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BRASIL

E se o Senado brasileiro não tivesse instalado a CPI da Covid?

Nilton Francisco Cardoso*, de Belo Horizonte, MG
Jefferson Rudy/Agência Senado

No dia 13 de abril de 2021, o Senado Brasileiro criou a Comissão Parlamentar de Inquérito requerida pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-Ap) para investigar ações, irregularidades e omissões do governo federal no enfrentamento da pandemia de Covid-19.

A CPI foi necessária porque o governo federal, na pessoa do presidente da República, afirmava que os brasileiros não deveriam se vacinar, usar máscaras nem praticar o distanciamento social. O mandatário alegava que tais medidas eram desnecessárias. Na conta do governo, bastaria esperar que 60% da população se contaminasse, percentual necessário para alcançar a imunidade de rebanho, segundo ele, contrariando as orientações da ciência e da Organização das Nações Unidas.

Entretanto, no dia 11 de agosto de 2021, o Brasil atingiu o número de 20.249.176 casos de covid-19. No mesmo dia, o número de pessoas mortas chegou a 566.013. Ou seja, 2,79% de pessoas que se contaminaram morreram.

Estes números nos desafiam a pensar o que teria acontecido se o Senado não tivesse criado e instalado a CPI. Vejamos os cálculos.

A população brasileira atual é de aproximadamente 211.000.000 de pessoas. Conforme o projeto de combate à COVID-19 do referido governo, seria necessário a contaminação de 126.600.000 pessoas (60% da população). Aplicando o percentual de 2,79% de mortes, ao atingir este número, teríamos perdido 3.532.140 vidas.

A chamada “imunidade de rebanho” para ser alcançada precisa da vacina, sem ela e os devidos cuidados sanitários, as contaminações continuariam e atingiriam índices mais altos, 70%, 80%, 90%, 100% da população. Neste caso, 5.886.900 brasileiros teriam morrido.

Se a CPI não deteve o governo, que continuou cometendo outros absurdos, serviu para alertar a opinião pública e levar outros Poderes da República a exigir as providências corretas do Ministério da Saúde. Com isso, as providências para a compra e a produção de vacinas no Brasil foram tomadas, mesmo que com atraso.

Em 17 de setembro de 2022, atingimos o número de 685.410 brasileiros mortos. Este número – que poderia ser maior se o projeto do governo federal não tivesse sido freado -, poderia ser menor, muitas vidas poderiam ter sido poupadas e muitos sofrimentos evitados se o Presidente da República tivesse agido com mais rapidez e responsabilidade.

O que ocorreu por aqui, durante a pandemia, é um exemplo típico de necropolítica, prática comum da extrema direita, que aposta no atraso e na barbárie. Se este projeto do governo federal de “combate” à pandemia tivesse vencido, talvez eu não estivesse aqui para escrever este microartigo, talvez você também não estivesse aqui para lê-lo.

Que no próximo dia 2 de outubro possamos dar início a outro capítulo de nossa história, no qual os direitos democráticos sejam preservados e que os aspectos civilizatórios de nossa sociedade não retrocedam à barbárie, pois queremos avançar mais. Por isso, fora barbárie! Fora necropolítica! Fora genocida, inimigo das camadas populares e dos trabalhadores do Brasil! VAMOS ELEGER LULA NO PRIMEIRO TURNO!

*Professor de História da Rede Municipal de Educação de Belo Horizonte, mestre em educação pela Faculdade de Educação da UFMG, doutor em Educação pela Faculdade de Educação da USP e militante da Resistência/PSOL BH.