Pular para o conteúdo
OPRESSÕES

A Extrema Direita e os Ataques às LGBTIs

Carlos Daniel Gomes Toni, do Núcleo LGBT da Resistência-PSOL

A derrota de Bolsonaro nas últimas eleições presidenciais não significou a derrota da extrema direita e de seu projeto neofascista no Brasil.

Junto com a força eleitoral do bolsonarismo, os novos parlamentos (Federal e Estaduais) eleitos em 2022, foram renovados com um significativo aumento de parlamentares ultraconservadores.

Neste cenário, o maior partido da câmara dos deputados é o PL de Bolsonaro, que conta com 99, dos 513 parlamentares.

Para se ter uma idéia da correlação de forças na Câmara Federal, as bancadas dos partidos PT/PSOL/PCdoB/PV/Rede, somadas alcançam 95 deputados, número inferior ao partido de Bolsonaro, isoladamente.

Esta proporção, em maior ou menor grau, se refletiu também nas Assembleias Legislativas e na Câmara Distrital (DF), em que a extrema direita, com maioria parlamentar, com o argumento de defender Deus, Pátria e Família, passa a atacar os direitos das LGBTIs.

Na ALESP, segundo maior parlamento do Brasil, com 94 deputados, a extrema direita elegeu o ataque às travestis e às transexuais como sua principal pauta.

Em uma manobra apoiada pela base parlamentar do governador Tarcísio, afilhado político de Bolsonaro, a extrema direita criou a CPI do ambulatório de crianças e adolescentes trans do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Sob o argumento de que os corpos das pessoas trans são como animais, que devem ser definidos pelos donos (1), a extrema direita disputa a consciência das massas para que o Estado negue o atendimento de saúde aos corpos trans.

Este ataque é parte da política internacional da extrema direita, que tem imposto o retrocesso em diversos lugares, chegando a criminalizar os profissionais de saúde que prestam este tipo de serviço.

Neste contexto, os ataques às travestis e à transexuais ganharam força nos parlamentos conservadores recém-empossados de todo o país. O ataque aos ambulatórios é mais uma faceta do combate à chamada “ideologia de gênero” tão difundida pela extrema direita no mundo todo.

A centralidade da política da extrema direita também pôde ser observada pelo ataque sofrido por Geraldo Alckmin no programa Morning Show da Jovem Pan, por segurar uma bandeira com a frase “minha criança trans”.

A atuação da extrema direita na CPI transfóbica, que difunde as fakes news de que queremos a mutilação e a transição de crianças inocentes, tenta invisibilizar que muitas travestis e transexuais não chegam à maioridade e que têm expectativa de vida de 35 anos em nosso país.

Importante caracterizarmos que, ao contrário das fake News, o Ambulatório trans não mutila crianças e não faz cirurgias de redesignação sexual. Muito pelo contrário, dá acompanhamento psicológico, social e médico para famílias com crianças trans.

Quando autorizado e acompanhado pela família, faz-se bloqueio hormonal para retardar a puberdade de uma adolescente trans (maios de 16 anos), para que as características físicas do sexo não fiquem marcantes (diminuam a disforia de gênero e aumentem a passabilidade) (2), caso a adolescente, após completar 18 anos, decida transicionar seu gênero.

O tratamento de bloqueio hormonal do ambulatório é o mesmo utilizado largamente em adolescentes cisgênero, com o objetivo de garantir o crescimento (estatura) com a interrupção do ciclo menstrual. Mas, neste caso, os neofascistas não veem o menor problema com o bloqueio hormonal, o que escancara o caráter transfóbico da pauta.

Nós defendemos o incentivo a criação de mais ambulatórios, necessários para que a transexualidade saia da invisibilidade, já que pessoas trans não nascem aos 18 anos (com a maioridade civil). Pelo contrário, muitas vezes morrem antes.

Neste sentido, saudamos o recém-aberto ambulatório trans em Juiz de Fora/MG, fruto da luta das LGBTIs e pautado pela vereadora do PSOL Tallia Sobral naquela cidade.

A atenção da saúde pública (SUS) para crianças e adolescentes trans salva vidas, evita suicídios e, até mesmo, assassinatos. 

O combate aos ataques lgbtfóbicos da extrema direita é essencial num país cuja expectativa de vida de pessoas trans é de somente 35 anos e deve ser lembrada no dia do nosso orgulho, pois defender a vida das LGBT´s é tarefa de todos que lutam por um mundo melhor.

Viva a luta das LGBTs!

Viva Stonewall!

Viva o dia do Nosso Orgulho!

Notas

1 “criança trans é igual a gato vegano: todo mundo sabe quem está fazendo esta escolha é o pai” – Deputado do MBL Guto Zacarias

2 Passabilidade – ter a aparência do gênero social reivindicado. Quanto maior a passabilidade, menor a transfobia.