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MOVIMENTO

A importância e os limites do Encontro de Sindicalistas com Lula

Camila Lisboa* e Richard Araújo**, de São Paulo, SP
Lula, de costas, acena para a o público a sua frente. Centenas de pessoas fazem sinal de coração com as mãos
Ricardo Stuckert

No dia 14 de abril, ocorreu em São Paulo o Encontro de Sindicalistas com Lula. Uma articulação importante que reuniu cerca de 1.500 pessoas, organizada pelas maiores centrais sindicais do país. O próprio Lula se referiu ao ineditismo do tamanho dessa unidade.

Essa foi a grande importância do encontro. E essa unidade está em torno de temas importantes, como a necessidade urgente de derrotar Bolsonaro, com base em questionamentos à sua política econômica, ao aumento do custo de vida do povo brasileiro, ao avanço da fome e da crise social, ao aumento da super exploração do trabalho, da precarização, às ameaças sobre a Petrobrás, ao avanço da violência machista e racista, e um longo etc.

Temas importantíssimos foram abordados por quase todos os oradores. Mesmo sabendo da dispersão que a precarização do trabalho causa – e da crescente dificuldade do sindicalismo brasileiro em representar as diversas expressões do povo trabalhador – pode-se dizer que a diversidade da classe trabalhadora estava presente no encontro.

As duas vaias ao deputado federal Paulinho da Força, do Solidariedade, foram justas. Golpistas não devem ser bem vindos. As experiências precisam valer. Lamentável que as vaias tenham parado nele.

A presença de Alckmin

Lula levou Alckmin ao Encontro para dar legitimidade, diante do movimento social ao qual é mais identificado, à essa aliança. E essa foi a tônica constrangedora da maioria das falas das lideranças presentes. Um erro estratégico, que vai cobrar sua conta em pouco tempo.

O programa entregue pelas centrais foi elaborado pela Conclat. Seus limites também foram expressos entre os oradores. Foram poucas as menções à necessidade de um “revogaço” na reforma da previdência, na reforma trabalhista, na PEC do teto de gastos, como Lula se propôs nas questões apresentadas no poderoso encontro do Acampamento Terra Livre.

Piora qualquer expectativa quando Lula diz que vai conversar sobre essa limitada plataforma com os empresários – o setor que apoiou ativamente o golpe de 2016 e todo o entulho antitrabalhista aprovado ao longo dos últimos anos e que foram responsáveis para o agravamento da exploração e precarização do trabalho e direitos de nossa classe. Lula ainda disse que o diálogo entre governo, movimentos e sindicatos será com Alckmin. Seu precedente privatista, conservador, autoritário, golpista, a violência contra a ocupação do Pinheirinho, em São José dos Campos, seu ódio aos professores, as demissões dos metroviários, e um longo etc, são fatos que explicam a baixa expectativa e o erro estratégico dessa aliança. Não há nada de companheirismo nessas experiências.

#LulaSimAlckminNão

Não temos dúvida da necessidade urgente de derrotar Bolsonaro. Estaremos na linha de frente da campanha pelo voto em Lula. Mas, todas as eleições têm o dia seguinte. Se vencermos, serão quatro anos de governo sob condições econômicas e políticas muito diferentes das do início do século. Além disso, derrotar Bolsonaro nas urnas é só uma das tarefas. Ainda que a derrota eleitoral seja importante, não se derrota o fascismo só na eleição. 

Os enfrentamentos à crise social, para a vida do povo realmente “voltar a ser feliz”, terão que se dar diretamente com os interesses do capital no país e não poderão ser consensuados com a Faria Lima ou a FIESP. São 12 milhões de desempregados, 116 milhões de pessoas vivendo em condições de insegurança alimentar, quase 50% da população ocupada trabalhando na informalidade, o valor da cesta básica em São Paulo, por exemplo, consome 60% do salário mínimo. A tragédia social é grande. Não será possível seguir admitindo a profunda desigualdade social brasileira que produz, na contrapartida desses dados, mais bilionários, mesmo no período da pandemia.

As alianças e programa “justificados” pela necessidade de derrotar Bolsonaro não vão criar os instrumentos suficientes para assumir integralmente o lado de quem vive as duras consequências da crise social e econômica. A presença de Alckmin, os limites programáticos do Encontro e o apoio das direções das organizações da nossa classe diante dos mesmos realçam a certeza de que a classe trabalhadora, depois de derrotar Bolsonaro, vai precisar de muita independência para lutar pela revogação das reformas e por medidas que enfrentem a desigualdade social. Enquanto fazemos muita campanha unificada para derrotar Bolsonaro nas urnas, este debate precisa seguir.

*Camila Lisboa é metroviária, coordenadora geral do Sindicato dos Metroviários de São Paulo.
**Richard Araújo é professor da rede estadual de São Paulo e dirigente da Apeoesp.  


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