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MUNDO

Vitória popular: Boric presidente do Chile

Raul Devia Ilabaca, de San Antonio, Chile

As eleições presidenciais realizadas no Chile neste 19 de dezembro foram uma vitória popular, ratificaram a decisão de seguir buscando terminar definitivamente com a herança da ditadura, mostraram que o processo aberto em outubro de 2019 segue aberto e que está em disputa o país que queremos para o futuro. Foi uma votação expressiva a favor de Gabriel Boric Font, militante de Convergência Social, que integra a Frente Ampla com os partidos Comunes e Revolução Democrática, em uma aliança eleitoral com o Partido Comunista do Chile, denominada “Apruebo Dignidad”, e que alcançou 55,90% da votação, com mais de 4,6 milhões de votos, derrotando o candidato da extrema direita, do Partido Republicano, José Antonio Kast, da aliança eleitoral “Frente Social Cristã”, que obteve 45% dos votos. Este último sofreu uma forte derrota, ainda que, importante dizer, que a extrema direita siga viva no Congresso Nacional.

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Devemos destacar como um fato histórico a participação de cerca de 55% do cadastro eleitoral, ou mais de 8 milhões de pessoas, junto a outros, como o fato de Boric ser o presidente mais jovem da história, ter sido eleito apesar de chegar em segundo lugar no primeiro turno, e ser o primeiro presidente vindo de Magallanes, a região mais ao sul do planeta e do Chile. São fatos a se destacar, assim como que quem compareceu em massa às urnas neste domingo, repetindo o caminho do plebiscito e da eleição de constituintes, foram as mulheres e os jovens. Nestes segmentos Boric arrasa, com 70% de apoio, e vence em todas as faixas etárias de homens e mulheres até os 70 anos – os que estão nessa faixa etária votaram majoritariamente em Kast.

Também merece destaque a retomada das regiões do Norte do País, onde foi fundamental a doutora Izkia Siches Pastén, surgida no movimento estudantil, e que renunciou à presidência do Colégio Médico do Chile para tornar-se a coordenadora de campanha de Boric no segundo turno, e, sendo mãe há muito pouco tempo, percorreu junto com sua filha de 7 meses milhares de quilômetros desde Arica, onde nasceu, até o Sul do país. Ela sem dúvida se converteu em uma das figuras políticas com maior projeção e perspectivas para o futuro e fará parte do Gabinete do presidente Boric. Sua incorporação foi decisiva para recuperar votos e regiões para o projeto de Apruebo Dignidad e o futuro do Chile.

Uma análise da realidade eleitoral nos leva a olhar as votações do plebiscito de 1988 para recuperar a democracia. Coincidentemente, naquele ano, os percentuais entre um lado e outro, entre o passado e o futuro, como hoje, foram de 55% a 45%. Ou seja, quando as forças políticas se agrupam em prol de objetivos maiores, a votação popular no Chile tende a favor da esquerda.              

Neste momento histórico, deve-se destacar que as forças políticas que se constituíram após a ditadura e governaram o Chile por 30 anos com os quatro últimos períodos alternando entre a Concertación, de Michele Bachelet, e Sebastián Piñera, foram as principais derrotadas nas eleições presidenciais. Não foi assim nas votações para senadores e deputados, nas quais ainda se expressa o passado e o passado deixado pela Constituição pinochetista e ali temos um obstáculo, instransponível para transformações profundas, pois os assentos estão divididos com metade para cada bloco, o que dificulta votar leis de reformas constitucionais que requerem o famoso quórum de 2/3, uma amarra ditatorial que ainda prevalece no Congresso.

Com tudo isso, sem dúvida que a expressão popular nestas eleições preferiu seguir a rota aberta em outubro de 2019, que buscou o melhor da Revolução dos Pinguins de 2006, do movimento estudantil de 2011 e as sucessivas manifestações territoriais e setoriais por saúde e educação, por aposentadoria, pelo fim das AFPs, e as lutas feministas e ambientais. , É por isso, sem dúvida alguma, que se elege um presidente vindo daquelas lutas, mas que não chega só, senão que acompanhado por toda essa geração surgida no calor destas lutas e mobilizações, que são aqueles que vão buscar os sonhos forjados nesta transição tão longa, e que graças à mobilização popular, está forjando uma nova Constituição através da Convenção Constituinte, que recebeu o presidente eleito, Gabriel Boric F., tendo sido emocionante ver o abraço entre a presidenta da Convenção Elisa Loncon, do povo originário mapuche, e o presidente de Magallanes, vindo do extremo Sul do país.

Diante da alegria pelo triunfo alcançado pela mobilização popular contra Ventos e tempestades (falta de ônibus nas ruas), em que os povos do Chile decidiram seguir avançando nas transformações profundas que necessitamos para viver com dignidade e justiça, não há dúvidas que o governo em mãos de Apruebo Dignidad, que a convenção constituinte, trabalhando em sintonia com ele, deverá apoiar-se na mobilização para derrotar a direita que se entrincheira-se agora no Congresso com seus senadores e deputados, como na convenção com seu 20% de eleitos. Esta tarefa é fundamental para avançar, seguir construindo movimento popular, aproveitar a jornada eleitoral vitoriosa para convocar, unir e lutar, para de verdade terminar com a constituição de Pinochet e com seu legado político, que segue presente até o dia de hoje.

Tradução: redação EOL.

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chile / gabriel boric