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BRASIL

Michel Temer é preso, 80 dias depois de deixar a Presidência

Da redação
Fabio Rodrigues Pozzebom / Ag. Brasil

Presidente Michel Temer durante encontro com servidores da Presidência da República, no Palácio do Planalto.

Hoje, pela manhã, o ex-presidente Michel Temer (MDB-SP) foi preso preventivamente, devido a uma acusação que afirma que ele teria recebido propina de 1,1 milhão de reais de um contrato da empresa estatal Eletronuclear, responsável pela construção da Usina Angra 3. A prisão foi determinada pelo Juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, e sua execução é parte da Operação Lava-Jato.

Temer governou de forma ilegítima, depois do golpe parlamentar do Impeachment, que tirou Dilma Rousseff (PT) da Presidência da República.

Seu governo desferiu duros golpes contra os direitos da maioria do povo brasileiro. Atacou violentamente os direitos sociais, enviando para o Congresso Nacional e aprovando medidas ultra reacionárias como a reforma Trabalhista, a ampliação da terceirização para as atividades fins das empresas e o congelamento dos investimentos sociais por 20 anos. Todas estas medidas precisam ser revogadas.

Ainda tentou aprovar uma reforma da Previdência draconiana, impedida pela força das lutas de resistência e pelas crises políticas de seu governo.

Atacou também as liberdades democráticas, especialmente quando protagonizou uma intervenção militar e federal na área de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro. Menos de um mês depois da intervenção no Rio, a vereadora do PSOL Marielle Franco foi brutalmente assassinada, junto com seu motorista Anderson Gomes, um crime político que acaba de completar um ano ainda sem uma solução definitiva.

Durante a sua administração, foi acusado vários vezes de corrupção, principalmente com o vazamento de um áudio de uma conversa sua com o dono da JBS, Joesley Batista, dentro do Palácio Jaburu, residência oficial dos vice-presidentes. Neste áudio, ficou evidente que eles discutiam o pagamento de propina ao ex-deputado federal Eduardo Cunha (MDB-RJ), preso em Curitiba, para que ele não denunciasse os esquemas de Temer.

Não há dúvidas que Temer é um inimigo do povo brasileiro e uma figura sinistra, mergulhada em corrupção. Por isso, saiu da Presidência da República com a pior avaliação de um presidente em toda a história.

Mas, chama ainda mais atenção que a ação da Lava-Jato contra Temer só tenha ocorrido depois dele ter deixado a Presidência da República. Quando estava no exercício de seu mandato ilegítimo nenhuma medida efetiva foi tomada contra um político que todo mundo sabia que mais se parecia com o chefe de uma quadrilha.

Muito pelo contrário: a maioria da Câmara dos Deputados evitou por duas vezes que se avançassem as investigações sobre os crimes de Temer. O Supremo Tribunal Federal (STF) também nada fez de concreto para que ele fosse investigado e punido.

Acontece hoje com Temer o mesmo que aconteceu com Sérgio Cabral e Pezão, ex-governadores do RJ. Quando estavam no governo ficaram livres e sequer eram seriamente investigados, inclusive seguindo praticando seus crimes de forma continuada. Quando saíram do poder ou estavam para sair, aí sim foram presos.

A prisão de Temer hoje se assemelha a mais uma manobra midiática da Lava-Jato, que, ao completar cinco anos, vive um momento de descrédito, especialmente por dois fatos: Sérgio Moro ter aceitado ser ministro de Bolsonaro e a proposta indecorosa da criação de uma fundação de direito privado controlada por procuradores de Curitiba que se apropriaria de verbas públicas.

 

Bolsonaro quer se aproveitar da prisão de Temer

O atual presidente, de forma desavergonhada, quer se aproveitar da prisão de Temer para tentar criar um fato positivo para seu governo, que vive um momento marcado por denúncias contra um de seus filhos, contra milicianos chegando próximos de sua família e crises internas.

Entretanto, muitos dos amigos de Temer estão atualmente no governo de Bolsonaro, ou são seus aliados. Para ficar em dois exemplos mais marcantes: Onyx Lorenzonni (DEM-RS), que era da base de Temer na Câmara dos Deputados e agora é ministro da Casa Civil; Rogério Marinho (PSDB–RN), deputado federal que foi o relator da reforma trabalhista de Temer e agora é o secretário de Previdência Social de Bolsonaro – responsável direto pela atual proposta de reforma que, se aprovada, na prática acaba com a aposentadoria.

O próprio Bolsonaro foi um dos responsáveis por Temer ter chegado a Presidência, quando fez campanha esfuziante e votou pelo impeachment, sem crime de responsabilidade, de Dilma. Bolsonaro ajudou Temer chegar à Presidência, e o governo de Temer pavimentou o caminho para a eleição de Bolsonaro.

Junto com Temer, foi preso também o ex-governador do Rio de Janeiro e ex-ministro Moreira Franco (MDB-RJ). Essa prisão pode azedar as relações do atual presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), outro amigo de Temer, com o atual governo. Afinal, ele é nada mais nada menos do que genro de Moreira. Ontem, Maia já tinha dado uma entrevista para órgãos da grande imprensa com fortes críticas ao atual ministro Sérgio Moro. Será que Maia já sabia da prisão de seu parente?

Ampliar as mobilizações para derrotar a reforma da Previdência

Toda a repercussão da prisão de Temer e Moreira caíram como uma “bomba”. O mercado reagiu nervoso, o dólar subiu e a bolsa caiu. Afinal, os grandes banqueiros e seus agentes sabem que toda esta crise pode atrapalhar muito a aprovação da famigerada reforma da previdência de Bolsonaro e Guedes no Congresso Nacional.

Amanhã, 22 de março, se realiza o primeiro Dia Nacional de Lutas contra a reforma da Previdência, convocado pela ampla maioria das Centrais Sindicais, a Frente Brasil Popular, a Frente Povo Sem Medo, o Fórum por Direitos e Liberdades Democráticas, entre outras organizações e movimentos.

Os trabalhadores, a juventude e os oprimidos, devem se apoiar na força das mobilizações do dia 8 de março, Dia Internacional de luta das Mulheres, e, agora, em toda a crise envolvendo a prisão de Temer, fato que pode acabar atingindo o ritmo de tramitação da reforma da Previdência no Congresso, para ampliar e fortalecer a nossa mobilização.

Amanhã temos que realizar um forte dia nacional de lutas, fortalecendo ainda mais um calendário de mobilizações, culminando na possibilidade da construção de uma nova greve geral em nosso país.