Pular para o conteúdo
MOVIMENTO

Ocupação trans na UNICAMP: não estamos mais sozinhes

Lucas Marques*, de Campinas, SP

Me fiz Lucas na Unicamp nos idos de 2015, o Lucas foi construído, lá no comecinho, fundamentalmente como estudante da Unicamp e militante do movimento estudantil. Nesses anos todos a jornada começou muito solitária, nesse sentido: existiam muito poucas pessoas trans na Unicamp, dava para contar nos dedos de uma mão.

Além da realidade que nos impede de chegar à universidade (há estatísticas que indicam que 72% das pessoas trans não concluíram o ensino médio), temos dois fatores:
1) a universidade é um espaço extremamente excludente, a gente sabe toda a humilhação que passamos no cotidiano para ter nossos nomes respeitados, seja por professores, seja por funcionários, seja pelos próprios sistemas esburacados da universidade que teimam em mostrar nossos nomes mortos, em lugar de nossos verdadeiros nomes, seja pelo sistema de permanência estudantil que não consegue ver nossas especificidades;
2) o próprio movimento estudantil acaba sendo um lugar de intervenção extremamente hostil para as pessoas trans, seja pela sociedade cissexista à qual não consegue fugir, seja pela própria opressão que sofremos – a esquerda tem muita dificuldade de organizar pessoas trans -, seja pela dificuldade para dar centralidade a nossas pautas. Há quem diga que não se deve falar sobre isso para não fortalecer o Bolsonaro, não é mesmo? Não é hora, eles dizem… E quando vai ser a hora?

Hoje não me sinto mais tão só: hoje as pessoas trans da Unicamp ocuparam o campus para dizer que não podemos mais esperar. Eu olho para os lados e vejo muitos de nós, uma das minhas alegrias no retorno presencial foi um amigo ter me chamado para o treino de um time de futebol de pessoas trans masculinas.
Eu não sei mais quantas pessoas trans existem na Unicamp hoje, e isso é o melhor desconhecimento do mundo, nunca pensei que seria tão feliz em não saber algo. Não me sinto mais tão só.
E, por mais que sejamos muitos mais do que já fomos, ainda existem mais pessoas trans no sistema carcerário do que nas universidades, e o Brasil ainda é o país que mais mata travestis e transsexuais no mundo.
Somos mais do que já fomos e estamos nos organizando, já que queremos