Um atirador palestino de Jerusalém Oriental ocupada matou sete pessoas perto de uma sinagoga em um assentamento [judaico] na noite de sexta-feira, de acordo com a mídia israelense.
A imprensa israelense identificou o suposto agressor, que foi morto a tiros pela polícia, como Khayri Alqam, de 21 anos, do bairro de al-Tur, em Jerusalém Oriental.
Itamar Ben-Gvir, ministro da Segurança Interna de Israel, visitou o local do tiroteio, onde foi vaiado por manifestantes. “Pode ver tudo em seu relógio”, teria gritado uma pessoa. “Vamos ver o que você faz agora.”
Em um vídeo de Ben-Gvir no local, os manifestantes podem ser ouvidos cantando “morte aos árabes” e “morte aos terroristas”.
Ben-Gvir responde com aprovação: “morte aos terroristas, isso mesmo”.
Embora o Hamas não tenha reivindicado a responsabilidade pelo tiroteio em Neve Yaakov, um assentamento [de colonos judaicos] em Jerusalém Oriental, um porta-voz do grupo de resistência elogiou a operação e a descreveu como “o início de uma resposta” ao ataque israelense à cidade de Jenin, na Cisjordânia, na quinta-feira, que deixou nove palestinos mortos.
O ataque a Jenin foi “a operação israelense mais mortal na Cisjordânia desde pelo menos 2005”, disse uma autoridade das Nações Unidas.
Duas crianças e uma mulher estavam entre os mortos no ataque de Jenin. Vinte palestinos ficaram feridos, quatro deles em estado crítico, de acordo com o Ministério da Saúde.
Al-Haq, um grupo palestino de direitos humanos, disse que o ataque começou com um cerco a uma casa no campo de refugiados de Jenin. Três ocupantes da casa foram mortos por bombardeios israelenses.
Os militares também demoliram parte de uma organização comunitária no campo [de refugiados] e atacaram geradores de eletricidade, cortando a energia e a internet na área, inclusive do principal hospital de Jenin, de acordo com o grupo de direitos humanos.
Palestinos em Gaza dispararam foguetes em direção a Israel, após o ataque mortal em Jenin, e Israel atingiu locais em Gaza que alegou serem usados para fabricar foguetes.
Escalada mortal
O ataque a tiros em Jerusalém na sexta-feira marcou as primeiras mortes israelenses no contexto da ocupação até agora neste ano.
Soldados, policiais e colonos israelenses mataram mais de 30 palestinos desde o início de 2023. Outros palestinos morreram como resultado de ferimentos sofridos durante anos anteriores.
Em 2022, de acordo com o monitoramento da Electronic Intifada, 207 palestinos foram mortos por militares, policiais e colonos israelenses na Cisjordânia, Gaza e dentro [das fronteiras] de Israel durante o ano, ou morreram de ferimentos sofridos anteriormente.
O ano de 2022 viu o maior número de palestinos mortos por forças israelenses e colonos na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental, desde a segunda intifada há duas décadas. Mais de 50 dessas mortes ocorreram na área de Jenin, de acordo com a Al-Haq.
Uma grande escalada de violência, ainda pior, em 2023 parece estar praticamente garantida, já que o atual governo de Israel é o mais direitista e abertamente fascista até agora.
Após o banho de sangue de quinta-feira em Jenin, três especialistas de direitos humanos independentes da ONU declararam conjuntamente que “nada dessa violência ocorreria se Israel acabasse com sua ocupação ilegal de meio século de forma imediata e incondicional, conforme exigido pelo direito internacional”.
Os especialistas observaram que não houve responsabilização pelo massacre de Israel no campo de refugiados de Jenin em 2002, durante o qual mais de 50 palestinos foram mortos e mais de 400 casas foram destruídas.
Al-Haq disse que “enquanto o novo governo é explícito sobre a forma que quer expandir o projeto de colonização por povoamento, a política de uso excessivo da força de Israel não é novidade”.
