Pular para o conteúdo
Colunas

Um ano da Fundação da Resistência

Na luta em defesa do socialismo, do internacionalismo e dos direitos do povo trabalhador, da juventude e dos oprimidos

Momento após a votação. Divulgação - Resistência

Momento após a votação. Divulgação – Resistência

André Freire

Historiador e membro da Coordenação Nacional da Resistência/PSOL

Hoje, dia 30 de abril, completa um ano do encerramento do Congresso Nacional de Fusão, que aconteceu em São Paulo e deu origem a organização Resistência, uma corrente política que é parte do PSOL.

Esse Congresso foi convocado a partir da iniciativa de duas organizações anteriores: a ex-NOS e o ex-MAIS, que construíram um processo de fusão. Entretanto, logo nos primeiros meses de fundação da Resistência, outras organizações também se unificaram com o nosso projeto: o ex-MLPS, o ex-MLT de SP e também camaradas que construíram o Núcleo de Educadores Florestan Fernandes no RJ.

Portanto, entendemos a Resistência como um encontro – e também um reencontro – de velhos e novos camaradas. Uma organização que reivindica o marxismo revolucionário, o internacionalismo, e que está em permanente construção, aberta a novos “encontros e reencontros”.

Queremos lembrar essa data sem nenhuma autoproclamação, sabemos dos nossos grandes limites. Mas, queremos lembrá-la também com a convicção que estamos no caminho certo, apesar de todas as enormes dificuldades dos dias atuais.

Sabemos que vivemos tempos de resistência. Mas, seguimos firmes e convictos na luta em defesa do socialismo, do internacionalismo e dos direitos do povo trabalhador, da juventude e dos oprimidos.

Uma organização que se constrói em torno de ideias

Desde o processo de discussões políticas e programáticas que permitiram a fundação da nossa organização, uma característica sempre nos marcou profundamente: os debates de ideias e das principais tarefas colocadas para a esquerda socialista em nosso país e no mundo.

Sempre levando em consideração os limites da nossa organização, procuramos contribuir nas principais discussões políticas que a esquerda brasileira estava realizando, especialmente no interior do PSOL, partido que resolvemos apostar.

Nossa fundação se deu na vigência do governo ilegítimo de Temer, no meio das batalhas contra seu projeto de destruição dos direitos sociais do povo brasileiro. As organizações e os ativistas que fundaram a Resistência estavam juntos nas lutas pelo Fora Temer e por nenhum direito a menos, principalmente na greve geral de abril de 2017 e nas manifestações nacionais do movimento das mulheres. Nestas lutas, algumas ideias nos identificaram nitidamente.

A primeira delas é que o desfecho dos governos de conciliação de classes do PT, com o golpe parlamentar do impeachment de 2016, abriu um momento profundamente desfavorável para o povo trabalhador.

Infelizmente, não foram os trabalhadores, a juventude e os oprimidos que com as suas mobilizações e experiência superaram a proposta da direção petista de construir alianças com a velha direita e de aplicação de um programa que não mexia no fundamental no pacto com as grandes empresas e bancos. Na verdade, foram os ricos e poderosos que romperam a aliança com os governos do PT, para aplicar um plano econômico ainda mais perverso contra a maioria do povo.

A identificação deste cenário adverso gerou muita polêmica no interior da esquerda: alguns acreditavam, e de certa forma, acreditam até hoje, que o Impeachment de Dilma poderia abrir uma perspectiva de maior ascenso e vitórias em nossas mobilizações. Infelizmente, essa hipótese não se confirmou.

Essa visão de que vivíamos um momento adverso para os explorados e oprimidos, nos fez apostar na construção da necessária unidade de ação e de uma verdadeira Frente Única que enfrentasse os ataques de Temer e de seus aliados no Congresso Nacional.

Para nós, a unidade para destravar e fortalecer as mobilizações vinha em primeiro lugar. Independente das direções sindicais e políticas presentes nos protestos. O fundamental sempre foi colocar nossa classe, a juventude e os oprimidos em ação. Essa visão que tínhamos contra Temer, não só se mantém, como se renova e se aprofunda agora, diante do enfrentamento contra o governo Bolsonaro, um representante direto do projeto de extrema-direita, com fortes traços neofascistas.

