Pular para o conteúdo
Especiais
array(1) { [0]=> object(WP_Term)#3152 (10) { ["term_id"]=> int(4399) ["name"]=> string(19) "Ditadura nunca mais" ["slug"]=> string(19) "ditadura-nunca-mais" ["term_group"]=> int(0) ["term_taxonomy_id"]=> int(4399) ["taxonomy"]=> string(9) "especiais" ["description"]=> string(0) "" ["parent"]=> int(0) ["count"]=> int(71) ["filter"]=> string(3) "raw" } }

Não há um golpe militar em marcha; o maior perigo é a eleição de Bolsonaro

Valerio Arcary

Professor titular aposentado do IFSP. Doutor em História pela USP. Militante trotskista desde a Revolução dos Cravos. Autor de diversos livros, entre eles Ninguém disse que seria fácil (2022), pela editora Boitempo.

 

Na hora mais escura da noite, mais intenso será o brilho das estrelas no ceú.
Sabedoria popular persa

A hora mais escura do dia é a que vem antes do sol nascer
Sabedoria popular árabe

1. Não é verdade que o maior perigo seja um golpe militar. O maior perigo é Bolsonaro vencer nas urnas e, por dentro das regras do regime democrático- eleitoral, chegar ao poder da presidência. Na sequência, a partir dessa posição, subverter o regime que já adquiriu, depois do golpe de 2016, traços bonapartistas, como o agigantamento do judiciário, das polícias, das Forças Armadas. Não é verdade que o núcleo duro da burguesia brasileira já chegou à conclusão que o choque econômico-social que defendem – com um ajuste fiscal brutal em 2019 – só pode ser executado por um regime ditatorial.

Análises catastrofistas são perigosas porque projetam cenários terminais que: (a) não correspondem à realidade; (b) produzem desalento e desesperança em uma conjuntura que já é ruim o bastante, com um fascista com um terço dos votos válidos nas pesquisas. A construção da análise pode ter elegância e coerência, mas não corresponde à conjuntura. Não há um golpe militar em marcha. Beleza aristotélica é uma qualidade estética do discurso, porém não é marxismo.

O golpe foi institucional, é já aconteceu há dois anos. A derrota não foi somente superestrutural. Aconteceu uma mudança na relação social de forças. Foi uma derrota político-social. Abriu-se uma situação defensiva, com muitos elementos reacionários. Não obstante, não foi uma derrota histórica, como em 1964. Não será necessário o intervalo de uma geração para que se acumulem forças para que os trabalhadores e seus aliados sociais voltem a entrar em cena. Mas, claro, o perigo autoritário é real.

2. A ideia mais repetida no debate da Record foi que estaríamos diante de dois extremismos gêmeos: o de esquerda e o de direita. Foi defendida por Marina Silva, Álvaro Dias, Geraldo Alckmin, Henrique Meirelles, os quatro tons de Temer. Mas associou-se a este cambalacho, também, vergonhosamente, Ciro Gomes. Cinco dos oito presentes ficaram brincando entre si, alegremente, defendendo a moderação, a reconciliação, a paz, a união, o amor. Não deverá ser diferente no debate da TV Globo, da próxima quinta-feira, e deve marcar a última semana de campanha eleitoral. Esta interpretação é um escárnio contra a inteligência do povo. É uma operação ideológica.

Há um candidato fascista em primeiro lugar em todas as pesquisas, e ele é uma ameaça às liberdades democráticas. Não há lugar para controvérsia sobre o perigo que Bolsonaro representa, porque ele e seu vice Mourão não têm qualquer pudor em declarar barbaridades absurdas, amplamente conhecidas.

Em segundo lugar nas pesquisas se consolidou Haddad. Qualquer pessoa lúcida sabe que o PT não é uma ameaça às liberdades democráticas. O PT esteve no governo entre 2003 e 2016 e respeitou, religiosamente, as instituições até o limite do absurdo. O PT não desafiou a ordem constitucional. Foi a maioria da burguesia brasileira que o fez, quando incentivou e mobilizou setores da classe média para legitimar o golpe parlamentar.

