Texto originalmente do Reage CENPES cedido para divulgação no Esquerda Online
Após os ataques dos governos Collor e FHC, o processo de desmonte da Petrobras se reinicia em 2012, com a ex presidente da Companhia Graça Foster e seu Prodesin (Programa de Desinvestimentos), continuando com o ex presidente Ademir Bendine e se intensificando assustadoramente na atual gestão Pedro Parente. Seguindo os ditames da carta magna deste processo destrutivo, conhecida como Plano de Negócios e Gestão 2017-2021 (PNG 2017-2021), a diretoria da empresa tem promovido a privatização de forma acelerada sob os aplausos do mercado e da imprensa, dominante e desvirtuada.
Na esteira deste processo, hoje vamos discutir os casos Liquigás e Complexo Petroquímica Suape (PQS), já que na próxima Assembleia dos Acionistas, no dia 31 de janeiro, no Edifício Sede, a atual Diretoria da Petrobrás apresentará a alienação de 100% das ações desses ativos como “estratégica” e benéfica.
Subsidiária direta da Petrobras, a Liquigás é uma empresa que atua no engarrafamento, distribuição e comercialização de Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), também conhecido como gás de cozinha, e está presente em 23 estados brasileiros (exceto Amazonas, Acre e Roraima), cobrindo 83% dos municípios do país. Sua participação no mercado nacional é de 22,6%, atrás apenas da Ultragaz (23,1%).
Com um lucro líquido de R$ 114,3 milhões em 2015 (116% superior ao lucro de 2014) e vendas de 1,7 milhão de toneladas de GLP por ano, é a empresa que regula o preço do GLP no país, permitindo que este seja mais barato para o consumidor, o qual precisa do gás de cozinha no seu dia a dia. O preço de venda deste gás tem um impacto relevante na vida de famílias de baixo poder aquisitivo, as quais são muitas no Brasil!
As transações em torno da venda da Liquigás esbarram no entendimento do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), uma vez que a Ultragaz concentrará o mercado com praticamente 46% das vendas. Outro ponto importante é que o banco Itaú BBA, responsável pela seleção das ofertas para aquisição de 100% da Liquigás, é sócio do Grupo Ultra, que representa a Companhia Distribuidora Ultragaz.
Isso não deveria ser proibitivo para a participação deste banco no processo de privatização? Outra polêmica é o fato de que o atual diretor financeiro da Companhia, Ivan Monteiro, foi membro do Conselho do grupo Ultra até fevereiro de 2015.
Importante salientar que a empresa conta com 4617 revendedores e 21090 clientes granel, faz 33463 entregas de granel por mês e conta com uma força de trabalho de 3188 empregados próprios (dados de 31/12/2015). Sabemos que o primeiro efeito de qualquer privatização é a demissão de muitos trabalhadores e a redução de salário daqueles que permanecem, com posterior queda na qualidade dos serviços prestados.
Destaca-se que a Liquigás foi vendida por R$ 2,67 bilhões, praticamente pelo mesmo valor corrigido de sua aquisição, através da Agip, em 2004 (U$ 450 milhões).
Mesmo considerando que os 1600 postos de gasolina adquiridos na transação foram transferidos para a BR Distribuidora, a Liquigás foi a empresa do setor que mais investiu em melhorias e inovações, trabalhando para expandir sua cobertura para atendimento de 100% dos municípios dentro de sua área de atuação, além da aquisição de novos botijões e implementação de novas tecnologias. Sua venda representa um grande prejuízo para Petrobrás e para o povo brasileiro.
A Petrobras também anunciou recentemente a venda de suas participações na Companhia Petroquímica de Pernambuco e na Companhia Integrada Têxtil de Pernambuco (Citepe), as quais formam o Complexo Petroquímica Suape (PQS). Esta venda foi realizada para o grupo Petromex e para a Dak Americas Exterior, subsidiárias da mexicana Alpek, do setor petroquímico e com atuação na produção de fibras têxteis, por U$ 385 milhões.
Interessante que o valor da venda surpreendeu o conglomerado financeiro JP Morgan, o qual, segundo publicação do Valor (29/12/2016), estimava uma alienação em torno de U$ 582 e U$ 640 milhões.
A Companhia Petroquímica de Pernambuco produz o ácido tereftálico purificado, PTA, matéria prima para produção de filamentos de poliéster, polímeros e resina PET por parte da Citepe. Para ser competitiva, a Citepe deveria também produzir filamento POY (Partially Oriented Yarn), matéria prima para os filamentos texturizados DTY (usados na fabricação de tecidos, malhas e outros).
No entanto, o atraso na produção (prevista para se iniciar em 2018) obriga a Citepe a importar o POY de países como a Índia, acarretando grande aumento nos custos da empresa, especialmente com a alta do dólar e a contração do mercado interno reduzindo a demanda. Assim sendo, não parece que o problema da PQS seja algo a ser corrigido com privatização; a questão principal se refere aos erros da estratégia adotada: sem operar de forma verticalizada, a indústria não produz sua própria matéria prima e vive à mercê de importações.
Vale destacar que denúncias foram feitas afirmando que as máquinas necessárias para a instalação da planta geradora de matéria prima (POY) estão encaixotadas, esperando a devida destinação. Não será de se espantar quando após a privatização a PQS começar a registrar lucro; certamente os mexicanos instalarão o maquinário ocioso e já adquirido pela Petrobras.
O ramo petroquímico é altamente rentável, representando uma forma de agregação de valor aos produtos da indústria petrolífera. Abandoná-lo, além de representar imenso prejuízo para a Petrobras e o país, representa mais um passo de transformação da Companhia em uma mera fornecedora e exportadora de óleo cru. E não foi deste jeito que a Petrobras se transformou em uma respeitada referência na indústria de Óleo&Gás no mundo, ganhadora por três vezes do prêmio de maior destaque neste segmento (OTC Distinguished Achievement Award for Companies, Organizations, and Institutions).
Até quando assistiremos inertes ao desmonte do que de melhor foi construído no Brasil para seu povo e os trabalhadores, que efetivamente contribuem para o progresso?
Dizem que o Plano Negócios e Gestão de 2017-2021 da Petrobrás, lançado pelo Pedro Parente/ Temer, é estratégico, mas para quem?
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