A expansão da variante ômicron provocou um novo momento da pandemia, marcado por índices recordes de contágio – passamos de 2 milhões de casos por dia no mundo nos últimos 7 dias – por conta da alta transmissibilidade da variante que, até aqui, tem se mostrado menos letal e tem seus efeitos contidos ou atenuados pelas vacinas. No entanto, pela transmissibilidade, a ômicron tem provocado superlotação dos serviços de saúde, com adoecimento e esgotamento das equipes, que já estão há dois anos na linha de frente do combate à pandemia, e superlotação das enfermarias, afetando o atendimento aos demais pacientes.
Neste momento, segundo alerta da Fiocruz, a superlotação já começa a atingir as UTIs com leitos de covid, em grande medida desmontadas no último período em função da queda dos casos provocada pela vacinação. Em algumas cidades, a lotação é crítica, com destaque para Goiânia, com 94% dos leitos de UTI Covid ocupados. Em seguida vem Fortaleza (88%), Belo Horizonte (84%) e Recife (80%). Vitória (77%), Porto Velho (76%), Brasília (74%), Maceió (68%) e Salvador (68%) também estão com uma ocupação que preocupa os especialistas.
A transmissão já começa a provocar a retomada da curva de óbitos, em especial entre a população não vacinada – 22% dos brasileiros não tomaram nenhuma dose e 32% apenas a primeira. Entre os que ocupam os leitos de UTI, a maioria é de não vacinados, repetindo fenômeno mundial.
Diante da explosão dos casos, que ainda está longe de atingir o pico, o presidente Jair Bolsonaro segue em sua cruzada contra a vida, cometendo novos crimes e dando seguidas declarações absurdas, como a de que a ômicron “é bem-vinda”. Confira a seguir sete crimes cometidos pelo presidente genocida e pelo ministro fantoche da Saúde, Marcelo Queiroga, nesta nova fase da pandemia, que se somam aos do relatório final da CPI.
1 – Governo deixou o País sem dados sobre a Covid
No dia 10 de dezembro, o sistema do Ministério da Saúde que totaliza os dados sofreu um “ataque cibernético” não totalmente explicado, no dia 10 de dezembro. Se já havia falta de confiança nos dados sobre casos e óbitos por covid-19 divulgados pelo governo federal, a ponto de ter sido criado um consórcio de mídia para monitorar os dados disponibilizados pelos estados, a situação agora é próxima a de um verdadeiro apagão. O Brasil passou a virada do ano literalmente às escuras, sem conseguir medir o crescimento dos casos. Os dados utilizados, que apontam a velocidade do contágio, são principalmente a partir dos resultados dos testes, pelas clínicas e pelo SUS. Ainda assim, estima-se que o Brasil hoje tenha de 400 a 600 mil novos casos por dia. O governo Bolsonaro, que não explicou até agora como ocorreu este ataque, parece não se importar com mais de um mês sem o sistema, que deve ser reestabelecido em 15 de janeiro.
2 – Combateu e atrasou a vacinação infantil
O Brasil já poderia estar vacinando as crianças de 05 a 11 anos desde dezembro – a aprovação pela Anvisa ocorreu no dia 16/12. No final de dezembro, pelo menos 30 países já estavam vacinando crianças de 05 à 11 anos, entre eles EUA, Canadá, Israel, Portugal, Espanha, Cuba, Equador, Chile, Bolívia e Argentina.
No entanto, Bolsonaro e o ministro Marcelo Queiroga agiram intencionalmente para adiar o início da vacinação e incentivar grupos anti-vacina. O ministro minimizou a urgência da vacinação, ao dizer que o número de mortes de crianças era baixo e protelou o início da operação, convocando uma “consulta pública online” e realizando uma audiência pública fajuta que serviu de palco para discursos negacionistas. Bolsonaro ainda atacou a Anvisa, lançando desconfiança sobre os interesses envolvidos.
Ao adiar a calendário, os dois conseguiram fazer com que o retorno às aulas presenciais ocorra sem a vacinação completa – o país está recebendo 1,2 milhão de doses nesta semana e espera receber mais 3,1 milhões até o final de janeiro. Para vacinar todas as crianças de 5 a 11 anos no Brasil, seriam necessárias 40 milhões de doses.
3 – Bolsonaro disse que Ômicron é “bem-vinda”
No dia 12, Bolsonaro fez um discurso dizendo que a variante era “bem-vinda” ao Brasil, que era mais leve e que levaria a uma “imunização de rebanho”, tese defendida desde o início da pandemia. Um grande absurdo. Não há nenhuma garantia de que essa variante signifique o fim da pandemia, pois, assim como ela pode preceder variantes mais brandas, também pode ocorrer o contrário, com mutações que somem a sua alta capacidade de contágio com uma letalidade maior. E, ainda assim, quanto maior o contágio, mais mortes, em função da sobrecarga na rede de saúde. É o que está ocorrendo nos Estados Unidos, que voltou a bater 2 mil mortes diárias, em função da baixa vacinação. Dizer que a variante é “bem-vinda” é incentivar o contágio.