O problema real é que o núcleo duro da classe dominante não conseguiu deslocar Bolsonaro, e Alckmin patina abaixo de 10%. Isso é uma anomalia, se consideramos as necessidades de representação política dos capitalistas. A fórmula “dois radicalismos gêmeos” já não obedece, somente, a um cálculo desesperado de tentar levar Alckmin ao segundo turno. Mesmo com a decisão arbitrária, porém frustrada, de Fux de proibir entrevistas de Lula. Mesmo com a decisão de Moro de tornar pública a delação premiada de Palocci.

Ela responde à necessidade de pressionar a direção do PT para se render antes do segundo turno. Render-se, outra vez, como fez Dilma Rousseff em 2015, diante da exigência de preservação do choque econômico-social iniciado por Joaquim Levy, e radicalizado por Temer, com a EC95 do teto dos gastos, contrarreforma trabalhista, lei de terceirização, etc. Render-se, outra vez, diante da imposição da idade mínima na contrarreforma da previdência.

3. Qualquer tentativa de diminuição do significado do dia 29 de setembro é uma cegueira ideológica. Foi a campanha pelo #elenão e o gigantismo do sábado dia 29/09 que abriram a possibilidade de derrotar Bolsonaro. Só isso, mas não é pouca coisa. Ainda que a batalha esteja muito longe de estar decidida. Tudo permanece incerto. Todos que subestimaram Bolsonaro até agora erraram. A disputa será feroz. A manifestação foi o acontecimento mais importante da campanha eleitoral, e só foi possível porque se construiu uma frente única pela iniciativa do movimento feminista.

Que a composição dos Atos e Marchas tenha sido, fundamentalmente, jovem, feminina, de setores sociais com mais escolaridade e renda, não deveria nos surpreender. Foi sempre assim, nos últimos quarenta anos, quando se inicia uma campanha política.

Uma vanguarda social e política abre o caminho. Só depois os setores populares, tendo como coluna vertebral a classe trabalhadora, se colocam em marcha, e com o peso de sua Foi assim na luta contra a ditadura, a partir de 1977/78, mas o movimento estudantil marchava sozinho. A classe operária do ABC saiu à luta em 1979, com os professores, petroleiros e bancários, mas o salto de qualidade aconteceu somente em 1984, com as Diretas Já, agora na escala de milhões.

A direção do PT fez uma aposta em uma estratégia eleitoral de alto risco ao manter a candidatura Lula até o limite máximo, para deixar bem claro que ele é um preso político. Esse cálculo estava certo. Era possível fazer a transferência dos votos para Haddad, mesmo com pouquíssimo tempo. Sempre apostando na amargura gerada pelo desemprego e pobreza dos últimos dois anos com Temer, em contraste com a nostalgia da vida durante os anos do governo Lula. Mas esta estratégia foi, eleitoralmente, correta somente para levar Haddad para o segundo turno. Derrotar Bolsonaro exige uma nova tática. Alertamos, há várias semanas, que o centro da tática tinha que girar para a denúncia do perigo do fascista.

O papel do Psol foi, portanto, muito importante. Demonstrou-se na prática porque a esquerda radical é útil.

Foto: EBC

Quatro motivos para não votar em Bolsonaro: Suas propostas para a classe trabalhadora Por Carlos Henrique de Oliveira

Cinco argumentos para desmascarar Bolsonaro Por Juliana Bimbi

Bolsonaro admite Petrobrás totalmente privatizada caso seja eleito Por Pedro Augusto

Conheça quem está por trás das ideias de Bolsonaro Por Gibran Jordão

Bolsonaro: Nem honesto, nem aliado dos trabalhadores Por Edgar Fogaça

Bolsonaro não é um espantalho por Valério Arcary

Em visita ao Pará, Bolsonaro defende a chachina de trabalhadores sem-terra Por Gizelle Freitas

Não se deve tercerizar para Ciro Gomes a luta contra Bolsonaro por Valério Arcary 

Bolsonaro em contradição: três patacoadas do “mito”em apenas dez dias de 2018 por Matheus Gomes

5 fatos mostram que Bolsonaro é contra os trabalhadores e aliado de Temer por Lucas Fogaça

Bolsonaro ataca negros, pessoas gordas, quilombolas, indígenas e refugiados no clube Hebraica por Jéssica Milare