Bolsonaro prepara um golpe…
Ao longo dos últimos anos, nós do Afronte, junto a diversos outros movimentos e partidos de esquerda, denunciamos e combatemos as ameaças golpistas colocadas em prática pelo governo Bolsonaro e por setores das Forças Armadas, localizando esta como uma das tarefas mais importantes deste período.
Com a aproximação do pleito eleitoral de 02 de outubro, Bolsonaro quer avançar em sua estratégia de ruptura democrática. O primeiro passo nesse sentido foi dado pelos militares alinhados ao governo, que dobraram a pressão sobre o TSE durante os preparativos da eleição, atuando para deslegitimar a justiça eleitoral e difundir fake news sobre o processo. (1) Em seguida, na reunião com os embaixadores de 18 de julho, o presidente reafirmou suas mentiras e deixou clara a sua posição de não aceitar o resultado, caso as eleições ocorram por fora das condições definidas por ele. (2)
Seu próximo movimento deve escalar ainda mais as tensões: Bolsonaro quer fazer do 07 de setembro um dia de ofensiva contra a democracia, mobilizando a sua base com o suporte de milicianos, do centrão, de pastores e setores empresariais. A proposta é combinar manifestações de rua com desfiles militares na ocasião da comemoração dos 200 anos de independência do Brasil, especialmente no Rio de Janeiro, onde o presidente tenta mudar a tradicional parada militar da Avenida Presidente Vargas para a orla de Copacabana. (3)
Evidentemente, as aspirações golpistas de Bolsonaro encontram resistências, inclusive na burguesia brasileira e em frações do imperialismo. A FIESP, a Febraban (4) e até mesmo a embaixada dos EUA(5) manifestaram suas preocupações com o curso da realidade brasileira, bem como a sua contrariedade à política de Bolsonaro. Mas a esta altura, em que pese a importância de calcular e mensurar os riscos de um possível triunfo da estratégia bolsonarista, o mais importante é expressarmos uma posição categórica: não aceitamos mais ameaças e provocações, não aceitamos golpe ou qualquer outro tipo de retrocesso!
Este deve ser o compromisso da esquerda e dos movimentos sociais, buscando ampliar a unidade de ação com todos aqueles que tenham acordo e disposição para lutar contra o golpe. O desfecho desta intensa polarização política será resolvido pelas ruas, a partir da mobilização popular, em um terreno onde a esquerda tem condições de cumprir um papel de primeira importância. Ao mesmo tempo em que buscamos amplitude na luta, não podemos semear ilusões na democracia burguesa brasileira ou em seus representantes políticos, ainda que momentaneamente seja necessário explorar as divisões entre eles.
… Mas nós não vamos esperar em casa
Diante da escalada autoritária promovida pelo governo, a Campanha Nacional Fora Bolsonaro, que organizou as maiores manifestações contra o governo em 2021, e que reúne as Frentes Povo Sem Medo, Brasil Popular, UNE, Coalizão Negra por Direitos, APIB, além de partidos e movimentos sociais, convocou um novo calendário de lutas para as próximos semanas.
A primeira data, que foi proposta inicialmente pela UNE, é o 11 de agosto, dia do estudante, e foi incorporada como dia nacional. Esta será a primeira oportunidade para a retomada das mobilizações de rua, em um dia de semana, com a possibilidade de atingirmos amplos setores da sociedade a partir da unidade de diversos movimentos e categorias.
No mesmo dia, na Faculdade de Direito da USP, está sendo organizado um ato e um manifesto articulado pelo grupo Prerrogativas, além de professores, juristas e intelectuais em defesa da democracia e das eleições. Trata-se de uma iniciativa que já reuniu mais de 700.000 assinaturas.
Nestes próximos dias, nós do Afronte vamos jogar toda a nossa força para a construção deste ato, através de panfletagens e agitações nas ruas e nas redes. Apesar das férias escolares, acreditamos e apostamos no potencial de mobilização da juventude universitária, secundarista e trabalhadora, que não aguenta mais a crise e está frustrada com as expectativas em relação ao futuro.
A outra data prioritária, com caráter de mobilização nacional, será o dia 10 de setembro, quando pretendemos reunir centenas de milhares por todo o país, naquela que deverá ser a maior manifestação do ano. Nosso objetivo para esta data, acima de tudo, é ocupar as ruas em maior número e maior capilaridade que os bolsonaristas, que vão apostar as suas fichas no 07 de setembro. Precisamos golpear as suas pretensões golpistas e contagiar de esperança a maioria social favorável à saída de Bolsonaro. Somente a mobilização popular de amplos setores, sob uma política e uma orientação à esquerda, nos dará condições para vencer.
Além das duas datas prioritárias, há todo um calendário com outras mobilizações, que envolvem o dia da Amazônia, em 05 de setembro, e o Grito dos Excluídos, no próprio dia 07 de Setembro. Esta última, especificamente, é uma manifestação tradicional da esquerda brasileira, organizada inicialmente pela CNBB e diversos outros movimentos sociais, onde o Afronte se fará presente. O objetivo destas outras datas é acumular forças e canalizar energias para o dia 10 de Setembro.
Uma importante questão que devemos encarar na construção deste calendário é a autodefesa dos movimentos sociais e de todos que forem às ruas. Precisamos estar preparados para garantir a nossa segurança e evitar provocações, sobretudo diante dos indícios de que a extrema-direita prepara iniciativas deste tipo contra a esquerda no 07 de setembro. (6)
Fora Bolsonaro, Lula presidente
Queremos construir as mobilizações com todos aqueles que lutam por eleições livres e com respeito à soberania popular. Mas sabemos que o processo das ruas está intrinsecamente ligado ao processo eleitoral e por isso não podemos vacilar: a concretização do Fora Bolsonaro hoje passa pela eleição de Lula. Nós do Afronte defendemos desde o começo que o processo eleitoral deve ser combinado às manifestações de rua, através de uma campanha militante e combativa que se conecte aos setores mais oprimidos e explorados do nosso povo. A mobilização enquanto estratégia é também importante porque sabemos que o neofascismo só será derrotado em definitivo por este caminho.
Neste sentido, nós do Afronte entendemos que Lula deve cumprir com o seu papel e precisa convocar o povo às ruas agora, para defender a democracia, derrotar o golpismo e para votar 13 no próximo dia 02 de outubro. Os seus comícios eleitorais, incluindo o do dia 20 de agosto em São Paulo, precisam estar a serviço da convocação dos atos e da construção de uma campanha combativa. Uma possível vitória de Lula, combinada a um processo de intensa mobilização, pode preparar melhores condições para a nossa vitória e, consequentemente, para um novo ciclo para a esquerda e o povo brasileiro no próximo período.
Ao longo deste processo, nós do Afronte queremos fortalecer junto ao povo um conjunto de reivindicações e propostas programáticas pelas quais vamos lutar mesmo depois das eleições. A realização das demandas mais sensíveis à classe trabalhadora, ao povo negro, indígena, às mulheres e LGBTQIA+ precisa começar com a revogação da reforma trabalhista e do legado do golpe, com a transição a um modelo ecológico e popular, pela legalização do aborto, a desmilitarização das polícias, entre muitas outras medidas e avanços estruturais. E para concretizar este programa precisamos apostar nas lutas e enfrentar os interesses da burguesia, da direita e do imperialismo. Para derrotar Bolsonaro e esperançar o futuro, a saída é pela esquerda!
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