4 – Governo reduziu o tempo de afastamento por Covid-19
A explosão de casos tem afetado o funcionamento dos serviços de saúde e mesmo de grandes empresas e indústrias, em função da quantidade de profissionais afastados. O governo Bolsonaro encontrou uma solução bastante simples – reduzindo o tempo de afastamento. O trabalhador contaminado, que antes permanecia afastado por 14 dias, agora pode voltar ao ambiente de trabalho em até 5 dias, caso tenha sintomas leves ou moderados ao final deste período. A nova regra, que está sendo redigida, provocará não apenas mais casos de contágio, em especial no ambiente hospitalar, como também irá facilitar a pressão e o assédio contra trabalhadores, que serão obrigados a trabalhar com sintomas leves ou sequelas, para não se somarem ao exército de desempregados.
5 – Saúde não garantiu a testagem em massa
O Brasil permanece com um baixo índice de testagem, se comparado a outros países. Realizou 66 milhões de testes desde o início da pandemia, segundo dados reunidos por Wesley Cota, da UFV, na ferramenta de monitoramento que criou, o que corresponderia a cerca de um terço da população brasileira. Países que tiveram os melhores resultados no combate à pandemia seguiram a orientação de investir em testagem e isolar as pessoas contaminadas, detendo o contágio. O número de testes em Portugal corresponde a duas vezes o total de sua população.
Aqui, o governo Bolsonaro, que já havia deixado testes vencerem, não se preparou para a nova variante. A realidade é de longas filas nas unidades de saúde, com esperas intermináveis. A liberação da autotestagem, com venda em farmácias e laboratórios, se é uma medida necessária para ampliar os testes, por outro lado vai consolidar a ausência de testes no SUS, mantendo a exclusão de quem não pode pagar pelo teste.
6 – Governo ataca passaporte sanitário e medidas de distanciamento
O governo Bolsonaro é contra a vacina. Sequer foi capaz de exigir comprovante de vacinação nos aeroportos, como recomendado pela Anvisa, assim que a variante surgiu. Em dezembro, tentou impedir através de um despacho do MEC que universidades e institutos federais de ensino exigissem apresentação do comprovante de vacinação no retorno às aulas, o que precisou ser garantido pelo STF. Agora, o bolsonarismo retoma sua cruzada contra a vacina e o passaporte sanitário, promovendo fake news como a de que a vacinação traria riscos para as crianças. Com isso, espera promover conflitos no retorno às aulas, alimentando a sua base com o ódio que precisará para o processo eleitoral, no qual não é favorito.
Nesta quinta, 13, afirmou que “haverá rebelião e caos” se prefeitos e governadores tomarem medidas como as do lockdown, como fechamento de comércio e circulação. Sua fala na verdade convoca seus apoiadores a promoverem conflitos diante de medidas que inevitavelmente precisarão ser tomadas em função do aumento dos casos, o que já pode ser visto em reações violentas contra a obrigatoriedade do uso de máscaras.
7 – Discurso e ações do governo estimularam ataques à servidores públicos e médicos
Um dia após a audiência pública sobre a vacinação infantil, os dados pessoais de médicos e especialistas vazaram nas redes sociais, permitindo ataques e ameaças. O mesmo ocorreu com servidores da Anvisa, que reagiram com uma campanha nas redes, em defesa da vacinação. Na defesa do negacionismo, o bolsonarismo não possui limites, utilizando-se não apenas de fake news, mas também da coação, estimulando e permitindo que seus apoiadores intimidem os opositores.
Bolsonaro precisa pagar pelos seus crimes
O genocida não se contentou com as 600 mil vidas perdidas até o final de 2021. Segue em sua cruzada contra a vida, em nome da polarização política e da coesão de sua base ideológica. O descaso que se viu durante as chuvas na Bahia se repete agora com a vacinação infantil e com a expansão da variante ômicron. Suas mãos assim como as de Queiroga e do deputado Artur Lira, estão sujas de sangue. Ele é responsável por cada criança que venha a ser internada nas próximas semanas.
Bolsonaro precisa responder pelos crimes cometidos durante a pandemia, vastamente apontados no relatório da CPI, e também por estes sete crimes, entre tantos realizados em pouco mais de um mês. O impeachment segue como algo urgente, ainda que o andar de cima tenha protegido o governo durante todo estes anos, em nome da agenda de privatizações e desmonte do Estado.
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