Segundo o instituto, a economia brasileira cresceu 1,2% no primeiro trimestre de 2021 se compararmos com o trimestre imediatamente anterior (outubro a dezembro de 2020), e 1% se comparado ao mesmo período do ano de 2020.
A primeira explicação para isto é a base comparativa. Lembrando que no primeiro trimestre do ano passado, mesmo pegando pouco mais de duas semanas de pandemia, a economia brasileira já tinha caído 2,2%. Já no segundo trimestre – o primeiro em que a pandemia impactou todo o período, o PIB caiu mais 9,2%. Em termos de tamanho do PIB, agora a economia voltou ao mesmo patamar pré-crise, mas ainda 3,1% abaixo do ponto mais alto da atividade econômica do país, no primeiro trimestre de 2014.
Para as empresas do agro e do minério, tudo vai bem
Segundo ponto, a agropecuária (+5,7%) e a indústria extrativa (+3,2%) são os dois principais fatores a colocarem o PIB para cima. Isto tem a ver com a subida dos preços das commodities. Hoje se discute se estamos, ou não, em um novo super ciclo das commodities. Os índices de commodities Brasil (IC-BR) – Agropecuária e o IC-BR – Metal, índices do Banco Central que medem preços destes dois conjuntos de commodities, mostram que no último ano (comparação de abril de 2021 com abril de 2020) seus preços subiram 55% e 72%, respectivamente. Se compararmos com quatro anos atrás, os aumentos foram de 112% e 139%, respectivamente. Ou seja, no Brasil o grande aumento dos preços da commodities, puxado também pela desvalorização cambial, já é uma realidade. Basta vermos no supermercado quanto que está custando a carne e o óleo de soja ou nos postos de gasolina quanto que está custando a gasolina. Isto faz com que o setor agropecuário e de extração mineral e de petróleo estejam muito bem, apesar da crise.
O setor de serviços e a indústria seguem em crise
Por outro lado, o setor de Serviços (maior empregador do país) e o de Indústria de Transformação, tiveram desempenhos ruins, o primeiro com um crescimento de apenas 0,4% e o segundo com queda de 0,5%. Dois setores importantes que nos revelam que a situação da renda e do emprego continuarão frágeis. O único setor com grande efeito multiplicador que cresce (já há alguns anos vem crescendo, provavelmente por conta da queda da taxa de juros e a migração do capital especulativo para este setor) é o da construção civil (+2,1%).
Os dados destes importantes setores nos ajudam mais a explicar a situação das famílias do que os ligados diretamente às commodities (que tem um efeito multiplicador menor, principalmente por a Petrobras ter deixado de ser uma empresa com grandes investimentos como era até a década passada). Com muita gente desempregada, menor renda e alta inflação, o consumo das famílias caiu 0,1%. Se compararmos com o mesmo período do ano passado, as famílias consumiram 5,7% a menos! Junto a isto, o chamado “consumo do governo” também caiu, – 0,8% comparando com o trimestre anterior e – 5,7% se comparado ao mesmo período do ano passado.
A partir disto enxergamos melhor quem está e quem não está em crise neste país.
E o emprego e a renda?
Agora vamos para outra pesquisa do IBGE, a PNAD Contínua, divulgada também nesta semana.
O Brasil atingiu a maior taxa de desemprego desde que o instituto calcula este índice com a nova metodologia, a partir do ano de 2012. No trimestre de janeiro a março de 2021, havia 14,8 milhões de pessoas desocupadas no Brasil, 880 mil pessoas desempregadas a mais do que no trimestre anterior, e quase 2 milhões de desempregados a mais do que no mesmo trimestre do ano passado.
A taxa composta de subutilização da força de trabalho (percentual de pessoas desocupadas, subocupadas por insuficiência de horas trabalhadas e na força de trabalho potencial em relação a Força de trabalho ampliada) também atingiu o maior número da série histórica. Já a quantidade de pessoas desalentadas (aquelas que já desistiram de buscar emprego) atingiu 6 milhões de brasileiros, 1,2 milhão a mais do que no mesmo período do ano passado.
Por sua vez, a massa de rendimento real habitualmente recebido em todos os trabalhos da população caiu 6,7% em relação ao primeiro trimestre do ano anterior, isto é, os trabalhadores deixaram de receber R$ 15,2 bilhões como pagamento pelo seu trabalho.
A economia não vai bem para a maioria!
Todos estes números são referentes ao mesmo período do resultado do PIB: janeiro, fevereiro e março de 2021. Olhando o resultado do PIB e o resultado da PNAD, é possível dizer que no Brasil de Bolsonaro a economia vai bem?
Com a exceção do agro, dos bancos e de alguns grandes empresários, todo o restante da população está enfrentando o pior momento material de suas vidas. O desemprego, o desalento, a queda da renda e o fechamento dos pequenos negócios são os únicos resultados econômicos que a população está assistindo.
Se depender da economia (da economia de verdade), Bolsonaro está frito.
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