Este chamado à solidariedade urgente foi feito pelos companheiros da Plataforma de Solidaridad con el Pueblo Sirio de Madrid e foi publicado originalmente no site da Corriente Roja na semana passada.
Mesmo assim, conserva toda a sua importância pela clareza em que se expressa e pela urgência das reivindicações que faz perante a emergência pela que passa a população de Aleppo cercada. Os horrores do cerco continuam, tanto para os milhares que ainda lá permanecem quanto para os que foram retirados e não sabem onde nem em que condições será seu novo destino. As tropas de Assad e as milícias sectárias xiitas seguem perseguindo-os. Nas últimas 24 horas, setenta ônibus com refugiados foram detidos dentro dos veículos, sob o frio abaixo de zero graus centígrados. Além disso, mais de 40 outras cidades com um total estimado de 700 mil pessoas estão cercadas e em situação similar em toda a Síria. A cidade de Idlib, para onde boa parte dos moradores de Aleppo foram evacuados poderá ser a próxima vítima da barbárie e portanto este chamado continua mais válido ainda e se estende a toda a Sìria. E há os demais 11 milhões de refugiados e deslocados no país e em toda a região, que agora começam a ver suas vidas ameaçadas também pelo inverno que chega. Como se não bastassem os problemas, a campanha xenofóbica contra imigrantes e refugiados na Europa se acentua após o infame atentado em Berlim e que matou pelo menos 12 pessoas. (pela redação do Esquerda Online)
Aleppo é a Guernica do século XXI e o mundo olha para o outro lado enquanto repete-se uma nova matança de civis.
Os civis, obrigados a eleger entre morrer sob os escombros de suas casas ou se renderem aos que os bombardeiam, viram como o acordo de cessar-fogo alcançado no dia 13 de dezembro para a sua evacuação foi rompido em menos de 24 horas e como as tentativas de evacuação foram repetidamente boicotados por milícias iranianas.
Há cerca de 70 mil civis bloqueados em Aleppo. Todos eles estão em perigo perante a tomada da cidade por Assad e a Rússia. Nos últimos dias, a Anistia Internacional denunciou execuções sumárias realizadas pelas forças de Assad, similares às que ocorreram na antiga Iugoslávia. As principais vítimas são as de sempre: civis, trabalhadores humanitários, equipes médicas, jornalistas, mulheres e, crianças…
Esta situação é uma gravíssima violação aos Direitos Humanos e das convenções sobre o tratamento dos civis em situações de guerra, como já sucedeu em Srebrenica ou em Grozny. Não é, infelizmente, a primeira vez que ocorre na Síria. Aleppo foi precedida por Homs, Daraya, Al-Qusair…
Além disso, esta situação pode piorar: se esses crimes forem aceitos eles se repetirão inexoravelmente na cidade de Idlib, onde alguns civis de outras regiões evacuadas decidiram se instalar para evitar as zonas controladas pelo regime assadista.
O fato que a população assediada decida não se refugiar em território governamental é sintomático da insegurança que isso supõe para eles, de seu medo insuperável às represálias. As Nações Unidas denunciaram nos últimos dias execuções sumárias, desaparecimentos de dezenas de homens depois de serem separados de suas famílias e detenções no momento da evacuação. Também houve informes que revelam que algumas mulheres se suicidarem para evitar ser violadas frente à chegada iminente de soldados e milícias ligadas ao regime aos seus bairros e casas.
A Rússia, a Síria e seus aliados não podem, de nenhuma forma, utilizar o discurso contra o terrorismo para justificar essas graves violações dos Direitos Humanos e do Direito Internacional Humanitário.
Queremos expressar nossa absoluta solidariedade e apoio aos civis, aos defensores dos Direitos Humanos, jornalistas, equipes médicas e trabalhadores humanitários sírios e sírias, e a todas as pessoas que há vários anos resistem à repressão feroz de uma ditadura aferrada ao poder como se o país fosse de sua propriedade.
