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MUNDO

Rabinos israelenses dizem a Netanyahu que Israel tem o direito de bombardear hospital Al-Shifa em Gaza

Um grupo de influentes rabinos israelenses escreveu uma carta a Benjamin Netanyahu afirmando o direito de Israel sob a lei judaica de bombardear o hospital Al-Shifa em Gaza.

Jonathan Ofir, do portal Mondoweiss. Tradução de Waldo Mermelstein, do Esquerda Online.
Rabino Dov Lior, mentor espiritual de Itamar Ben-Gvir,

Rabino Dov Lior, mentor espiritual de Itamar Ben-Gvir

Ontem [30], o jornalista de direita israelense Hagai Segal compartilhou uma carta de 45 influentes rabinos israelenses (lista inicial), endereçada ao “Primeiro-ministro Benjamin Netanyahu; Que sua luz brilhe, aos chefes do Estado e do aparato de segurança”, afirmando explicitamente o direito de Israel bombardear o hospital Al-Shifa em Gaza – o principal hospital da Faixa.

Os militares israelenses alegaram que o Hamas está usando os hospitais Shifa e Al Quds como bases e alertaram ambas as instituições para as evacuarem antes de um esperado ataque. As alegações não podem ser verificadas e, independentemente disso, um ataque a instalações de saúde é proibido pelo direito internacional. Se Israel bombardear Shifa, não será a primeira vez. O hospital foi atacado em 28 de julho de 2014 e, na época, foi o quarto hospital bombardeado por Israel durante aquele ataque.

Mas agora, os rabinos estão garantindo aos líderes de Israel que tal crime de guerra teria a aprovação pelo Deus de Abraão, Isaac e Jacó. Aqui está o que eles dizem sobre o hospital Shifa:

“É necessário esclarecer, que também quando o inimigo que se esconde atrás de um ‘escudo humano’, como acontece com as informações sobre o quartel-general terrorista no hospital Shifa em Gaza – não há halachic [lei religiosa judaica] ou proibição moral, nem legal, para bombardear o inimigo após aviso suficiente. E se sob tal ação sangue inocente for derramado, a culpa estará exclusivamente nas cabeças dos assassinos cruéis [do Hamas] e seus apoiadores”.

Há vários rabinos notáveis na lista de signatários que defenderam a morte de “bebês inimigos” no passado. Os rabinos Yitzhak Shapira e Yosef Elitzur escreveram isso explicitamente em seu livro de 2009 Torat Hamelech(Torá do Rei), alegando que tais bebês muitas vezes podem estar no caminho de matar o inimigo e que, portanto, sua morte é permitida. Além disso, eles escreveram que seu assassinato é permitido sob a justificativa de que esses bebês “crescerão para nos prejudicar”.

Um dos autores de Torat Hamelech, Yitzhak Shapira, rabino da yeshiva1 Od Yosef Hai em Yitzhar, é um dos signatários da carta de ontem (a yeshiva foi notavelmente beneficiária de doações do fundo familiar Kushner até 2011). Dois outros rabinos da lista de signatários, Dov Lior (primeiro signatário, ex-rabino de Kiryat Arba2 e mentor espiritual de Itamar Ben-Gvir3) e Yitzchak Ginzburg (terceiro signatário, afiliado ao movimento Chabad4) endossaram o livro de Torá do Rei.

Israel atacou dezenas de unidades de saúde desde 7 de outubro. Não está fazendo isso apenas com Al Shifa e Al Quds – Israel pediu a evacuação de toda a área, incluindo seus cerca de 24 hospitais. O Dr. Mads Gilbert, o médico norueguês que trabalhou repetidamente no hospital Shifa, referiu-se à questão em entrevista no Democracy Now:

“Ouvimos essas reivindicações desde 2009. Fomos ameaçados duas vezes para que abandonássemos o Hospital Shifa, em 2009 e 2014, porque os israelenses iriam bombardeá-lo já que seria um centro de comando. Agora, eu trabalho no Shifa há 16 anos, 16 anos de forma inconstante, em períodos muito agitados, períodos muito agitados. Conseguia caminhar livremente. Tiro muitas fotos. Fotografo ilmo e filmo. Eu estava dormindo no hospital durante o bombardeio. Já passei por tudo. Nunca sofri restrições, controles. Ninguém nunca inspecionou minhas fotos e o material de documentação. Então, bem, se houver um centro de comando, mostre-nos. Vocês têm fotos e filmes de raio-X de toda Gaza, todos os túneis, tudo. Então, por que nesses 16 anos de ameaças de que Shifa é um centro de comando [eles] não receberam nenhuma evidência de que de fato é? Agora, se fosse um centro de comando militar, eu não trabalharia lá, porque obedeço à Convenção de Genebra, em primeiro lugar.
Em segundo lugar, se os israelenses afirmam que este é um alvo misto militar-civil, porque obviamente é civil, com dezenas de milhares de pessoas reunidas lá e 2.000 pacientes sendo tratados – se for um alvo misto militar-civil, as precauções civis têm prioridade sobre as militares. Então, de acordo com a Convenção de Genebra, você não pode bombardear hospitais, a menos que eles tenham funções militares muito claras.
Então, para mim, tudo isso faz parte dessa imensa intimidação do povo palestino em Gaza. Os palestinos são ameaçados com panfletos lançados por aviões e helicópteros. Eles são ameaçados por telefonemas. São ameaçados por, você sabe, “Se você ficar no norte de Gaza agora, nós o definimos como um terrorista”. O que é isto? 2023, dois milhões e meio – 2,2 milhões de pessoas, civis, desarmados sendo mortos, uma criança morta a cada 10 minutos. Até agora, o número de crianças palestinas mortas é de 3.324, e há 2.062 crianças palestinas desaparecidas em Gaza.
1 A yeshiva is  Uma yeshiva é uma instituição judaica tradicional focada no estudo da literatura rabínica
2 Colônia na Cisjordânia que assumiu proporções de uma pequena cidade
3 Atual Ministro da Segurança Nacional, membro do partido Poder Judaico, de extrema-direita.
4 Chabad Lubavitch, também conhecido como Chabad, ou Lubavitch é uma das ramificações do hassidismo e uma das maiores organizações judaicas do mundo. Wikipédia

original em Israeli rabbis tell Netanyahu that Israel has a right to bomb Al-Shifa hospital in Gaza