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CULTURA

John Berger foi um marxista que mudou a história da Arte

Por John Molyneux e traduzido por Gleice Barros

Originalmente publicado no site socialist worker 

Legenda da foto: John Berger usou pinturas a óleo como Os Embaixadores, de Hans Holbein, o jovem (detalhe), para desenvolver uma história materialista da tradição (Foto: Wikimedia Commons / Ji-Elle, Google Art Project)

John Berger, morto nesta segunda (02) aos 90 anos, foi o mais importante escritor de arte dos últimos 60 anos.

Haverão aqueles da academia e do mundo da arte que irão rejeitar esta afirmação. Mas em termos de influência sobre o globalizado mundo, é uma verdade límpida.

E isso se torna mais memorável porque ele era um rebelde intransigente e marxista.

Um de seus primeiros trabalhos, uma coleção de ensaios escritos durante seu tempo como crítico de arte da New Stateman, foi chamado de Vermelho Permanente. O título foi intencional e declarava que “eu nunca vou comprometer minha oposição à sociedade e cultura burguesas”. E cumpriu sua palavra.

Berger foi muito mais que um escritor de arte. Ele foi pintor, poeta, romancista, roteirista, dramaturgo, crítico político e social, filósofo e mais.

A extensão de suas habilidades era extraordinária e indo desde estudar a vida dos camponeses nos Alpes Franceses, onde viveu por mais de 30 anos, a observar animais e dialogar com o líder zapatista Subcomandante Marcos.

A excepcional amplitude de seus conhecimentos e sensibilidade tornaram seus textos de arte tão poderosos.Porém, foi na arte que ele fez suas maiores contribuições intelectuais e pelos quais será mais lembrado.

O que nos leva ao seu trabalho mais conhecido – a série para TV Ways of Seeing [Modos de ver em português – nota da tradutora] e o livro de mesmo nome, em 1972.

Revolucionário

É difícil agora lembrar ou expressar quão revolucionário este trabalho foi na época.

Modo de ver foi, em conteúdo e forma, completamente diferente e oposto aos tipos de programas de cultura que foram transmitidos pela BBC antes e depois de seu lançamento.

A série avançou, sem rodeios, para uma séria argumentação marxista sobre toda tradição da arte ocidental desde o período da Renascença.

O livro fez o mesmo e juntos representaram um desafio a maneira com o qual a arte era entendida e apresentada. A história da arte nunca mais seria a mesma.

Berger olhou para a pintura à óleo desde do seu inicio ainda no século XV até chegar ao século XIX. O questionamento foi, em essência, que este tipo de pintura representava objetos e pessoas como coisas a serem dominadas pela propriedade privada. Em outras palavras, era uma expressão das relações sociais no capitalismo.

Seus argumentos incluíam a critica a como as mulheres eram sistematicamente representadas não como sujeitos, mas como objetos a serem admirados e possuídos. Isso foi especialmente revolucionário naquele momento.

Outro livro grandiosamente importante foi Sucesso e Fracasso de Picasso (1965), o qual explicava a grandeza de Picasso e reconhecia como sua imensa riqueza e bajulação o isolou e destruiu sua obra.

A escrita de Berger se destacava pela habilidade de sustentar uma abordagem marxista critica sem perder de vista o engajamento humano criativo e intenso envolvido em todo trabalho de arte sério.

E este envolvimento criativo humano foi uma qualidade que Berger trouxe para cada coisa que escreveu e disse, qualquer fosse o assunto.

Eu, frequentemente, discordava com específicos julgamentos artísticos dele. Mas ler qualquer coisa de Berger era se envolver inteiramente em um intimo relacionamento com um extraordinário ser humano engajado.

Seu compromisso com a emancipação humana era inserida em cada palavra e olhar.