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Cinco argumentos para desmascarar Bolsonaro

Por: Juliana Bimbi, de Porto Alegre, RS

Há uma semana para ser dada a largada da campanha eleitoral, o candidato Jair Bolsonaro continua como o segundo colocado nas intenções de voto e atraiu uma audiência grande na participação dos programas como Roda Viva e a sabatina da Globo News, se consolidando como uma alternativa eleitoral ao lado de seu vice, o general Mourão. Sua participação no debate eleitoral da Band, mesmo colocada em xeque no momento anterior, demonstra uma convicção de expandir sua influência para uma audiência de massas.

Mas afinal, o que causa a popularidade de Bolsonaro?
É preciso conhecer nossos inimigos para saber como derrotá-los, no caso do candidato do PSL, principalmente seu eleitorado e base social. Bolsonaro existe como personalidade política há mais de 20 anos, mas sua audiência e popularidade estiveram em uma crescente até 2018, o que diz mais sobre a atual situação política do Brasil do que sua própria capacidade de mobilização. A pesquisa recente do Valor Econômico aponta que “o eleitor de Bolsonaro não leva suas opiniões ao pé da letra”, ou seja, quem apoia o ex-militar não necessariamente o faz porque concorda com seu discurso conservador, racista, machista e homofóbico, mas por visualizar no candidato uma alternativa diferente da política majoritária e acredita então que seu programa poderia ser uma saída para a crise econômica, política e da segurança pública.

O estereótipo do seu eleitor – o saudosista da ditadura militar, de classe média que se identifica a partir do discurso conservador, pode ter sido uma realidade há alguns anos atrás, mas sofreu mudanças consideráveis. Algumas pesquisas recentes já indicam que a maioria da nova rede de apoio de Bolsonaro são jovens, entre 18 e 24 anos, 90% com acesso a internet, que não viveram os governos militares. Muitos sofrem com a falta de perspectiva de futuro a partir dos cortes na educação, saúde e também com a segurança pública, que é o centro da discussão política do presidenciável.

Nesse sentido, a esquerda tem a obrigação de colocar como primeira prioridade a luta contra suas ideias. Mas é necessário ser estratégico e coerente na disputa ideológica. É preciso combater Bolsonaro nas áreas em que é mais fácil deixar nítido que seus interesses são contrários aos da maioria.

Esse texto tem como objetivo fazer uma crítica fraterna à forma com que a maior parte da esquerda tem conduzido a diferenciação com sua corrente de pensamento, também refletida anteontem no debate dos presidenciáveis da Band na fala do nosso pré-candidato Guilherme Boulos. A derrota de Bolsonaro não virá com ofensas pessoais, o que apenas reforça a aversão popular aos políticos e ao tipo de disputa que ocorre no terreno eleitoral. A luta contra a extrema-direita precisa ser feita com alternativa real e discussão programática. Caso contrário, será insuficiente qualquer tentativa de enfraquecimento do presidenciável e seus simpatizantes. Por isso, destaco aqui 5 argumentos principais que podem ser úteis em desmascarar a ideia construída sobre Bolsonaro:

1 – Bolsonaro é um político profissional
Apesar de se colocar de fora da política, Bolsonaro é o exemplo perfeito do que significa um “político profissional”. Se orgulha muito do tempo que serviu no exército, mas a realidade é que está há sete mandatos dedicado exclusivamente à vida parlamentar, usufruindo dos mesmos privilégios que diz querer acabar, como o auxílio moradia e viagens de grande custo. Arrastou junto com ele dois de seus filhos para o parlamento e já percorreu uma caminhada entre 7 partidos diferentes. Quando saiu do PP, justificou que o partido não tinha o espaço para “realizar seus sonhos políticos”, escancarando que é a busca por prestígio pessoal, e não pela melhora das condições de vida da população, que move sua iniciativa eleitoral. A importância desse argumento é porque é o título pelo qual o candidato se autoproclama: não ser igual aos outros deputados, senadores, governadores e ex-presidentes. Apesar do discurso, a realidade demonstra justamente o contrário: Bolsonaro tem a política como carreira e ambição individual.

2 – Diga com quem andas, que eu digo quem és
Apesar de ter como bandeira principal a luta contra a corrupção, Bolsonaro sempre esteve ao lado dos nomes mais sujos da política brasileira. Apoiou Aécio Neves em 2014, foi do partido de Maluf, disse no programa Roda Viva que gostaria de ter passado mais tempo ao lado de Eduardo Cunha e apoiou o golpe parlamentar que colocou Michel Temer na presidência, também envolvido em denúncias de corrupção. Além disso, ele mesmo é protagonista de movimentações muito suspeitas, tendo um crescimento inexplicável de seu patrimônio nos últimos anos e sofrendo acusações de ter recebido dinheiro da JBS, acusação negada por ele. Por fim, sua busca por aliado na campanha incluiu os partidos do centrão, assim como Alckmin, Bolsonaro jogou forte no balcão de negócios, é verdade que acabou isolado, mas não era o que queria.

