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BRASIL

Mataram João do Teatro em Araguari, em Minas Gerais

Era para ser um dia alegre, mas foi só tristeza. João Batista Cardoso, estudante do curso de Teatro da Universidade Federal de Uberlândia, artista, servidor público, LGBT, foi morto em um bar em 29/10, na cidade de Araguari (MG).

Jorgetânia Ferreira
João do Teatro
Reprodução

João foi morto com uma facada no coração, após uma discussão política, às vésperas da eleição mais importante de nossas vidas. Segundo relatos, a discussão ocorreu depois de uma carreata. João apoiador de Lula e o assassino apoiador de Bolsonaro. A primeira informação divulgada falava de causa política. Minutos depois um áudio de um policial. que afirmava ser responsável pelo caso, descartou a motivação política. Atribuía a razão a uma briga por cachaça. Com isso se banalizou a morte e descredenciou o sujeito João do Teatro. Antes de começar o policial já havia concluído a investigação, evitando assim dar a dimensão política que o caso tem. 

Eu sou professora da UFU, mas não tive o prazer de conhecer o João. Amigas professoras, estudantes e pessoas de meu convívio o conhecia. Sobre ele muitos elogios. Que era um incentivador da cultura na cidade, que promovia festivais de teatro, que cuidava das crianças e que era de total confiança da família dos/as estudantes. “desde pequena minha filha fez teatro com ele, ele tinha o maior cuidado com esses meninos, as mães tinham maior confiança nele, ele não abria mão do lanche para os meninos, ele ensinava a limpar o ambiente antes de sair”. “João era da turma que iniciou o teatro na cidade, era estudante entusiasmado com a profissão e queria seguir estudando, mesmo não sendo jovem” e por aí seguem os depoimentos sobre esse artista, estudante, servidor. 

João foi morto e a causa mortis poderia ser anotada como a efetivação do discurso de ódio. daqueles que dizem preferir ter um filho morto do que gay, dos que não respeitam a diversidade. O autor do crime, um homem pobre, marido de uma costureira, ainda não foi preso. Segundo relatos, após a discussão ele saiu e voltou de carro, com uma faca. A facada não foi no calor da discussão. Foi uma facada certeira, no coração de João, por que para o autor, João merecia morrer por ser “viado e petista”, nas palavras dele.  

É muito triste e doloroso saber que João do Teatro não poderá continuar realizando seus sonhos porque foi morto por uma facada bolsonarista.  No dia seguinte à sua morte, apesar da PRF tentar impedir o povo nordestino de votar, apesar do orçamento secreto, apesar do pânico moral criado nas comunidades religiosas e redes sociais Lula foi eleito com 2 milhões de votos a mais que Bolsonaro. O que seguiu as eleições continuou expressando, da parte dos perdedores, o projeto de país que defendem: assassinato de uma mulher em Santa Vitória-MG, violência em Frutal-MG e assassinato da menina Luana de 12 anos e de Pedro Henrique (28), que comemorava a vitória de Lula em Belo Horizonte. Minas Gerais seguiu sendo um estado muito importante para os rumos da política nacional, mas aqui também foi o lugar de mais assédio eleitoral e de práticas de violência durante o processo eleitoral, como foi o caso dos drones de dejetos no comício de Lula em Uberlândia, no primeiro turno. 

João não pode ver o resultado dessa eleição tão definitiva para o Brasil. Por ele e por todas as pessoas que tombaram lutando por um Brasil de igualdade, democracia e diversidade seguiremos. Que o Brasil saia do mapa da fome e da miséria, que a arte, a educação e a cultura sejam valorizadas. E que corra justiça porque tem muito sangue derramado nessa luta. 

João do Teatro, Presente! Hoje e Sempre.