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Porque NÃO lamentamos a morte de Olavo de Carvalho

Reprodução/Youtube

Direita Volver

Coluna mensal que acompanha os passos da Nova Direita e a disputa de narrativas na Internet. Por Ademar Lourenço.

Por Ademar Lourenço

A militância bolsonarista comemorou a morte do neto de Lula, de 7 anos de idade. Espalhou Fake News caluniando Marielle Franco quando ela foi assassinada. Vibrou quando Jair Bolsonaro homenageou o torturador Brilhante Ustra. Agora o guru intelectual dessa militância, Olavo de Carvalho, morre. O que devemos fazer?

É compreensível que muitas pessoas comemorem. Afinal, Olavo pregou o negacionismo responsável pelas mais de 700 mil mortes por Covid-19 no Brasil. Ele foi contra a vacina, o distanciamento social e chegou a falar que a doença não existia

Quando o terrorista Osama Bin Laden foi morto em 2011, milhares de pessoas comemoraram dançando e cantando pelas ruas dos Estados Unidos. Era compreensível que elas celebrassem o fim do sujeito responsável pelo atentado às Torres Gêmeas em 2001, que matou cerca de 3 mil pessoas. Bin Laden era um fofo se comparado à corja negacionista que ajudou a espalhar a Covid-19 pelo mundo. 

É um erro pregar a violência. Ela é válida apenas em ocasiões especiais da História. Mas nesse caso foi a própria natureza que nos livrou de Olavo. Há suspeitas de que o escritor tenha morrido de Covid-19, doença que ele dizia não existir. É impossível não dar um discreto sorriso com o canto da boca. Somos humanos. 

Que Olavo vá para o esgoto da História

É um erro xingar uma pessoa morta. Os alunos de Olavo de Carvalho vão usar o falecimento para tornar seu mestre um “herói”. “Zoar” a ocasião fúnebre só vai alimentar essa narrativa.  

É um erro xingar uma pessoa morta. Os alunos de Olavo de Carvalho vão usar o falecimento para tornar seu mestre um “herói”. “Zoar” a ocasião fúnebre só vai alimentar essa narrativa.  

Nossa tarefa é desconstruir a idealização em cima do recém-falecido. Olavo de Carvalho foi um escritor medíocre que inventou teorias conspiratórias para se promover. Não passou de um líder de seita que não contribuiu em nada para o pensamento humano. 

Os seguidores do “filósofo” são apenas pessoas que querem enfeitar seus preconceitos machistas, racistas e homofóbicos com palavras bonitas. Olavo de Carvalho merece ser varrido para o lixo da história. Sequer merece estar ao lado de pensadores de direita relevantes, como Karl Popper, Roger Scruton ou Milton Friedman. 

É nessa hora que devemos honrar a memória dos nossos, os que realmente merecem estar no Panteão da História. Daqui 50 anos Marielle Franco será lembrada como a vereadora negra que foi assassinada ao enfrentar milicianos. Chico Mendes será homenageado como o seringueiro que morreu ao defender a Amazônia. Paulo Freire será celebrado como o patrono da educação brasileira. Ninguém vai se lembrar de um escritor medíocre que foi guru de uma seita. Eles vivem muito. Os nosso vivem para sempre. 

É um erro demonstrar empatia por fascistas

Não podemos entrar no jogo de provocações e violência dos fascistas. Mas não podemos ter a esperança de uma relação civilizada com eles. Quando um fascista morre, não devemos lamentar

O fascista não é capaz de sentir afetos colaborativos. É alguém que já morreu por dentro. Para preencher o vazio, ele se excita com ódio irracional. Como é um covarde, seus alvos são as mulheres, as LGBTs, os negros e as pessoas que são discriminadas em geral. 

Esse tipo de gente não é capaz de entender a noção de respeito. Se demonstrarmos empatia quando um deles morre, eles vão entender que estamos com medo. Não se trata de “desumanizar” o fascista. O fascista é que se desumanizou por si mesmo. 

