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Um 8 de janeiro “gourmet”?

Marcelo Camargo/Agência Brasil

Chico Alencar

Chico Alencar é professor de História graduado pela UFF, mestre em Educação pela FGV e doutorando na UFRJ. Tem 30 anos de experiência na política institucional, já tendo sido Deputado Federal por quatro legislaturas. Ganhou nove vezes o prêmio de “Melhor Deputado” do site Congresso em Foco e foi escolhido por jornalistas o parlamentar mais atuante do Brasil. Chico Alencar foi eleito em 2022 com 115.023 votos pelo PSOL-RJ para mais um mandato de Deputado Federal.

Quem atender a esse chamado do ex-presidente inelegível para ir à rua no domingo, (25), com o lema – fascista e integralista, é bom que se diga – “Deus, Pátria, Família e Liberdade”, deve saber que estará alimentando o narcisismo de seu “mito”. Ele próprio se julga um “deus” intocável, ainda chefe de uma “pátria armada”, não tão amada.

Sua “pátria acima de todas” parece ser o EUA, para onde transferiu R$ 800 mil, alguns dias antes de, covardemente, sair do Brasil após a derrota eleitoral, usando o avião da FAB.

O objetivo da transferência , segundo a investigação da Polícia Federal, seria dispor de recursos para se manter em solo americano, enquanto a intentona golpista acontecia no Brasil. A grana serviria para pagar sua estadia no exterior e para que se precavesse de um inquérito por conspiração contra a democracia.

No próximo dia 25, na Avenida Paulista, não haverá prédio de Poder Público invadido, depredado e saqueado, com a conivência de forças policiais, como aconteceu no dia 8 de janeiro de 2023, de triste memória, mas a Constituição Cidadã e nosso precário Estado Democrático de Direito serão, com certeza, alvejados.

A repulsa ao justo e devido processo e condenações dos envolvidos na trama golpista será a tônica. Ou seja, total desapreço pela democracia.

Além da criminosa defesa do golpe fracassado, não será surpresa se aparecer no meio dos manifestantes e em alguns discursos, apoios ao massacre em Gaza, a Trump e a expressões da extrema direita em outras partes do mundo, algumas com indisfarçável viés neonazista.

Além da criminosa defesa do golpe fracassado, não será surpresa se aparecer no meio dos manifestantes e em alguns discursos, apoios ao massacre em Gaza, a Trump e a expressões da extrema direita em outras partes do mundo, algumas com indisfarçável viés neonazista.

Trata-se de um convescote de individualistas insensíveis, egocêntricos, que se alimentam do ódio ao que não é seu espelho.

Essa pretendida “fotografia” será a dos que – incautos ou de má fé – não acreditam nos valores republicanos, na igualdade entre os humanos e na nossa pertença à natureza, tão vilipendiada (“passa a boiada!”).

Será, independentemente do tamanho da aglomeração retrógrada, uma manifestação de má qualidade, sombria e negacionista, com alto teor golpista.

Para desconforto e raiva dos ultraconservadores, que pouco leem, cito um escrito do velho Marx, em “O 18 de Brumário de Luís Bonaparte” (1852): “a História só se repete, por assim dizer, duas vezes: a primeira como tragédia, a segunda como farsa”.