O dia 23 de setembro é considerado Dia da Visibilidade Bissexual. A data foi uma iniciativa de três ativistas norte-americanas que observaram a invisibilização e o apagamento da identidade bissexual dentro e fora da comunidade LGBT.
Essa realidade impõe um duplo desafio às bissexuais: combater a intolerância e a opressão da cisheteronormatividade, ao mesmo tempo a desconfiança e o “fogo amigo” das próprias pessoas oprimidas.
Historicamente, a luta por visibilidade é central para a comunidade bissexual. A sexualidade das pessoas bissexuais é comumente questionada e tratada de maneira pejorativa, considerada como confusão, engano ou promiscuidade. A não-monossexualidade ainda é vista com desconfiança, mesmo no interior da comunidade LGBTI+, por subverter os padrões binários e os “lugares comuns” de sexualidade e do gênero. A representação de bissexuais na cultura de massa, por exemplo, ainda está longe de ser uma realidade. No começo do ano, o caso de racismo e bifobia explícitos contra o participante do BBB Lucas Penteado, acusado de tentar se promover ao se relacionar com outro homem, foi emblemático da violência sofrida pelas pessoas bissexuais.
Essa realidade impõe um duplo desafio às bissexuais: combater a intolerância e a opressão da cisheteronormatividade, ao mesmo tempo a desconfiança e o “fogo amigo” das próprias pessoas oprimidas. Essa dupla provação desemboca na ausência da sensação de pertencimento à comunidade LGBTI+ e redes de apoio, o que acarreta em altos índices de suicídio e adoecimento mental de pessoas bissexuais.
No Brasil de 2021, essa realidade é ainda mais dura. A repressão sexual e a LGBTIfobia são partes centrais do programa da extrema direita, que ascendeu ao poder em 2018, com Jair Bolsonaro. Não à toa, a ascensão política de Jair se deu na esteira de factoides criados para difamar e atacar as pessoas LGBTI+, como a deturpação do Programa Escola Sem Homofobia (apelidado pela extrema direita de “kit gay”), a invenção da pitoresca “mamadeira erótica” e a agitação em torno do combate à “ideologia de gênero”, supostamente aplicada nas escolas.
Sob o governo de Bolsonaro, a violência LGBTIfóbica recrudesceu, agora como política de governo. No comando do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves pratica uma cruzada contra a liberdade sexual e de gênero, os direitos reprodutivos e as mínimas conquistas civilizatórias em matéria de direitos civis. Logo no primeiro dia do novo governo, o episódio em que foi flagrada dizendo que, a partir daquele momento, “menino veste azul e menina veste rosa” foi a expressão caricata do projeto de uniformização das sexualidades e identidades de gênero. Desde que assumiu, Bolsonaro não abandonou o hábito de atacar seus adversários com ofensas LGBTIfóbicas.
Bolsonaro e a extrema direita têm um projeto claro de inspiração neofascista, baseado na repressão à diversidade humana, sobretudo racial, sexual e de gênero. Seu objetivo é demover todas as conquistas do movimento LGBTI+ dos últimos anos, como as políticas de prevenção às ISTs/AIDS, o casamento igualitário e os tímidos avanços no reconhecimento da identidade de gênero de travestis e pessoas trans. Não restam dúvidas: seu governo é a maior ameaça contra a comunidade bissexual e toda a população LGBTI+ no Brasil. Não existirá uma sociedade livre da bifobia e acolhedora com as pessoas bissexuais enquanto um neofascista permanecer no poder à frente de um projeto de repressão sexual.
A luta do movimento bissexual passa pela conquista de reconhecimento e visibilidade, inclusive diante de outros grupos oprimidos, da superação da norma monossexual e da plena liberdade de afirmação sexual e de gênero. A tarefa mais urgente e imediata é colocar um fim ao governo LGBTIfóbico de Bolsonaro o quanto antes e às ameaças da extrema direita. Nessa luta, a máxima unidade democrática é necessária, tendo o conjunto dos explorados e oprimidos na sua vanguarda.
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