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BRASIL

Um poema para Paraisópolis

Altobelly Rosa

Nega vem cá, me abraça, vem receber dengo.
Me salva, me arranca desse pesadelo,
Acho que vivemos o pior dos novembros…
Precisamos de toda a ajuda divina
Que os orixás nos protejam e nos guardem
Nesse ano que não termina…

Nem sabíamos o quanto tínhamos sorte
Quando eles falavam de consciência humana
2019, novembro negro, foi novembro da morte.
O racismo que, por eles, sempre foi negado,
Transformou-se em ódio escancarado,
Traduzido por um promotor ou magistrado.

Lá pro sul, um homem foi espancado
Por dois homens brancos, carecas,
O soco, veio depois de um “preto safado”.
Num bar, cheio de humanos sem reação,
O negro era covardemente açoitado,
Enquanto o povo pensa “Freeman tem razão”.

Um professor foi chamado de “macaco”
Não fez silêncio, questionou o racista,
Foi agredido, e sangrou, esfaqueado.
“Eles estão muito mais descarados”
Disse algo nesse sentido, o professor
Querendo que os pretos tomem cuidado.

Esse novembro, se foi, com trágica despedida,
Acoados, com a violência do Estado,
Negros foram pisoteados, 9 vidas perdidas.
Era só a polícia em mais uma batida,
A missão, acabar com o lazer do povo pobre
E da periferia arrancar mais umas vidas.

Numa pólis de um retinto paraiso
Morreram jovens que bailavam
Ficaram mães pretas sem sorrisos.
O funk se tornou crime, a morte é punição
onde espancar e chamar de macaco, um negro
Parece um direito, uma questão de opinião.

Preta me abrace, vamos amar nossa gente
Esse novembro dos horrores,
É o primeiro daquele fascista como presidente.
Me ame, cuidemos de nossas crias…
Querem que preta, pare de parir
No Brasil, do 01 ao 04, sabemos, o ódio procria.