Essa política “é uma exemplificação do regime colonialismo de povoamento e do apartheid mais gerais”, acrescentou o grupo de direitos humanos.
Jerusalém é um epicentro dos esforços de Israel para expulsar os palestinos para que eles possam ser substituídos por colonos estrangeiros.
Os palestinos em Jerusalém são submetidos à violência diária de colonos, policiais e uma burocracia [estatal] que visa expulsá-los da cidade. Dezenas de milhares de moradores palestinos da área de Jerusalém estiveram sob cerco por vários dias em outubro passado.
Dezenas de palestinos foram executados nas ruas de Jerusalém e becos de sua Cidade Velha em ataques e supostos ataques desde o final de 2015.
Em novembro do ano passado, dois israelenses foram mortos em duas explosões na cidade.
Após esses atentados, Itamar Ben-Gvir – um líder de extrema-direita no novo governo de Israel e discípulo do rabino Meir Kahane, cujos ensinamentos genocidas inspiraram o massacre da mesquita de Ibrahimi em 1994 (1) – pediu as execuções extrajudiciais dos líderes da resistência palestina. Ele disse que “devemos voltar aos assassinatos seletivos, devemos impor um toque de recolher na aldeia de onde os terroristas vieram”.
Palestinos espremidos em Jerusalém
Neve Yaakov, o assentamento onde ocorreu o ataque a tiros de sexta-feira, foi construído em terras confiscadas das comunidades palestinas vizinhas de Beit Hanina, Hizma e al-Ram.
Um plano diretor de 2000 para Jerusalém [elaborado pela prefeitura da cidade] mostra a intenção de Israel de dominar a cidade, garantindo “uma proporção demográfica de 70% de judeus israelenses e 30% de palestinos na cidade”, de acordo com a Al-Haq.
A Human Rights Watch observa que parte dos esforços de Israel para manter sua dominação é feita por meio da “‘judaização’ de áreas com populações palestinas significativas“, incluindo Jerusalém.
“Esta política, que visa maximizar o controle judaico-israelense sobre o território, concentra em enclaves densos e carentes a maioria dos palestinos que vivem fora das principais cidades predominantemente judaicas de Israel”, acrescenta a Human Rights Watch.
Enquanto isso, tal política restringe o “acesso dos palestinos à terra e à moradia, ao mesmo tempo em que alimenta o crescimento das comunidades judaicas próximas”.
Desde que ocupou o setor oriental de Jerusalém em 1967, Israel revogou o status de residência de mais de 14.500 palestinos da cidade.
Ao contrário do massacre de Israel em Jenin, um dia antes, o tiroteio mortal em Jerusalém foi rápida e fortemente condenado pelos Estados Unidos e pela União Europeia.
Israel tentou justificar o ataque mortal de quinta-feira a Jenin alegando que frustrou um ataque iminente de combatentes da resistência palestina – embora não tenha dito onde ou quando esse suposto ataque ocorreria.
O que o derramamento de sangue de sexta-feira em Jerusalém demonstra, mais uma vez, é que, apesar da quantidade de assassinatos, prisões, torturas, demolições punitivas, punições coletivas e outras formas de perseguição que Israel aplica sobre os palestinos, não consegue com isso obter o que considera como segurança.
Enquanto o brutal regime racial de Israel continuar a governar a vida de milhões de palestinos, a única certeza é que mais vidas serão perdidas.
Ali Abunimah contribuiu com relatos.
NOTAS
1 Nesta mesquita, na caverna dos Patriarcas em Hebron, na Cisjordânia ocupada, um judeu de extrema-direita, Baruch Goldstein, seguidor do rabino racista Meir Kahane, abriu fogo e assassinou a sangue frio 29 palestinos que faziam suas orações. Como reação, Goldstein foi morto pelos palestinos presentes. Seu túmulo em Kiriat Arba, um assentamento urbano na Cisjordânia ocupada, é lugar de peregrinação de fanáticos e as ideias racistas de Meir Kahane são recolhidas por vários partidos presentes na coalizão de extrema-direita em Israel.
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