E para, até mesmo, virar voto de quem optou por Bolsonaro no domingo passado. Cada voto importa.
Em segundo lugar, é necessário apresentar propostas concretas para melhorar a vida do povo trabalhador e oprimido, assim como dos pequenos proprietários e da classe média. Ou seja, de um lado, defender medidas como o aumento do salário mínimo acima da inflação, reajuste considerável do Bolsa Família, alívio das dívidas das famílias trabalhadoras, geração de milhões de empregos com obras públicas, avanço das cotas raciais, combate a violência às mulheres, entre outras propostas. De outro, plano de crédito barato aos pequenos negócios nas cidades e produtores no campo, renegociação de suas dívidas em condições favoráveis pelos bancos públicos, barateamento dos combustíveis e dos planos de saúde.
Em terceiro lugar, é fundamental denunciar pesadamente toda tragédia produzida e representada por Bolsonaro. Bater ainda mais duro no que ele fez durante a pandemia, nos casos de corrupção que envolvem sua família e governo. Na piora das condições de vida durante seu governo. No uso oportunista e mentiroso da religião para ganhar votos. No seu projeto de implantar uma ditadura no país. Em cada perversidade que Bolsonaro fez e falou no passado; no seu ódio às mulheres, aos negros, aos nordestinos, às LGBTQIs e ao povo pobre. Com cada um e cada uma que vamos conversar nessa eleição, para disputar o voto, devemos escolher o argumento mais certeiro contra Bolsonaro.
Temos menos de quatro semanas para derrotar o fascismo nessas eleições. São certamente as semanas mais importantes e perigosas da nossa geração. Nosso dever é a luta pela vitória, até o fim. Não será fácil, nem há certeza do triunfo. Mas é possível vencer. No combate que faremos em cada bairro, em cada rua, em cada conversa, em cada mensagem, mora a esperança de conquistar um novo dia, sem Bolsonaro no poder. Vamos com Lula 13, até a vitória!
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