Pular para o conteúdo
Colunas

Ainda sobre Olavo de Carvalho e seu programa (para grupos fechados)

Romero Venâncio

Romero Venâncio é Doutor em Filosofia pela Universidade Federal de Pernambuco e professor da Universidade Federal de Sergipe (Departamento de Filosofia e Núcleo de Ciências da Religião). Atua em pesquisas sobre: Marx, Sartre, F. Fanon, Enrique Dussel e o pensamento Decolonial Latino Americano.

No filme “Irmã Pascalina, a serva do Papa”, a freira-protagonista que foi a “eterna” secretária do Papa Pio XII (o mais reacionário dos Papas do Século XX) conta uma breve história interessante no seu encontro com o Papa Pio XI: citou uma frase de Brecht ao Papa, a saber, “primeiro o estômago e depois a moral ” e o Papa lhe perguntou se essa frase não era do comunista e terrível ateu Brecht, a freira disse que sim e que aprendeu com o cardeal Eugênio Pacelli (seria o futuro Papa Pio XII) que devemos conhecer nossos inimigos. A freira e Pacelli sabiam o que diziam e viveram em época que a frase era importante e podia custar vidas, inclusive. Fiz esta introdução para falar de uma das figuras mais nefastas da história do Brasil no Século XX que foi Olavo de Carvalho.

Vi recentemente com paciência e tomando notas, uma longa entrevista de Olavo junto ao também nefasto “brasil paralelo” em mais de três horas no youtube. O titulo: “Entrevista completa do professor Olavo de Carvalho a Brasil Paralelo” no sintomático ano de 2016. Nesta entrevista, o empresário e influenciador nas mídias sociais, Leandro Ruschel, faz questionamentos, acerca de diversos temas, entre os quais: filosofia, política, religião, economia, sociologia, literatura etc.. Quase não tem perguntas. Só Olavo falando com poucos intervenções do Ruschel.

Por que volto a esta enfadonha e repetitiva entrevista do Olavo? a primeira razão é porque continuo acreditando e vendo o quanto boa parte da esquerda brasileira ainda não entendeu esta direita/extrema direita guiada por Olavo e que ainda hoje (2023) se nega a enfrentar categoricamente uma “cultura fascista” que cresce e prospera nas redes digitais e no tecido social brasileiro. Segundo, porque nesta entrevista (longa demais!) podemos ver com razoável nitidez um projeto concreto para a direita brasileira. trata-se de uma “elaboração teórica” para uma “ação concreta”. Todo o tempo o dito “filósofo” torce a realidade para acomodar à sua leitura e indicar um caminho a ser seguido pelas direitas. O que esse “brasil paralelo” entendeu bem e continua dando seguimento e ampliando seu horizonte. só por estas duas razões, já teríamos suficiente justificativa para procurar entender tudo isto e traçar um programa de combate a essa gente (enquanto é tempo!!!).

Estudo a extrema direita católica nas redes digitais desde 2018. E no campo católico brasileiro de direita, o programa de Olavo de Carvalho está consolidado por conta de um número significativo de padres, seminaristas, leigos, alguns bispos que fizeram o trabalho de divulgar e intensificar as ideias do Olavo dentro deste catolicismo. Depois de duas ou três décadas de “formação olavista”, já estamos vendo os frutos podres advindos de seminários, grupos paroquiais, youtubers católicos e grupos católicos em redes digitais e plataformas fechadas. Com este arsenal, tá consolidado e a plenos pulmões um catolicismo de extrema direita militando diariamente. Para justificar minhas afirmações, tenho documentos, textos, gravações de aulas, depoimentos de religiosos católicos, documentários e vários livros que fazem coro com as ideias olavistas e as ampliam cada vez mais.

A quem interessar possa

Neste dezembro próximo no Google Meet vou fazer uma espécie de “react” detalhando uma crítica à entrevista do Olavo de Carvalho a partir do núcleo central dos argumentos do distinto: “distorcer a realidade”. Olavo não mente e sabe o que diz e a quem diz, mas distorce tudo. Absolutamente tudo. Mas sempre com um “propósito prático”. Ele tem uma teleologia histórica distorcida sobre o Brasil.

Em tudo que afirma. Na intervenção que farei vou (tentar) desmontar as bases do argumento olavista. Com isto, não imagino (jamais) tá fazendo algo “revolucionário” ou coisa do gênero. Mas acredito ser importante este enfrentamento na “batalha das ideias”. Acredito mais ainda que isto deveria ser feito como um  grande projeto das esquerdas brasileiras coletivamente. É preciso não deixar que este projeto fascista chegue ao povo e a juventude pobre brasileira das periferias. Caso as grandes periferias brasileira fechem com este projeto e veja nele a sua “salvação”, estamos todos ferrados enquanto esquerda.

Em duas noites de dezembro após as festas natalinas. Nos dias 27 e 28 de dezembro (quarta e quinta) deste 2023 a partir das 19h, no Google Meet. Lançado o convite.