3 – Na economia, é um dos “50 tons de Temer”
O candidato ficou reconhecido em suas últimas entrevistas por alegar que “não sabia nada de economia”. De fato, essa poderia ser uma justificativa para seu plano econômico falido se não estivesse nítido o seu comprometimento com o projeto político da classe dominante, que quer esmagar a população trabalhadora e principalmente os mais pobres. No debate de ontem na BAND, constatou que em seu eventual governo, o trabalhador precisará decidir entre ter emprego sem direitos, ou direitos sem emprego. Evita entrar no tema das reformas, porque sabe que esse é seu elo fraco: é a favor do mesmo programa que está sendo aplicado pelo governo Temer, que tem em torno de 90% de reprovação social. É a favor da reforma da previdência, trabalhista, e do congelamento de gastos sociais por 20 anos proposto pela PEC 241, que já está tendo como reflexo o total abandono do investimento em saúde e educação, pautas que são de extrema preocupação dos seus eleitores. Sobre o desemprego, também uma das principais angústias dos jovens que apoiam o candidato, não há nenhuma proposta viável de implementação que tente resolver esse problema. É a favor da venda do nosso patrimônio nacional e das privatizações, colocou no Roda Viva que seu principal objetivo ao disputar a corrida presidencial é que a economia se torne 100% liberal. Paulo Guedes, seu mentor, é formado na ortodoxia neoliberal, nada diferente de Meirelles, Armínio Fraga e outros ex-ministros da Fazenda dos últimos governos. Está no seu programa econômico a principal arma da esquerda para desfazer sua popularidade.

4 – Em sete mandatos, nada pela segurança
É provável que um dos principais temas, senão o principal, que faz um setor da população ser levado para o lado desse presidenciável seja a crise na segurança pública. Contraditoriamente, durante seus mandatos, Bolsonaro apresentou apenas 136 projetos de lei, sendo apenas 2 aprovados, nenhum deles sobre a segurança pública. Mesmo se levasse adiante seu discurso, nada teria como fazer por esse tema, pois é limitado à um sistema falido que propõe mais militarização e aprofundamento da guerra às drogas, que já se provou ter como único objetivo o assassinato e encarceramento de jovens negros enquanto os principais comandantes do crime organizado (os políticos ou grandes empresários) continuam à solta. É favorável à intervenção militar do Rio de Janeiro que teve como única consequência o aumento da violência, dos assassinatos e chacinas e de nenhuma forma fez a população de periferia se sentir mais segura. Defende a castração química para estupradores, reduzindo a cultura do estupro à um órgão genital e ignorando o caráter social e cultural da violência de gênero.

5 – Bolsonaro odeia mulheres e a população negra, que são maioria
Apesar de se distribuir minimamente entre diferentes classes sociais, o eleitorado de Bolsonaro continua sendo majoritariamente de homens brancos. O déficit que a sua campanha tem em conquistar as mulheres e a população negra é reflexo da política de ódio reproduzida por ele, inclusive responsável pela sua popularidade entre páginas e canais no Facebook e Youtube que se proclamam “opressores”. Bolsonaro ofende frequentemente a população quilombola e indígena, é contra as cotas raciais e disse em rede nacional que não houve escravidão no Brasil porque “os portugueses nunca pisaram na áfrica”, mostrando um total desconhecimento ou ignorância proposital da nossa história. Defende que as mulheres devem ganhar menos porque engravidam, e diz que machismo não existe porque “as mulheres tiram as melhores notas em concursos públicos”. Apesar de serem conhecidos como minorias, os oprimidos são a maioria da população, o que faz com que Bolsonaro perca alguma popularidade, ao mesmo tempo que ganha sobre o seu público já consolidado.

Combater Bolsonaro não passa pelo “mal menor”
Apesar da importância da disputa no terreno ideológico, sabemos que o deputado chegou onde chegou por questões bastante objetivas. Se hoje disputa com Alckmin, Meirelles e outros representantes dos partidos da ordem, ontem estavam um ao lado do outro na tribuna. Bolsonaro foi uma criação do próprio sistema político e econômico, sobrevivendo das alianças com partidos dos mais distintos programas, chegando à compor inclusive alianças com o partidos que hoje diz abominar. Sua ascensão demonstra sim um perigo iminente, e todos que se pretendem de esquerda precisam entender a urgência da luta contra o seu programa, com a unidade necessária para derrotá-lo. Se unir contra a extrema-direita é necessário e urgente, mas não adiantará de nada à médio prazo se restrita ao terreno eleitoral dos próximos meses.

Derrotar bolsonaro agora significa apresentar uma alternativa que rompa com os privilégios, com o sistema político vigente que esmaga os partidos que não fizerem alianças e principalmente com a política da governabilidade, que foi o que nos trouxe até aqui. Se hoje o ex-militar não tem o apoio majoritário dos grandes financiadores da política, cada vez mais buscará ampliar sua base social, e precisamos estar preparados para combatê-lo em todos os terrenos de forma consequente e não apenas eleitoralista. Só é possível derrotar nossos inimigos com a construção de uma alternativa real e concreta que dê esperança para a população que sofre com a crise e por isso recorre às saídas mais enganosas. Por isso, estou com Boulos e Sônia Guajajara, os únicos candidatos que hoje tem a capacidade de encabeçar essa alternativa, mas ela só crescerá e derrotará a extrema-direita e o fascismo se fizer a disputa de forma consequente e ampla, não restrito ao terreno mais fácil.

Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil

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