Foi um erro que figuras de esquerda mostrassem solidariedade por Bolsonaro quando ele tomou uma facada em 2018. Isto empoderou os fascistas. Fez eles irem para o ofensiva. O correto seria denunciarmos que Bolsonaro foi vítima da violência que ele mesmo pregava. Três dias antes de sofrer um atentado, o então candidato falou em um discurso que iria “fuzilar a petralhada”. A facada de Adélio Bispo foi um crime injustificável. Mas foi Bolsonaro quem provocou primeiro.  

Não podemos entrar no jogo de provocações e violência dos fascistas. Mas não podemos ter a esperança de uma relação civilizada com eles. Quando um fascista morre, não devemos lamentar. Devemos lembrar a pessoa desprezível que ele foi. Devemos lembrar das vidas que ele ajudou a destruir. Deixemos a empatia para os nossos ou para aqueles que, mesmo sendo adversários políticos, merecem respeito. 

Quem foi Olavo de Carvalho

Olavo Luiz Pimentel de Carvalho nasceu em Campinas no ano de 1947. Era filho de um advogado. Não chegou a terminar os estudos, mas, devido aos privilégios familiares, trabalhou na imprensa. Nunca chegou a se destacar como jornalista. Teve uma curta militância no Partido Comunista Brasileiro, de onde saiu com várias mágoas.

Nos anos 70 e 80, Olavo se envolveu com grupos exotéricos. Foi astrólogo e chegou a escrever sobre o assunto. Durante essa fase, conseguiu ganhar experiência em liderar seitas. 

Nos anos 90, começou a escrever sobre política. Não teria saído da irrelevância se a burguesia brasileira não estivesse carente de intelectuais para defender suas ideias. Teve um trabalho intenso na mídia empresarial, como o Diário do Comércio, das associações comerciais do estado de São Paulo. Era assíduo frequentador de debates em entidades patronais. Seu estilo agressivo agradou a parte mais reacionária da elite. 

Passou a ser colunista de jornais como “O Globo” e aparecer em programas de TV. No início dos anos 2000, começou sua carreira como provocador na Internet. Os “alunos” de Olavo já eram conhecidos pela virulência e falta de educação em fóruns virtuais e no Orkut, primeira rede social a ficar popular no Brasil. 

Quando a militância de direita foi às ruas em 2015 pelo impeachment Dilma Rousseff (PT), Olavo de Carvalho já era famoso e tinha vários seguidores. Morava nos Estados Unidos e de lá fazia os seus “cursos de filosofia”. Foi celebrado nos atos contra a “corrupção do PT” e seu prestígio foi para além da bolha das seitas de direita. 

Acabou se aproximando de Bolsonaro, passando a ser chamado de “guru” do ex-capitão do Exército. Quando o miliciano se tornou Presidente, Olavo indicou alguns dos ministros do atual governo, como o primeiro Ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez. Ernesto Araújo, que foi Ministro das Relações Exteriores até março de 2021, também era aluno do “professor Olavo”. 

Seu “pensamento” unia fundamentalismo cristão católico e a ideia de superioridade da “cultura ocidental”, na verdade uma idealização da cultura dos povos brancos europeus. Sua retórica era um misto de desonestidade intelectual com coprofilia. Misturava citações de filósofos gregos com palavrões, sempre remetendo à ânus e fezes. 

 Ele dizia que os movimentos sociais e o setor da burguesia mais alinhada com a centro-direita eram parte de uma conspiração para a instalar uma “religião biônica mundial”. Também dizia que a Pepsi usava células de fetos abortados como adoçante.  Entre suas teorias mais sem fundamento, estava a de que as redações de jornais eram controladas por comunistas que se infiltravam nas instituições seguindo os ensinamos de Antônio Gramsci. Apesar de nenhum valor, sua obra foi verniz ideológico para as teorias conspiratórias da extrema-direita.