Atualmente, nossa grande aposta é que a classe trabalhadora, a juventude e os oprimidos construam uma grande unidade de suas entidades e movimentos para resistir a todos os retrocessos representados por este governo.

É necessária a máxima unidade em nossas lutas, com o objetivo principal de derrotar a destruição dos direitos sociais – como vemos na atual proposta de reforma reacionária da previdência – e defender as liberdades democráticas. Nosso compromisso é ampliar as mobilizações contra o brutal avanço do extermínio da população e da juventude negra das periferias das grandes cidades brasileiras e, da mesma forma, defender os direitos das Mulheres, dos Povos Indígenas, dos Quilombolas e da comunidade LGBT.

O compromisso com um novo projeto de esquerda, socialista e do povo trabalhador

Entretanto, essa convicção sobre a necessidade de uma ampla unidade para a construção das mobilizações para enfrentar a dureza do atual momento político, se combina com outra, também muito importante para a nossa organização: a construção de uma nova alternativa política, de esquerda, socialista e do povo trabalhador, que supere o projeto de conciliação de classes da direção do PT.

Foi com esse objetivo que definimos ingressar organizadamente no PSOL e nos construirmos como uma corrente interna deste partido. O crescimento do PSOL nos últimos anos é a confirmação prática de que existe um espaço político importante para a construção de um novo projeto para a esquerda brasileira.

Com estas mesmas convicções, estivemos desde o início na construção da candidatura presidencial de Guilherme Boulos e Sonia Guajajara, que expressavam uma importante frente política e social, que unia o PSOL e o PCB com parte significativa dos movimentos sociais combativos brasileiros, como por exemplo, o MTST e a APIB.

Nossa organização sempre se opôs a ideia equivocada de atrelar politicamente o PSOL e a frente política e social que começamos a construir na campanha eleitoral passada ao projeto de conciliação de classes da direção petista. Esse erro pode ser grave e acabar bloqueando e dificultando o fortalecimento deste novo projeto de esquerda em nosso país. Portanto, estaremos na trincheira oposta dos que querem repetir os mesmos erros do passado. Infelizmente, defendidos até hoje pela direção do PT.

A tarefa estratégica de unir os revolucionários em torno de um programa socialista

No processo de construção de uma nova alternativa de independência de classe em nosso país, temos que avançar em outra tarefa estratégica: unir os marxistas revolucionários em torno de um programa socialista para o Brasil e o mundo. Acreditamos, com humildade, que a construção da Resistência é um pequeno exemplo de que podemos tentar inverter o vetor da fragmentação da esquerda marxista e revolucionária.

Evidentemente, esse não é um caminho nada fácil, ele é cheio de contradições e desafios, exigem paciência e generosidade nas discussões e polêmicas inevitáveis que marcam a construção de qualquer organização que luta sob a bandeira da revolução socialista. Mas, a opção por este caminho é definitiva para os que constroem a Resistência. Não nos atraia em nada a ideia dos pequenos grupos, fechados apenas a defesa de seus próprios acúmulos anteriores.

Por isso, que seguimos abertos as discussões políticas e programáticas com todos os ativistas e organizações que buscam compreender o mundo a partir do marxismo e se dedicam cotidianamente a transformar a realidade atual, na perspectiva da construção do Socialismo.

Como muito bem afirmou o camarada Gilberto Calil, em seu recente artigo, onde informa os motivos de seu ingresso na Resistência:

Uma organização, sobretudo, que não se entende como “verdadeira vanguarda”, na formal usual em pequenas organizações sectárias, mas ao contrário se vê como expressão e como parte de um processo mais amplo da reorganização da esquerda socialista, e que por isto não deixa de perceber que este é um processo em andamento e que tal reorganização depende muito mais da organização efetiva dos movimentos concretos de resistência do que de declarações autoproclamatórias ou da reafirmação abstrata de princípios genéricos. É pela identificação com esta perspectiva que passo a me colocar na condição de militante da Resistência!