Por: Gibran Jordão, direto de Brasília, DF
Milhares tomaram a esplanada dos ministérios numa das manifestações mais criativas e bonitas que a esquerda brasileira já construiu, pelo menos no século 21. A aliança dos estudantes com os trabalhadores da educação mobilizou gente de todos os cantos desse país continental. A consciência convicta de que é necessário lutar contra o ajuste de Temer é muito lindo de ser ver nesse processo. Uma unidade entre as entidades sindicais e do movimento estudantil se tornou uma grande vitória política, que abriu as possibilidades de acumular forças importantes. Foram em caravana até a capital federal do país apoiados em greves e ocupações.
Concentração no Museu Nacional. De lá, a manifestação que ultrapassou os vinte mil, marchou rumo ao Congresso Nacional. Ao chegar próximo ao espelho d’água, a confusão já se estabeleceu e a polícia não deu qualquer espaço para negociação e prudência. A violência através de bombas, cassetetes, balas de borracha, cavalos, cachorros e helicóptero começou a varrer os manifestantes para longe do Congresso Nacional. Houve resistência, mas a correlação de forças era desfavorável para o movimento.
A agressividade irracional da polícia militar impediu que a manifestação continuasse próxima do Congresso e garantiu que o Senado cheio de corruptos votasse tranquilamente a PEC 55. Com Senadores sob o comando de um presidente que tem dezenas de processos no STF e que já renunciou outra vez para não ser cassado. Renan Calheiros ainda é presidente do Senado, mas o ministro Dias Tofolli pediu vistas de um processo que já tem maioria no STF e impede que um parlamentar réu fique na linha sucessória da Presidência da República. Com isso, Renan não poderia estar presidindo a sessão do Senado que aprovou a PEC 55.
É absolutamente revoltante termos visto estudantes e trabalhadores da educação serem tratados com o mais profundo ódio e desprezo da violência da polícia militar, enquanto a burguesia covarde e corrupta estourava champanhe comemorando a aprovação da PEC 55.
Reflexões para os próximos passos da luta contra Temer
Após a votação em primeiro turno da PEC 55 e depois de um acontecimento tão intenso nos enfrentamentos e conflitos que se deram nesse 29, é muito importante termos a capacidade de refletir e problematizar também nossas próprias ações. Responder uma pergunta é vital para nós: Por que o movimento não está conseguindo derrotar o ajuste de Temer?
As greves da educação federal e as ocupações dos estudantes são históricas, demonstram um nível elevado de consciência e podem ajudar a contaminar o conjunto da classe para processos ainda maiores de luta. Mas, temos que ser honestos com nós mesmos e concluirmos que para derrotar o ajuste de Temer será preciso um processo mais amplo, que possa envolver milhões nas ruas das principais capitais do país e, ou uma greve geral, que atinja os setores estratégicos da produção capitalista. Assim, é um erro grave a recusa das centrais sindicais majoritárias do movimento sindical em não convocar um calendário de lutas unificado que prepare a greve geral para desestabilizar o governo Temer e o Congresso Nacional.
Mas, há também outros erros que o movimento vem cometendo e enfraquecem a unidade entre os trabalhadores. Ainda, ajuda o governo e as forças reacionárias a avançar politicamente sobre o senso comum. Os grupos e ativistas que usam da tática do enfrentamento físico e material como uma estratégia permanente estão também cometendo um erro muito grave, que poderá jogar a opinião publica contra o nosso movimento e sempre quando isso acontece é fatal para a nossa derrota. Todas as táticas são válidas e podem ser utilizadas para que o movimento avance, inclusive a tática do enfrentamento físico e material com as forças do estado. Mas, é um erro infantil transformar essa tática como uma ação permanente sem estudar e construir de forma coletiva o melhor momento de aplicá-la.
Errar e exagerar no momento do enfrentamento pode dar munição para a grande mídia manipular opiniões contra o movimento, facilitando e legitimando a ação da repressão. Não analisar que em toda manifestação há outras gerações de lutadores, muitos pais e mães de família que nem sempre estarão dispostos a colocar a sua vida em risco é falta de sensibilidade democrática em se preocupar com uma construção coletiva. A agressividade contra companheiros do próprio movimento que discordam de suas ideias e propostas também divide e ajuda na nossa dispersão. E, por fim, não descartem que a polícia está infiltrada nos atos para implodi-los. Sendo assim, é preciso levar em consideração esse fator para não ajudarmos as forças de inteligência a terem sucesso.
A manifestação do dia 29 de novembro foi marcada principalmente por um grau estúpido de violência policial. Não há nenhuma dúvida disso. Mas, houve exageros e muito sectarismo de grupos e ativistas. Caso não reverem sua política a tempo, vão ajudar a levar o movimento a derrotas históricas. Precisamos fazer o balanço do porquê o governo Temer e o Congresso estão avançando contra nossos direitos e somente o debate político poderá nos levar a superar nossas debilidades e a mudar a correlação de forças desfavorável na qual nos encontramos. A PEC foi aprovada em primeiro turno e agora precisamos discutir entre nós um calendário que dê continuidade à luta contra o ajuste do governo ilegítimo de Temer. Paz entre nós e guerra aos senhores!
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