Sob o lema de “Assad ou queimamos o país”, esta ditadura afogou em sangue os legítimos protestos populares que começaram em 2011 no contexto das primaveras árabes.
Da mesma forma, queremos expressar nossa firme condenação ao papel desempenhado pela comunidade internacional, ao invés de condenar a atuação russa e seus interesses imperialistas, decidido salvaguardar seus próprios interesses às custas do sangue sírio.
Tanto os Estados Unidos como Israel e o resto das potências utilizaram as reivindicações legítimas dos sírios e das sírias em seu próprio benefício, sabotando as aspirações populares de construir uma sociedade justa e representativa da diversidade do país.
Recentemente, as posturas das distintas potências deram, um giro ainda mais perigoso: o reconhecimento e a reabilitação de Assad no cenário internacional como interlocutor no chamado processo de paz. Nesta semana, o ex-ministro de Relações Exteriores espanhol, Miguel Ángel Moratinos, pronunciou-se nesse sentido em declarações para o jornal ABC.
O principal responsável pelas mortes, destruição, crise humanitária, crises de deslocados e refugiados, e da chegada e instalação de terroristas na Síria não pode formar parte de nenhuma solução, nem ao terrorismo do Daesh, nem à crise no país e no mundo.
No entanto, nas relações internacionais, nem a lógica nem o interesse das populações ou seu desejo de decidir o seu destino costumam ser dominantes. Somente os interesses concordantes com os das potências internacionais e regionais continuam permitindo que a Síria sangre nas mãos de quem estabeleceu uma ditadura hereditária para se perpetuar no poder.
Em todo o mundo, em Sarajevo, em Copenhague, em Buenos Aires, em Nova York, em Barcelona, em Madrid…, estão sendo feitas manifestações em solidariedade com Aleppo.
Apesar do bloquei das potências internacionais e da cumplicidade da extrema direita e da falsa “esquerda anti-imperialista” com o regime de Assad, milhares de pessoas estão se manifestando para denunciar esses massacres e para pressionar seus governos e as instituições internacionais para que evitem um maior derramamento de sangue.
Os estados e as instituições internacionais têm a obrigação de proteger as populações civis perante os crimes de lesa humanidade, crimes de genocídio e de violações massivas dos direitos humanos.
Por tudo que foi dito, exigimos o fim imediato dos bombardeios. Exigimos também que seja exercida uma pressão real sobre Assad e sobre Putin, pois as consequências de que ambos continuem gozando de absoluta impunidade serão ainda piores para a Síria e para o mundo inteiro do que vimos até agora.
A Espanha também foi cumplice com o seu silêncio pelo massacre na Síria. Mariano Rajoy irá participar nesta semana no Conselho de Segurança da ONU para terminar o período em que a Espanha exerceu a presidência de dito organismo. Até agora, a passividade internacional frente aos bombardeios de civis foi lamentável e a Espanha tem a oportunidade de ajudar a que esta situação mude.
Para isso, o governo da Espanha deve levar a cabo as seguintes ações:
– Exigir o fim dos bombardeios das forças de Assad e da Rússia sobre civis, pois os barris de dinamite são a principal causa de morte e fuga de civis sírios.
– Exigir que a ONU entre em Aleppo para não deixar a sorte dos civis nas mãos das forças de Assad e da Rússia, responsáveis por crimes contra a humanidade.
– Exigir que sejam respeitados os corredores humanitários para que as pessoas possam sair de forma segura e não caírem nas mãos das forças de Assad, que estão assassinando os civis que tentam fugir ou que os detêm em suas casas.
– Insistir na proteção dos civis, de jornalistas das equipes médicas e dos trabalhadores humanitários, incluídos os Capacetes Brancos, que se encarregam dos trabalhadores de resgate das pessoas presas sob os escombros e que sofrem as represálias do regime e da Rússia.
Esta não é uma questão síria, mas de toda a humanidade de conjunto. Quando aumenta a impunidade, aumenta para todos e para todas, contra todos e contra todas.
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